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sábado 1 de março de 2025 às 14:13h

Militares brasileiros temem fissura da OTAN após reação de europeus à ação de Trump contra Zelenski

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Não é mais um exagero. A perspectiva de uma ruptura entre a Europa Ocidental e o governo de Donald Trump e o consequente fim, do ponto de vista europeu, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se tornou um cenário real para militares brasileiros. Não se sabe ainda aonde o abandono da Ucrânia à sua própria sorte pelos americanos pode conduzir a aliança atlântica. Mas cartas estão sendo postas na mesa, diz Marcelo Godoy, do Estadão.

Soldado americano durante treinamento com míssil Javelin, em 2016, na Alemanha
Soldado americano durante treinamento com míssil Javelin, em 2016, na Alemanha Foto: U.S. Army

Para os militares brasileiros, a cena da briga de Trump com o líder ucraniano Volodmir Zelenski só reforça a necessidade de um desenvolvimento autônomo da defesa nacional. Em dez dias, parlamentares paulistas devem se reunir na Assembleia Legislativa paulista para criar uma frente para a “colaboração em segurança pública, defesa e desenvolvimento nacional”. A iniciativa é acompanhada pelo Comando Militar do Sudeste.

Há complicações gigantescas quando a política americana procura uma aproximação com Putin. No mesmo dia em que o americano se vingava de Zelenski e jogava no lixo a aliança atlântica, o Exército Brasileiro oficializou a compra de até 222 mísseis Javelin e 33 unidades de tiro ao custo de US$ 74 milhões. Ela demonstraria a dependência do Brasil, bem como de qualquer exército ocidental, da indústria americana.

A aquisição desse equipamento anticarro havia sido confirmada pelo comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, em dezembro de 2024, quase dois anos após o Departamento de Estado dos EUA ter aprovado a venda ao Brasil. Durante esse tempo, o país ainda recebeu uma centena de mísseis Spike LFR2 israelenses e acertou a compra de mais uma centena do míssil brasileiro MAX 1,2 AC, desenvolvido pela Siatt. Parte desse material foi enviado a Roraima para dissuadir qualquer aventura venezuelana na região. Mas tudo isso é quase nada quando se trata de fazer frente a potências extrarregionais.

O 5.º lançamento do míssil antinavio brasileiro Mansup, feito em 2023, a partir d afragata Liberal
O 5.º lançamento do míssil antinavio brasileiro Mansup, feito em 2023, a partir d afragata Liberal  – Foto: Marinha do Brasil

Foi a necessidade de um desenvolvimento autônomo que levou a Marinha ao míssil Mansup, cujas versões com alcance estendido de até 200 quilômetros poderão equipar unidades do Corpo de Fuzileiros com o Sistema Astros para a defesa da costa brasileira. Solução idêntica deve ser adotada pela marinha de Angola. A mesma necessidade levou ao desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro e ao projeto do míssil tático de cruzeiro do Exército, bem como vale para a a disposição da Força Terrestre de obter um sistema de artilharia antiaérea de média altura com a Índia.

A Europa vai também por esse caminho. O movimento do primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, do futuro primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, e do presidente francês, Emmanuel Macron, de consolidar uma aliança militar entre os países além da União Europeia, com o consequente aumento dos gastos em defesa, indica à Europa que seu futuro não poderá mais depender tanto dos EUA. Outros países europeus devem se aliar ao movimento dos três. A Polônia pediu recentemente para fazer parte do consórcio Airbus. Já dois gigantes da indústria de defesa da Europa anunciaram uma parceria: a Rheinmetall alemã e a Leonardo italiana.

Em meio a tudo isso, um outro movimento importante aconteceu nesta sexta-feira enquanto Trump fazia pouco caso de seus aliados históricos. Em Pequim, o secretário do Conselho de segurança russo, Serguei Shoigu, era recebido pelo presidente chinês, Xi Jinping. “Hoje as relações sino-russas de parceria global estratégica estão em um alto nível sem precedentes na nossa história”, afirmou Shoigu, conforme relatado pelo jornal italiano Corriere della Sera. Shoigu encontrou ainda o ministro do exterior chinês, Wang Yi. Ou seja: o movimento de Trump em direção a Putin é uma dádiva a russos e a chineses.

O Leopard 1, principal carro de combate do Exército, durante treinamento no Rio Grande do Sul; Força quer substituir sua frota
O Leopard 1, principal carro de combate do Exército, durante treinamento no Rio Grande do Sul; Força quer substituir sua frota – Foto: Exército Brasileiro

Nesta sexta-feira, quase duas dezenas de líderes europeus se colocaram ao lado de Zelenski. Até Giorgia Meloni, a direitista que governa a Itália, fez um apelo contra a divisão do Ocidente e pediu ainda uma reunião entre UE e EUA. Teme os efeitos para seu futuro político em uma Europa sem os americanos. Diante desses cenários, Trump deveria ter ouvido a advertência de Zelenski antes de implodir seus aliados: “Haverá consequências também para os americanos”. Mas não só. Para os brasileiros também as consequências serão dramáticas e as escolhas, angustiantes.

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