O Ministério da Infraestrutura virou uma das “joias da coroa” na mesa de negociações da montagem do novo governo. A superpasta, que reuniu os antigos ministérios do Transportes, Portos e Aviação Civil, é uma das mais cobiçadas por partidos que discutem aderir à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o PSD e o União Brasil. Em 2023, haverá R$ 4,7 bilhões disponíveis para investimentos, atrás apenas da Defesa. As informações são de Eduardo Gonçalves, Manoel Ventura e Jeniffer Gularte, do O Globo.
O interesse não é despropositado. O ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) era um técnico praticamente desconhecido no meio político até assumir a pasta na gestão de Jair Bolsonaro (PL). Ao rodar o país em inaugurações de pontes e pavimentação de rodovias, ganhou do chefe a alcunha de “entregador de obras”. A fama o ajudou a se eleger governador de São Paulo, o maior e mais rico colégio eleitoral do país.
O antigo posto de Tarcísio agora é disputado por nomes de peso da política nacional. Um dos cotados é o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), que tem um padrinho forte, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele ganhou a simpatia de Lula ao se engajar na campanha do petista em Minas Gerais, estado onde a disputa eleitoral com Bolsonaro foi das mais acirradas — o petista venceu no segundo turno com menos de 50 mil votos de margem.
Ex-assessor do gabinete de Pacheco no Senado, Silveira era suplente do ex-senador Antonio Anastasia e assumiu a cadeira em fevereiro, após o titular ganhar uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), mas não conseguiu se reeleger para a próxima legislatura. Ou seja, estará sem mandato a partir de 2023, o que aumenta as mobilizações em torno do seu nome.
Além disso, o senador já foi diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão vinculado à pasta, na gestão de Lula — o mesmo cargo que Tarcísio ocupou na administração da ex-presidente Dilma Rousseff.
Outro parlamentar que se movimenta para assumir a pasta é Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Cabe a ele pautar e ditar o ritmo da tramitação da PEC da Transição na comissão, o que aumentou seu cacife. Alcolumbre e Silveira se reuniram com Lula na semana passada em Brasília, em ocasiões diferentes.
Alguns líderes do PT, no entanto, resistem a fazer concessões a aliados e dizem preferir que esse ministério fique com alguém do partido, dado o potencial eleitoral. Entre os nomes ventilados para o posto estão o do ex-governador da Bahia Rui Costa (PT) e o do senador eleito Wellington Dias (PT-PI) — ambos também aparecem nas rodas de apostas para outras pastas, como Casa Civil e Cidades.
Costa sai na frente por também ter ganhado fama de entregador de obras na Bahia, onde costumava acompanhar no detalhe ações de infraestrutura do seu governo.
Queda de verbas é entrave
O pavio curto e o que integrantes da transição avaliam como uma certa falta de habilidade na articulação política também fazem com que o governador seja apontado como um perfil adequado para assumir uma pasta mais técnica.
Porém, além da indefinição do nome, o novo governo ainda está decidindo se mantém a pasta no formato atual. Uma das opções avaliadas pela equipe de transição é desmembrá-la em três áreas diferentes: transportes, aviação civil e portos, que já chegaram a ser ministérios separados nas gestões petistas.
De toda forma, a estrutura que cuidará da área de infraestrutura de transporte do país será estratégica para o futuro governo. A equipe de Lula planeja retomar obras paradas e montar um programa de novos investimentos públicos.
O problema dessa estratégia é a falta de recursos. O orçamento do Dnit, que cuida da malha rodoviária federal do país, é de apenas um terço do que era em 2014.