São 70 anos de existência, com pioneirismo na locação de equipamentos para trabalhos nas alturas, mais precisamente plataformas elevatórias. Uma história de liderança na América Latina regada por muitas conquistas, mas também por adversidades. E, após superar períodos de crise econômica, a Mills deu importante passo no projeto de crescimento ao anunciar, em julho, a compra da Triengel Locadora, especializada em locações de máquinas da linha amarela, como retroescavadeiras e tratores. A proposta da Mills está definida: se tornar uma one stop shop (empresas de múltiplos produtos ou serviços). “Queremos, sim, ter um portfólio de produtos bastante amplificado”, disse à revista IstoÉ Dinheiro Sergio Kariya, CEO da empresa de engenharia. “É para atender às dores do cliente, porque acho que esse é o grande desafio.”
O investimento de R$ 360 milhões incluiu, além da aquisição da Triengel (R$ 134 milhões), a compra de maquinários (R$ 225 milhões) da linha amarela. A ideia é oferecer uma experiência mais completa aos mais de 8 mil clientes da Mills, sem que haja a necessidades de buscar outros fornecedores. E a proposta de diversificação não começou agora. Desde 2014 a empresa tem buscado expandir a atuação. À época, 90% da receita da companhia era proveniente da construção, principalmente da pesada. Hoje, esse número não chega a 40% (37%). “E os outros 63% são provenientes de diversos setores, como mineração, siderurgia, papel e celulose”, disse o executivo.
A mudança de foco foi motivada por questões econômicas e setoriais, como a queda dos negócios no segmento da construção a partir de 2014, situação agravada pela Lava Jato, que atingiu grandes construtoras do País, como Odebrecht (hoje Novonor), OAS (Metha), Queiroz Galvão (Álya) e Andrade Gutierrez. “A gente estava muito exposto às grandes construtoras, e depois da Lava Jato tivemos crise econômica, impeachment da presidente Dilma Rousseff… O Brasil entrou num rumo muito ruim em termos de PIB.” A saída foi buscar a diversificação, ir atrás de outros tipos de clientes. Kariya disse que no pior momento da infraestrutura brasileira esse percentual de receita caiu de 90% para 17%. “Teve uma erosão muito forte no setor, uma desestruturação que culminou na diminuição do segmento. E fomos ampliando em outros.”
63% da receita da Mills vêm de mineração, siderurgia e outras. a construção tem 37%
A grande transformação da líder Mills ocorreu a partir de 2019, após a fusão com a Solaris, segunda colocada no mercado de locação de plataformas elevatórias. Teve início todo o processo de integração das companhias, e mesmo com a contração de Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, sob efeito da pandemia, a empresa cresceu e expandiu o resultado. O Ebitda (lucro antes dos juros e tributos) cresceu 30% na comparação ao ano anterior.
A integração do novo mercado ao portfólio tem justificativa. O segmento de rental leves (plataformas elevatórias, por exemplo), do qual a Mills é líder com quase 30% de participação, movimentou R$ 3 bilhões no ano passado. “Continuamos no foco de aumentar a penetração, quebrar paradigmas, ampliar esse mercado, ganhar mais market share”, disse o presidente. Já a entrada na linha amarela traz um mercado nove vezes maior. “Ele rodou quase R$ 27 bilhões de locação de equipamentos e o principal player tem 3%, 3,5%. É muito pulverizado”, afirmou. Outra vantagem do novo segmento é a recorrência de caixa. O negócio de plataformas elevatórias tem muito giro, com média de contratos de oito meses, enquanto o mercado de linha amarela proporciona vínculos mais longos. “A Triengel traz contratos de quatro anos, o que nos permite ter mais previsibilidade de receita.”
A expectativa de crescimento dos negócios nos mercados de leves e pesados vem de investimento em infraestrutura previstos para a partir de 2023. “Temos R$ 800 bilhões que foram licitados/leiloados nos últimos anos, investimentos que vão começar a partir do ano que vem.” Para o executivo, há espaço de crescimento “independentemente da economia.”
O posicionamento adotado pela Mills faz parte da estratégia de crescimento anunciada em novembro do ano passado. As medidas envolvem crescimento inorgânico por meio de fusões e aquisições (M&A), investimentos na expansão da frota e novas soluções para os clientes. Nos últimos 14 meses foram investidos quase R$ 1 bilhão, em aquisição de empresas e na compra de ativos. “Adquirimos cinco empresas e investimos cerca de R$ 200 milhões nelas. E continuamos superatentos às oportunidades de aquisição e consolidação do setor”, afirmou Kariya. O movimento inclui ainda a abertura de filiais. A companhia pretende fechar 2022 com ao menos 50 endereços – são 44 no momento, que atendem 1,4 mil cidades com um total de 1,8 mil funcionários. Ganhando altura e volume.