sábado 22 de junho de 2024
Foto: Reprodução
Home / DESTAQUE / Ministério da Defesa dá aval à instalação de comissão que incomoda militares
quarta-feira 25 de outubro de 2023 às 15:10h

Ministério da Defesa dá aval à instalação de comissão que incomoda militares

DESTAQUE, NOTÍCIAS


O Ministério da Defesa deu aval à reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que enfrenta resistência das Forças Armadas. Entre as atribuições da comissão estão emitir pareceres sobre indenizações a familiares e mobilizar esforços para localizar os restos mortais das vítimas do regime militar.

O governo Lula já tem pronta desde março uma minuta de decreto com a recriação do grupo, mas até agora não bateu o martelo sobre quando isso ocorrerá.

Durante café da manhã com jornalistas, em abril, Lula disse que tem que “saber o que diz concretamente o decreto” e que só vai assiná-lo se o texto “tiver consistência”.

O Ministério dos Direitos Humanos, que comanda a iniciativa, previa anunciar oficialmente a retomada da comissão nesta quarta-feira, 25 de outubro, data que marca o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, nas instalações do DOI-Codi em São Paulo, em 1975.

De acordo com os planos elaborados pela pasta do ministro Silvio Almeida, hoje seria também a posse dos sete membros do colegiado, que deverá ter a participação de representantes do Ministério Público, da sociedade civil e do próprio Ministério da Defesa.

O parecer favorável do Ministério da Justiça foi enviado à pasta dos Direitos Humanos no início deste mês. A equipe da coluna apurou que, até a tarde desta terça-feira, a pasta de Almeida ainda não havia recebido formalmente o parecer da Defesa. Na prática, a demora travou a instalação do grupo.

Procurado pela equipe da coluna, o Ministério da Defesa informou na noite de ontem que o parecer “está pronto” e que a análise do mérito “apontou que não há impedimentos jurídicos para a reativação do grupo”.

Apesar do parecer favorável, o retorno da comissão preocupa o ministro da Defesa, José Múcio, que vem tentando distensionar as relações do governo Lula com as Forças Armadas, mas avalia reservadamente que o grupo tem potencial para causar ruídos com a caserna.

Segundo relatos obtidos pela coluna, o maior foco de resistência não é exatamente o ministro, mas sim as Forças Armadas, e especialmente o Exército.

Os militares temem que a recriação da comissão manche ainda mais a sua imagem, abalada após a conclusão da CPI do 8 de Janeiro.

O relatório final da CPI recomendou o indiciamento de oito generais e dois ex-comandantes por suposto envolvimento nos atos que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes.

A revisão dos fatos da ditadura costuma provocar irritação entre os militares. Em 2014, durante o governo Dilma Rousseff, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade causou comoção e mal estar entre a petista e as Forças Armadas.

O documento listou 191 mortos e 243 desaparecidos políticos por conta do regime militar e responsabilizou 377 pessoa pela prática de tortura e assassinatos, entre elas todos os presidentes militares do regime, de Castello Branco a João Figueiredo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que interferiu na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos durante seu governo e trocou quatro dos sete integrantes, extinguiu o grupo em dezembro do ano passado, a 15 dias do fim de sua gestão.

O entendimento do Ministério da Justiça é de que “não haverá impactos negativos” com a retomada do grupo, “já que se trata de política que vem sendo implementada desde 1995”.

O parecer da Justiça se refere ao fato de que a comissão foi criada originalmente no governo Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de reconhecer casos de pessoas desaparecidas em função de sua participação política no regime militar.

Se for recriada, o principal objetivo da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos será retomar a identificação de ossadas encontradas na Vala Clandestina de Perus, na zona oeste de São Paulo, local usado pelos militares para esconder o corpo de opositores do regime.

Atualmente, o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Unifesp está com 1.049 caixas com ossadas encontradas na região, descoberta em 1990.

“É uma frustração coletiva e grande, por conta dessa burocratização da reinstalação da comissão. Ao nosso ver, dos familiares, é uma lei (a comissão especial foi criada em lei sancionada em 1995 por FH) que precisa ser cumprida – não tem o que justifica não instalar. Não precisaria de parecer da Defesa”, disse Marta Costta, especialista em Gestão de Projetos e sobrinha de Helenira Resende, militante do PCdoB e integrante da Guerrilha do Araguaia que desapareceu durante a ditadura militar.

“A história não pode ser jogada pra debaixo do tapete. A imagem do Exército vai se desgastar de qualquer maneira, recriando a comissão ou botando-a na gaveta. A memória precisa ser preservada”, afirma Marta.

Procuradas pela equipe da coluna, a Casa Civil e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência não se manifestaram.

Veja também

Prefeitura garante oferta de serviços essenciais para festejos juninos em Salvador

Para oferecer mais conforto aos cidadãos que vão curtir os festejos juninos em Salvador, a …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!