Marcela Mattos, da revista Veja desta semana, mostra que a Polícia Federal e o Exército têm enfrentado uma disputa de poder, recheada de intrigas e suspeitas, nestes primeiros sete meses de governo Lula.
Um dos pontos de desgaste recai sobre uma “coincidência” envolvendo as investigações da PF. Com uma série de oficiais da ativa e da reserva na mira de apurações, militares do Exército têm reclamado que as ações costumam acontecer justamente em momentos em que haveria gestos públicos de aproximação entre as Forças Armadas e o presidente Lula, que desde o 8 de janeiro se diz alvo de uma tentativa de golpe.
Um dos casos citados é a prisão de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Além de a operação, que ocorreu dentro de uma área militar, não ter sido previamente avisada, o que até então costumava ser praxe em casos de potencial desgaste para a força, ela se deu num dia em que estava prevista uma visita de Lula ao Quartel-General do Exército, ato anunciado como uma tentativa de pacificação.
O evento, que contou com uma grande cerimônia de recepção e um almoço com o Alto Comando, acabou sendo ofuscado pela ação da PF naquela manhã. “Deixou a impressão de que quiserem minar esse gesto do presidente com a gente”, diz um general que acompanhou de perto todas as tratativas.
Duas semanas antes, outro episódio que chamou atenção foi o vazamento das imagens do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, dentro do Palácio do Planalto durante o 8 de janeiro. As gravações, que são objeto de investigação e estavam mantidas sob sigilo, vieram à tona justamente no Dia do Exército, quando também estava programado um evento com pompa para receber Lula no QG. Não há, porém, evidências de onde o material tenha saído.
“Ninguém deu o mínimo destaque para o fato de o presidente ter ido ao Exército e que foi um festaço”, lamentou o ministro da Defesa, José Múcio, durante uma conversa com assessores enquanto acompanhava o noticiário.
Na sexta-feira, 11, a PF foi novamente às ruas numa operação contra o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, dando início a mais um capítulo do tensionamento entre as duas instituições. Em nota, o Exército disse que colabora com as investigações em curso e que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”.