O presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm, afirma que a atividade de mineração sofreu impactos mínimos durante a pandemia do coronavírus. Segundo ele, o patamar do dólar e o mercado internacional ajudaram o setor. “A mineração teve um período muito bom em 2020, porque entrou naquele hall de empresas de funcionamento prioritário. Ou seja, as atividades da mineração não pararam. E teve uma outra coisa: no mercado internacional, os preços das commodities subiram. O preço do dólar subiu também. Então, não parou, o mercado internacional estava bom e o dólar subiu. Ela teve uma larga atividade”, ressalta, em entrevista ao jornal Tribuna.
A CBPM é a empresa de pesquisa e desenvolvimento do Estado da Bahia, indutora destes processos no setor mineral do estado. Sua atuação é centrada na ampliação e aprimoramento do conhecimento geológico do território baiano, na identificação e pesquisa de seus recursos minerais e no fomento ao seu aproveitamento, atraindo, para este fim, a iniciativa privada. “Nós somos uma biblioteca, um poço de informações”, explica Tramm.
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral
Fundada em 18 de dezembro de 1972, a companhia é reconhecidamente uma das mais dinâmicas empresas no cenário da pesquisa mineral no Brasil. O acervo de dados e informações geológicas, geradas e difundidas por ela ao longo da sua trajetória, contribuiu para tornar a Bahia um dos estados brasileiros mais bem estudados e conhecidos geologicamente, pondo em destaque a grande diversidade de seus ambientes geológicos, ricos em depósitos minerais. Através de publicações e edições técnicas, a empresa coloca à disposição dos investidores e pesquisadores as mais avançadas interpretações e análises sobre a geologia e a metalogenia do território baiano, levando ao conhecimento das comunidades geológica e mineral, do país e do exterior, as principais informações geradas pelos seus trabalhos. Ainda segundo o presidente da CBPM, as projeções para 2021 são otimistas. “Se nós temos essa posição de crescimento, a tendência do mercado é se manter nestes níveis de preço. Com o dólar neste nível de preço, a mineração terá um desenvolvimento bom. Há uma esperança que a gente se mantenha, não em níveis de grandes crescimentos, mas manter os níveis que ela está vivendo. A mineração cresce na proporção que ela inova. Quanto mais ela inova, mais ela cresce”, ressalta.
O que é a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral? Que retorno ela traz para o Estado?
Tramm – A CBPM é uma empresa, que tem 47 anos, de pesquisa mineral. O que é pesquisa mineral? É identificar onde tem minério para fazer negócio. Não é uma empresa de mineração. Só faz o processo inicial, que é ver onde tem minério para licitar essas áreas para os interessados que têm condição. O investimento para montar uma empresa de mineração é muito elevado. E o Estado é um péssimo patrão para tocar esse tipo de negócio. Ela só faz a pesquisa e depois faz a licitação da área. Alguém entra, conclui a pesquisa e, se der certo, vai fazer a implantação da área para produzir mineral. Agora, a importância disso tudo é que a CBPM, nesses quase 50 anos, realizou as mais diversas pesquisas sobre o nosso subsolo. Nós somos uma biblioteca, um poço de informações. Inclusive, temos levantamentos que vendemos para terceiros. A gente vai fazendo. Por exemplo: você tem uma grande empresa aqui no Brasil que é a Níquel. Ela é uma empresa em que a área foi pesquisada por nós, licitada, veio um grupo que explorou, mudou de grupo e ela continua sendo uma das maiores empresas do Brasil. Você tem uma outra empresa, como Vanádio, lá de Maracás, que também foi oriunda do trabalho aqui da CBPM. Essa empresa, que é multinacional, está desenvolvendo uma empresa nova em Boston (EUA) que vai pegar esse Vanádio para transformar a produção em bateria para carros elétricos. O ideal é que fosse aqui, mas não tivemos essa sorte.
Qual é a vantagem da atividade da mineração para o Estado em comparação com o agronegócio?
Tramm – A mineração é uma atividade grande, se você comparar com o agronegócio. Mas o agronegócio ocupa uma grande extensão de terra. A mineração não ocupa mais do que 5% ou 10%. O agronegócio gera um fator de faturamento imenso, mas esse dinheiro não fica no local. É das empresas que mandam dinheiro para fora. A semente é comprada de empresas internacionais. O adubo, ou fertilizante, é de empresa internacional. O dinheiro vai embora. O município não fica com o dinheiro.
Qual é o balanço que o senhor faz de 2020 diante dos impactos da pandemia?
Tramm – A mineração teve um período muito bom em 2020, porque entrou naquele hall de empresas de funcionamento prioritário. Ou seja, as atividades da mineração não pararam. E teve uma outra coisa: no mercado internacional, os preços das commodities subiram. O preço do dólar subiu também. Então, não parou, o mercado internacional estava bom e o dólar subiu. Ela teve uma larga atividade. Agora, por outro lado, você não ouviu falar em mortes na área da mineração. Você não tem nenhuma notícia que o pessoal que estava trabalhando morreu, porque as empresas de mineração tomaram providências sérias quanto às medidas sanitárias em 2020. Medida sanitária não é só lavar a mão e usar máscara. [É também] distanciamento e o controle das pessoas. Então, a mineração teve que ser reescalonada desde o transporte do operário e do funcionário; aumentar o efetivo de transporte para permitir um maior isolamento; os restaurantes tiveram que ser aumentados também e ampliados os seus horários para que as pessoas não tivessem ajuntamento. Fico muito alegre que não houve morte no mercado minerário. Isso não quer dizer que não teve doente. Teve doente, mas sem expressão. E não foi só aqui. Se você vai para a mineração em Minas [Gerais] ou no Pará, as empresas mantiveram os seus números porque as medidas sanitárias foram bem fiscalizadas e exercidas por essas empresas. Então, ao mesmo tempo que ela teve a vantagem de não ter o seu horário de trabalho impedido, ela também deu a contrapartida de responsabilidade ao fazer um trabalho de proteção à vida grande.
Como andam as tratativas para a implantação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL)?
Tramm – Uma outra luta que a CBPM teve no ano passado foi a defesa da FIOL. Nós tivemos um papel muito grande, porque é um projeto logístico que está parado ainda. É uma promessa do Governo Federal com mais de 10 anos. A FIOL tem o seu trecho que atende essa parte da mineração, com 80% pronto, parado. O processo estava na mão do Tribunal de Contas há quase três anos e nós fizemos um trabalho muito grande para que o processo entrasse no seu ritmo normal. No final do ano, o processo foi liberado pelo Tribunal de Contas e o ministério já marcou a licitação do trecho para o próximo mês de março. Estamos há quase três anos esperando esse março e agora ele vem. A FIOL é o maior projeto de desenvolvimento para o Estado da Bahia. Ela cruza quase 40 municípios da Bahia: vem de Barreiras até chegar ao Porto Sul, em Ilhéus. Isso vai representar um desenvolvimento. A matéria prima produzida pelo agronegócio, que hoje vem de caminhão pela nossa BR… Imagine o número de acidentes e mortes que serão liquidados, porque passará a vir de trem. Olha a economia que a nação terá. Não é só não poluir, mas economia mesmo. O algodão de São Desidério, que sai de lá e vai para o Porto de Santos, em São Paulo, vai conseguir vir para o Porto de Ilhéus. Com a FIOL, o frete vai ficar em torno de 20% a menos. Com a FIOL, vamos ter entre R$ 400 e R$ 500 milhões em dinheiro novo no Governo da Bahia e nas Prefeituras, porque 60% do imposto CFEM [Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais] fica no Estado. Imagina que desenvolvimento você vai ter nos nossos municípios? Imagine que a CFEM, por exemplo, no município de Jacobina, teve uma arrecadação de quase R$ 25 milhões [R$ 22 milhões]. Esse dinheiro não é produção do comércio local. É um dinheiro extra que a Prefeitura recebe para investir em obras de saneamento, educação… Juazeiro recebeu algo em torno de R$ 12 milhões. Isso é dinheiro que entra na máquina do Governo. Itagibá, que não estava tendo extração, saiu de zero para R$ 8 milhões. Então você imagine, com a FIOL funcionando, o que vai acontecer.
Existem outras questões envolvendo o escoamento dos produtos?
Tramm – Temos outra briga, que é a FCA, que é a estrada de trem que vem de Juazeiro para cá. E tem outro trecho que vem de Jequié, fazendo voltas por aqui. Um outro trecho que vem de Jequié, fazendo volta por aqui. Um pedaço de Camaçari, que vai terminar no Porto de Aratu e que vai para São Paulo. Essa estrada está praticamente sem movimento e a mineração precisa dela para colocar o produto na rua. Com a FCA funcionando direito… Nós temos na zona do norte, algo em torno de 15 a 20 milhões de toneladas para vir para aqui. Mas ela tem um problema: entre Cachoeira e São Félix tem uma ponte que teve problema nas ferragens, que oxidou, e o trem é uma confusão para passar lá. Não passa. Tem anos que foi feito um projeto, houve interdições, mas ninguém apresentou solução. Enquanto isso, a nossa Bahia não chupa cana porque a produção de cana também caiu. Então, a FCA vai ter uma audiência pública agora em que a Bahia precisa se mobilizar para dizer que quer ela funcionando. Essa FCA está na mão desse pessoal há 30 anos. Eles querem renovar por mais 30 sem tomar providências. Então, é preciso que a sociedade baiana, a imprensa, os políticos, as federações de indústria e comércio, as associações de interior se mobilizem para pedir ajuda. Com ela funcionando, será outro movimento de vantagens para a Bahia.
Quantos produtos minerais a Bahia possui atualmente?
Tramm – A Bahia é uma terra muito rica em minério. Nós temos quase 50 produtos minerais: desde a água até o ouro; petróleo; talco. Você sabia que a Bahia tem talco? A Bahia tem uma grande jazida de talco em Brumado. As pessoas precisam tomar conhecimento que a gente não vive sem minério, porque quando você quebra o dedinho e vai fazer uma emenda, é um produto mineral. Quando você quer consertar os dentes e coloca aqueles ferrinhos [aparelho ortodôntico], é minério. O agronegócio, que dizem que é ‘porreta’ e está na Globo, não existe sem o adubo e o fertilizante. Só existem aquelas máquinas fenomenais porque o metal está lá. O seu celular tem mais de 50 produtos minerais. Aquela menina bonita que está enfeitada com pó e batom, é produto mineral. O prédio onde você mora, a fundação dele, é feito com pedra, cimento e ferro. É um produto mineral. O teto do seu prédio onde você mora, o para-raio, é um produto mineral. Então, precisamos nos convencer da valência do produto mineral na vida da gente. A mineração não foi capaz ainda de vender essa grande verdade. Isso precisa ser dito e precisa ser falado.
Quais problemas enfrentados pela atividade de mineração?
Tramm – Claro que ela tem problema, não tem atividade sem problema. Mas são problemas que você pode resolver. Ela faz o buraco, mas tem a obrigação de, quando acabar a jazida, recompor. Então, é preciso que a sociedade cobre isso, mas que saiba também dos seus deveres e direitos. É por isso que temos uma democracia, para você exercer deveres e direitos.
Quais são as expectativas para esse ano de 2021 em termos de pesquisa e desenvolvimento?
Tramm – As economias brasileira e internacional tomaram um solavanco com esse negócio aí [a pandemia]. Então, uma economia como a brasileira, que é fraca, o grande potencial de geração de emprego e renda está concentrada em três atividades principais: a mineração, o agronegócio e a economia agrícola e familiar. Sendo que, a mineração e a agrícola familiar, geram emprego. O agronegócio não gera emprego, gera riqueza para o dono do negócio. A mineração distribui mais, é mais parceira. Isso é um fato. Se nós temos essa posição de crescimento, a tendência do mercado é se manter nestes níveis de preço. Com o dólar neste nível de preço, a mineração terá um desenvolvimento bom. Há uma esperança que a gente se mantenha, não em níveis de grandes crescimentos, mas manter os níveis que ela está vivendo. A mineração cresce na proporção que ela inova. Quanto mais ela inova, mais ela cresce.