Em um evento com padres e freiras católicas que o apoiam, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alertou nesta última segunda-feira (17), na Reuters, que a eventual derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição para o Palácio do Planalto não fará o bolsonarismo desaparecer.
“Vamos ganhar as eleições, vamos derrotar Bolsonaro, mas o bolsonarismo está criado. Depois temos que conscientizar a sociedade para que ela não crie no bolsonarismo uma política definitiva”, disse Lula.
O encontro com padres e feiras foi organizado por grupos da igreja católica que apoiam o ex-presidente, mas o que era para ser um encontro pequeno e fechado acabou crescendo para reunir cerca de 200 religiosos.
Em meio a uma disputa entre Lula e Bolsonaro pelo apelo religioso nesta campanha, o petista tem resistido a atos mais explícitos –recusou-se, por exemplo, a ir a Aparecida e ao Círio de Nazaré, e não quer ir a missas ou cultos– mas tem aceitado visitas de apoio.
“Nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio como parte da sociedade está hoje. Eu tenho lido notícias de padres que são atacados durante a missa porque estão falando de fome, pobreza, democracia”, disse.
Um dos casos aconteceu no feriado de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12, no Santuário de Aparecida, quando o arcebispo da Arquidiocese, Dom Orlando Brandes, falou de fome durante a missa e teria sido vaiado por bolsonaristas, segundo vídeos que circularam nas redes sociais.
Desde então, as redes sociais registram outros xingamentos a padres durante missas, feitos por apoiadores do atual presidente, por discordarem de alguma manifestação dos religiosos.
Lula atribuiu esses casos e um aumento do ódio político a um crescimento de uma “direita raivosa” em todo mundo, citando como exemplo a Itália e a Hungria, e disse e que, no Brasil, a família Bolsonaro é a expressão desse movimento.
“Hoje estamos vendo a direita ganhar espaço em muitos lugares, e uma direita raivosa, que não conhece a palavra democracia, não conhece a palavra respeito”, afirmou.
Estratégia
O encontro com Lula foi organizado por grupos de católicos como o Padres da Caminhada e Padres contra o Fascismo, que na semana passada divulgou um documento com mais de 400 assinaturas em defesa da candidatura petista e em que acusa Bolsonaro de fazer o uso da religião “para meros fins politiqueiros” e “profanar a fé”.
Lula tem uma boa vantagem em relação a Bolsonaro entre eleitores católicos, de 56% a 38%, de acordo com pesquisa Ipec divulgada nesta segunda. Já entre os evangélicos, a vantagem é inversa: 60% para Bolsonaro e 32% para Lula.
Setores evangélicos que têm trabalham na campanha do ex-presidente articulam uma carta para esse setor se comprometendo com temas caros a eles, como a liberdade religiosa e sua posição contrário à ampliação da política de aborto no país.
Lula, no entanto, tem resistido. Parte do grupo que articula a carta chegou a anunciar que o documento seria divulgado por duas vezes, mas ainda não há uma data certa e nem mesmo a garantia de que será feito, de acordo com uma fonte da campanha.