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terça-feira 8 de março de 2022 às 06:33h

Megaprojeto cria corredor de exportação, que passa por Minas Gerais

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Minas Gerais, que já concentra a maior malha rodoviária nacional, vai ganhar novo destaque como rota do transporte de cargas por trilhos. Projeto do grupo Petrocity, conglomerado da área logística, cria um complexo ferroviário ligando o Centro-Oeste brasileiro ao porto de São Mateus, no Espírito Santo, que vai cortar 41 municípios mineiros, beneficiando as regiões Noroeste e Norte do estado e os vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce.

O planejamento é atender também à produção mineral e siderúrgica do Vale do Aço. A iniciativa favorece o escoamento de diferentes produtos, em especial grãos e minérios destinados ao mercado internacional. O investimento previsto no empreendimento ferroviário é estimado em R$ 23 bilhões, com a perspectiva de chegar a R$ 30 bilhões, considerando-se as obras de implantação do porto de São Mateus. O complexo será viabilizado pela iniciativa privada, a partir de concessões feitas pela União, por meio do Ministério da Infraestrutura e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O grupo Petrocity mantém negócios nos ramos de energia, ferrovia, porto, navegação e gás. A partir da assinatura dos contratos com o governo federal, a empresa terá 10 anos para conclusão das obras e início da operação da infraestrutura ferroviária. O presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, informou ao Estado de Minas que estão sendo elaborados os projetos de licença ambiental necessários para as obras. O grupo contratou empresas especializadas para elaboração dos projetos de engenharia e os traçados dos trilhos, que terão bitola mista. “Todos os custos estão sendo bancados pelos investidores”, afirmou.   Dentro do megaprojeto, Minas Gerais vai abrigar três trechos do modal de transporte por trilhos. O estado será cortado pela EF 033, a Estrada de Ferro Juscelino Kubitschek, considerada a “espinha dorsal” do complexo ferroviário, que vai ligar Brasília (DF) a São Mateus (ES), com 1.300 quilômetros de extensão.

A Ferrovia JK passará por 30 municípios mineiros, situados nas regiões Noroeste e Norte e nos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce. O projeto prevê a construção de unidades de armazenamento e transbordo de cargas (UTACs), espécies de portos secos, em quatro cidades de Minas situados ao longo do traçado da ferrovia: Unaí (Noroeste), Montes Claros e Grão Mogol (Norte) e Teófilo Otoni (Vale do Mucuri).Nas duas primeiras cidades, já foram realizadas audiências públicas, nas quais o presidente da Petrocity explicou detalhes do megaempreendimento de infraestrutura.

O complexo compreende, ainda, a construção da EF 456, Estrada de Ferro Minas Espírito Santo (EFMES). Inicialmente, a ferrovia ligaria Ipatinga (Vale do Aço) a São Mateus, mas houve uma readequação no seu itinerário. Com o novo traçado, a EFMES vai partir de Ipatinga até Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo, totalizando 200 quilômetros de extensão. A linha férrea percorrerá 11 municípios mineiros das regiões dos vales do Aço e do Rio Doce e o Leste do estado.

Com a alteração no projeto, a EF 456 se conectará com a Estrada de Ferro JK, em Barra de São Francisco. Assim, daquele ponto em diante, a carga que sair da região do Vale do Aço seguirá pelos trilhos até o porto de São Mateus, rumo à exportação. Para garantir o transporte de cargas da região do Centro-Oeste até o porto do litoral capixaba, passando por Minas Gerais, o complexo ferroviário do Grupo Petrocity terá mais dois trechos. Um deles vai ligar Unaí a Campos Verdes (GO), chamado Planalto Central; e o outro seguirá de Corumbá de Goiás e Anápolis, este último dentro do território goiano. O grupo investidor assinou contratos de autorização com o Ministério da Infraestrutura abrangendo a implantação e exploração de 2.100 quilômetros de novos trilhos.

Ipatinga, município polo do Vale do Aço, está entre as 41 cidades mineiras a serem atendidas nos trechos de influência dos trilhos© Comunicação PMI/Divulgação – 9/7/21 Ipatinga, município polo do Vale do Aço, está entre as 41 cidades mineiras a serem atendidas nos trechos de influência dos trilhos

Emprego e renda O novo complexo ferroviário do Centro-Oeste ao litoral do Espírito Santo deve gerar 5 mil empregos durante as obras de construção das linhas férreas. A perspectiva da Petrocity é de criar milhares de outros empregos durante a operação logística, segundo José Roberto Barbosa da Silva, responsável pelo projeto. O executivo detalhou o projeto de infraestrutura logística a ser viabilizado com recursos da iniciativa privada durante as audiências públicas realizadas em Montes Claros, no Norte de Minas, e Unaí, no Noroeste. Previstas como condicionantes dentro dos processos de concessão de exploração de serviços, as reuniões contaram com a presença de autoridades municipais, dirigentes de entidades de classe, empresários, deputados, vereadores e outros representantes da sociedade civil. Segundo José Roberto Silva, o megaprojeto no modal de transporte tem investidores nacionais e estrangeiros e não demandará recursos oriundos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O brasileiro estava acostumado com obras feitas somente com recursos públicos, à base do ‘eu só acredito se tiver dinheiro do governo, do BNDES’. Agora, isso acabou. Hoje, lá fora, tem os fundos. Há os grandes investidores financeiros. Temos bancos nacionais e internacionais que participam de investimentos em infraestrutura a partir do momento em que haja segurança em se investir em projetos que efetivamente apresentam uma segurança no retorno e nos prazos a serem cumpridos”, destacou. O presidente da Petrocity afirmou que a previsão da empresa é concluir todos os projetos de licenciamento ambiental e executivos do megaprojeto ferroviário em cinco anos, para agilizar as obras de construção do empreendimento. O grupo encomendou estudos que apontam que o retorno de todo o montante disponibilizado pelos investidores se dará dentro de 10 anos com os valores a serem cobrados pelo transporte de diferentes tipos de cargas. Entre elas, grãos, fertilizantes, minério, madeira e rochas ornamentais.

Expectativa em Grão Mogol

O complexo ferroviário com previsão de instalação de um terminal de cargas em Grão Mogol, no Norte de Minas, também cria expectativa de emprego e renda. O prefeito Diego Braga (PTB) acredita que o porto seco, para carregamento  e descarregamento de mercadorias, movimentará a região, atraindo empresas. O município de 15,9 mil habitantes foi escolhido para receber o megaprojeto de exploração de minério de ferro da empresa Sul Americana de Metais (SAM), subsidiária da chinesa Honbridge Holdings, sediada em Hong Kong. O chamado Projeto Bloco 8, que está em fase de licenciamento, tem investimento previsto da ordem de US$ 2,1 bilhões, com a expectativa de gerar 6,2 mil postos de trabalho no pico da implantação de 1.100 empregos diretos.

 Portos secos devem atrair empresas

O projeto do complexo ferroviário  que vai ligar o Centro-Oeste brasileiro ao litoral do Espírito Santo leva esperança de novos investimentos, emprego e renda às cidades que serão cortadas pelos trilhos. A expectativa positiva é maior nos municípios que terão as unidades de transbordo e armazenamento de cargas (UTACs). É o caso de Unaí, no Noroeste do estado.  O prefeito do município, José Gomes Branquinho (PSDB), é um dos maiores entusiastas da iniciativa. “Estamos muito otimistas com essa ferrovia, que vai fazer a ligação de Goiás e do Distrito Federal com o Espírito Santo, passando por Minas Gerais.

A ferrovia vai beneficiar muito Unaí, mas vai atender também a toda a região do Noroeste de Minas, encurtando as distâncias. A região vai escoar toda a produção de grãos por meio da ferrovia”, afirma Branquinho.  “Também vamos receber pela linha férrea os fertilizantes (importados) que chegam pelo porto do Espírito Santo”, completou. O prefeito ressalta que a construção da ferrovia vai gerar muitos postos de trabalho no Noroeste do estado. “Quando a rodovia entrar em operação, além da geração de empregos ela vai estimular a produção de grãos cada vez. Vai baixar os custos dos fertilizantes e do transporte de grãos até o Espírito Santo. Automaticamente, vai gerar mais renda para os produtores e para toda a nossa região”, afirma. A criação do porto seco reduzirá o tempo de transporte, otimizando a operação logística, como destacou Gomes Branquinho. “Os caminhoneiros vão deixar de rodar 600 a 1 mil quilômetros de distância e vão passar a se deslocar por 100 ou 200 quilômetros para levar as cargas”, avalia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Unaí é o maior produtor de grãos do estado.  Para o vice-prefeito de Montes Claros, Guilherme Guimarães, a  ferrovia vai atrair novos empreendimentos para a cidade-polo do Norte de Minas, que também terá uma UTAC. “Os custos do transporte serão barateados e as empresas terão mais facilidade para o escoamento dos seus produtos”, afirma. Foi iniciado na cidade o processo de instalação do megadistrito ferroviário, com a previsão de investimentos da ordem de R$ 750 milhões e de gerar 900 empregos. O empreendimento é conduzido pela empresa Confiança Incorporações. (LR)

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