Muito atrás nas primárias republicanas, ex-vice dos EUA aproveita agora os processos contra Trump em favor próprio. Uma relativa surpresa, pois lealdade absoluta marcou Mike Pence durante o mandato – e mais além, diz a imprensa norte americana. Um dos pré-candidatos republicanos mais críticos a Donald Trump passou a ser seu ex-vice, Mike Pence, que agora tenta tirar proveito dos processos judiciais contra o ex-presidente. Desde alguns dias, sua campanha de primárias inclui novas camisetas e bonés de beisebol com a frase “Honesto demais” em letras garrafais vermelhas.
Trata-se de uma referência ao episódio, revelado na acusação, em que Trump repreendeu Pence ao telefone por sua recusa em seguir o esquema de insurrecionista visando derrubar o resultado da eleição presidencial de 2020.
A frase “Você é honesto demais”, dita supostamente em tom de brincadeira, virou slogan para o para o ex-vice, que concorre com Trump nas primárias republicanas para decidir quem será o candidato do partido nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2024.
A decisão de Pence de aproveitar as palavras de Trump marca uma significativa mudança de tom para um candidato geralmente cauteloso que tem lutado para se destacar nas primárias republicanas, dominadas pelo seu ex-chefe.
“Enforquem Mike Pence!” não se esquece
Segundo consulta de intenção de voto publicada na quinta-feira (03/08) pelo website de análise política FiveThirtyEight, com 53,3% Trump está decididamente à frente dos pré-canditados republicanos, seguido de longe por Ron DeSantis (14,3%), Vivek Ramaswamy (6,7%) e Pence (4,9%).
Desde o início do processo judicial – em que, entre outros pontos, Trump é acusado de promover a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021 –, o ex-vice acirrou o tom de suas críticas. Na ocasião, ele era o responsável pela validação do colégio eleitoral perante o Congresso, e negou-se a ceder às pressões de Trump e seus aliados mais empedernidos.
“O povo americano merece saber que o presidente Trump e os seus conselheiros não me pediram só para fazer uma pausa [na validação]. Eles me pediram para não aceitar os votos, para devolver votos. Basicamente, me pediram para anular a eleição”, reforçou Pence numa entrevista à cadeia televisiva Fox News, na quarta-feira.
Quando uma turba violenta invadiu a sede do Congresso americano, interrompendo a sessão e entrando em choque frontal com a polícia, com consequências de bizarras a fatais, ele teve de fugir para salvar a própria vida. Na rua, os trumpistas haviam começado a gritar: “Enforquem Mike Pence!”.
Mike dá mesmo “basta” a Trump?
A surpresa por Pence ser agora tão crítico de Trump deve-se ao fato de, durante seus quatro anos de mandato, ele ter se recusado sistematicamente a criticar seu chefe, apoiando-o em público mesmo nos episódios mais polêmicos, e até indefensáveis, da presidência. Além disso, recusou-se a comparecer perante o comitê que investigou a invasão do Capitólio, criticando o trabalho dos congressistas como “politizado”.
Mas aparentemente seus conselheiros consideraram ser hora de ele se demarcar politicamente em relação a Trump, também denunciando as mentiras do bilionário nova-iorquino. “Acho que esse é o ‘basta’ de Mike Pence, é um ‘Vamos lá!’”, explicou o porta-voz de sua campanha, Devin O’Malley.
Já no lançamento da campanha, Pence atreveu-se a atacar diretamente Trump, afirmando que “alguém que se coloca acima da Constituição nunca deve ser presidente dos Estados Unidos”.
No entanto a estratégia tem o risco de se tornar um problema político, pois as sondagens indicam que a popularidade do ex-presidente continua alta dentro do Partido Republicano. Talvez por isso, logo a seguir Pence desistiu das investidas ao ex-chefe, preferindo enfatizar seu próprio plano econômico e social.
Agora Pence parece ter revertido sua atitude, dando sinais de querer se aproveitar dos vários processos que enfrenta seu ex-chefe e principal adversário nas primárias. Isso parece lhe render benefícios, sobretudo na angariação de fundos. De resto, os casos judiciais de Trump podem se revelar um problema para o partido. Portanto tudo ainda pode acontecer na seleção do republicano que concorrerá à Casa Branca.