O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil realiza nesta quarta-feira (11) sua última reunião do ano, encerrando o ciclo de liderança de Roberto Campos Neto. Em um momento de incerteza econômica crescente, a decisão a ser anunciada não apenas definirá o rumo da política monetária nos próximos meses, mas também moldará os primeiros passos da futura gestão de Gabriel Galípolo, que assume a presidência do BC em janeiro de 2025.
O cenário segundo Luana Zanobia, da Veja Negócio, é desafiador: pressões inflacionárias, deterioração fiscal e volatilidade cambial colocam à prova a habilidade do Banco Central em controlar a situação.
O Boletim Focus, divulgado nesta semana, agravou as expectativas ao revisar para cima as projeções de inflação e câmbio. A estimativa para o IPCA de 2024 subiu para 5%, ultrapassando o teto da meta de 4,5%. No front cambial, a moeda brasileira deve seguir desvalorizada, com o dólar sendo cotado perto de R$ 6, impulsionado por fatores externos e domésticos que mantêm o real sob pressão.
Nesse contexto, a expectativa inicial era de que o Copom elevasse a Selic em 0,75 ponto percentual, levando a taxa a 12% ao ano. No entanto, a deterioração mais recente das condições econômicas aumentou as apostas por um ajuste mais agressivo. O Itaú, por exemplo, prevê uma alta de 1 ponto percentual, o que colocaria a Selic em 12,25%. Um dos principais motores dessa possível guinada é a aceleração da inflação. O IPCA de novembro subiu para 4,87%, ultrapassando o teto da meta pelo segundo mês consecutivo, sinalizando a necessidade de uma ação mais firme do Banco Central.
Além disso, a economia brasileira tem se mostrado mais robusta do que o esperado, com o PIB do terceiro trimestre surpreendendo positivamente e o mercado de trabalho registrando mínima histórica de desemprego. Esse dinamismo pode pressionar ainda mais a inflação, gerando um descompasso entre o crescimento econômico e a política monetária. “Com a economia se mostrando resiliente e a inflação em alta, esperamos que a Selic possa chegar a 13,50% ao longo de 2025”, avalia o Itaú.
A decisão desta semana também carrega um forte componente político. Diante das dificuldades do governo em avançar com seu ajuste fiscal e com as reformas no Imposto de Renda ainda em debate, o Banco Central emerge como um dos poucos instrumentos disponíveis para manter a estabilidade econômica. A frustração com as medidas do executivo transferiu parte da responsabilidade para o Copom, que precisará reforçar seu compromisso com a meta de inflação e emitir um comunicado claro para restaurar a confiança dos mercados. “O aumento da aversão ao risco, impulsionado tanto por fatores externos quanto pela decepção com o ajuste fiscal, tornou uma postura mais dura do BC inevitável”, comenta Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
O cenário internacional adiciona mais pressão. O estrategista de investimentos da The Hill Capital, Marcelo Bolzan, destaca o impacto das políticas protecionistas dos Estados Unidos e o fortalecimento do dólar no cenário global. “Esses fatores aumentam a pressão sobre o real, exigindo uma resposta mais firme do Banco Central brasileiro.”
Contudo, a elevação da Selic traz custos. O aumento dos juros, embora necessário para conter a inflação, pode esfriar o consumo e o investimento, comprometendo o crescimento econômico. Especialistas, no entanto, defendem a necessidade de uma política monetária rígida. “A alta de juros é um remédio amargo, mas indispensável para ancorar expectativas inflacionárias e melhorar o prêmio de risco do Brasil em comparação com outros mercados emergentes”, explica Idean Alves, especialista em mercado de capitais.
A transição de comando no Banco Central acrescenta uma camada extra de complexidade à decisão de hoje. As escolhas feitas agora moldarão o ambiente para Gabriel Galípolo, que terá de lidar com os efeitos das ações do Copom já no início de sua gestão. O cenário atual exige decisões firmes, tanto para ancorar as expectativas de inflação quanto para mitigar os riscos que se avolumam.
O que está claro é que o ciclo de alta da Selic ainda não terminou. Novos aumentos são esperados para o próximo ano, enquanto o Banco Central luta para equilibrar as pressões internas e externas. A reunião de hoje marca, portanto, não apenas o fim de uma gestão, mas também o início de um novo capítulo na condução da política monetária brasileira, em um momento em que os desafios parecem maiores do que nunca.