A recente sinalização por parte do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), de que poderia vir a pleitear a vaga de vice em uma chapa de Lula da Silva (PT) à reeleição acirrou uma tensão do MDB com o PSB de Geraldo Alckmin, que atualmente ocupa o cargo. Na quarta-feira, o presidente afirmou que não pode definir agora a chapa para 2026 e que não há um prazo para que isso ocorra. Se, por um lado, isso pode esfriar a disputa, por outro sinaliza que Alckmin não tem necessariamente um lugar cativo.
No MDB, lideranças partidárias têm dito reservadamente que, dado que diretórios importantes do partido no Sul e no Sudeste tendem a se opor a uma nova aliança com Lula, o presidente só garantiria um apoio partidário se o lugar de vice ficasse com um emedebista.
O MDB paulista, o gaúcho e o goiano são hoje os mais resistentes a uma aliança nacional com o PT em 2026. Do outro lado, defendem o apoio a Lula os diretórios da região Nordeste, em especial o de Alagoas (dos Calheiros); e os do Pará (dos Barbalho) e Amazonas (de Eduardo Braga).
Outros cotados
Além do ministro dos Transportes, são citados como possíveis nomes para a vice o governador do Pará, Helder Barbalho, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. Os dois, no entanto, também podem disputar vagas ao Senado. Aliados próximos à ministra do Planejamento afirmam que ela não se vê como favorita ao cargo. Dizem, porém, que uma eventual candidatura de Michelle Bolsonaro à presidência ou à vice poderia fortalecer o nome de Tebet para uma chapa lulista.
Ainda na quarta-feira, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que deixará o cargo neste ano e apoia o prefeito de Recife, João Campos, como sucessor, disse em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” que “a experiência com o MDB inclusive não é das melhores na história” e que achava um erro uma troca de vice. O MDB respondeu com uma nota oficial elevando o tom da disputa. O texto diz que o partido “fez compromisso colaborativo-propositivo com o país” e que “não é biruta de aeroporto”.
“Ao longo de 2016, o PSB mudou de posição e, na última hora, votou a favor do impeachment da Dilma. Até meados de 2018 e 2020, lideranças do PSB agrediam Lula e diziam que ele queria ‘voltar a cena do crime’ para, em 2022, mudar de novo e virar companheiro de chapa ao Planalto”, afirma o texto.
Um aliado do presidente do MDB, Baleia Rossi diz que a nota não tem como objetivo defender uma mudança de vice, mas sim defender o partido de crescentes críticas do PSB.
Siqueira disse ao jornal O Globo, que não que “alimentar essa polêmica” com o MDB.
—Mas temos o direito e o dever de defender a recondução do vice presidente Geraldo Alckmin, caso o presidente Lula seja candidato à reeleição. Isto é unânime no PSB —afirmou.
‘Reação desproporcional’
Siqueira diz que tem “muito respeito” pelo MDB e destacou que os partidos tiveram alianças importantes na eleição municipal de 2024.
— Houve uma reação totalmente desproporcional a um simples comentário. Achei engraçada a reclamação sobre o apoio do PSB ao impeachment, porque o MDB estava claramente na articulação desse movimento e foi o partido diretamente beneficiado— disse Siqueira.
O líder do PSB na Câmara, Pedro Campos (PE), irmão do prefeito de Recife, diz que “é bom saber que outros partidos e políticos começaram a se interessar por fazer parte da chapa”.
— Esse debate será feito ano que vem, mas de antemão entendemos que o melhor para Lula é seguir com Alckmin na vice — disse.
Em reunião ministerial no último dia 21, Lula afirmou que não definiu ainda se vai concorrer à reeleição em 2026, que chegar bem até lá dependia de Deus e que gostaria de ter saúde para fazer o sucessor.
Todos são unânimes em dizer que a saúde do presidente, que tem 79 anos, está em dia e que ele tem adotado uma rotina rigorosa de cuidados pessoais, auxiliado pela primeira-dama Janja. Mas quem convive com Lula no dia a dia do governo reconhece que ele tem se tornado um político menos disponível e, por vezes, mais impaciente em reuniões.