Aliado nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, mas algoz do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o MDB tem feito pressão para ter dois ministérios de peso, além do que deverá ficar com a senadora Simone Tebet (MS). Emedebistas têm como foco assumir pastas com orçamentos robustos e que tenham o que chamam “capacidade de entrega”, como Integração Nacional e Cidades. A primeira terá sob seu controle a Codevasf, estatal responsável por obras milionárias e que no governo Bolsonaro ficou sob o comando de indicados do Centrão, o que pode gerar uma disputa com outros partidos prestes a embarcar no futuro governo. Tebet deseja ser ministra do Desenvolvimento Social, que gere o Bolsa Família, tese que enfrenta resistência do PT. A reportagem é de Jeniffer Gularte, Sergio Roxo, Bruno Góes e Bianca Gomes — Brasília e São Paulo, do O Globo.
Dentro do MDB, as negociações com o governo eleito vêm sendo tocadas pelo governador reeleito do Pará, Helder Barbalho, o senador Renan Calheiros e o presidente da sigla, deputado Baleia Rossi. Barbalho e Calheiros têm mais peso nas discussões por terem obtido vitórias mais expressivas nas eleições. O primeiro, reconduzido ao cargo no primeiro turno, fez no Pará a maior bancada do MDB em 2023, com nove deputados, enquanto Calheiros, além de ser antigo aliado de Lula, elegeu o filho, Renan Filho, senador por Alagoas, e dois deputados federais. Aliado de Tebet nessas conversas, Baleia já teve três encontros com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para a discussão de cenário, o último deles anteontem.
Um jantar ontem na casa do ex-senador e deputado eleito Eunício Oliveira (MDB-CE) reuniu dezenas de integrantes do partido, que se organiza para garantir os espaços desejados: uma pasta para a bancada da Câmara, de 42 deputados, e outra para a do Senado, que tem dez parlamentares, além do ministério de Tebet.
O nome do Senado terá influência direta de Renan Calheiros e o candidato mais forte é Renan Filho. A indicação da Câmara deverá passar pelo aval de Helder Barbalho e poderá sair da bancada emedebista do Pará. O deputado federal José Priante é um dos citados para o Ministério das Cidades, pasta que também está na mira de Márcio França (PSB). A pasta de Minas e Energia, que já foi feudo do partido em governos anteriores, hoje é vista pelos caciques como de “pouca entrega”.
Lula, porém, resiste a entregar três ministérios, e tem medido o risco de não garantir o apoio fechado das bancadas do MDB se produzir descontentes. Por outro lado, se deixar Tebet de fora da Esplanada passará a mensagem de não ter conseguido acomodar uma das suas principais aliadas no segundo turno.
Líderes petistas afirmam que o MDB tem dado trabalho no quebra-cabeça de montagem dos ministérios e veem exagero no pedido de três pastas. O argumento é que na costura por espaço na Esplanada o diálogo tem sido mais fluído com siglas como PSD e União Brasil.
Controle de obras
Um outro foco de atenção do PT é a escolha para a pasta de Integração Nacional, que será desmembrada do Desenvolvimento Regional. Também por controlar a Codesvasf, o ministério é responsável pelas principais políticas contempladas pelo orçamento secreto e interessa diretamente a políticos do Centrão. Parlamentares de PT e PSD se juntaram para exercer poder sobre a indicação. O ideal, segundo eles, seria ter um nome do Nordeste que seja fiel a Lula, e não um aliado de ocasião.
Nas últimas semanas, aumentou o receio, entre petistas, de que Helder Barbalho possa indicar seu irmão, Jader Filho, para comandar a Integração, se ela couber à bancada emedebista da Câmara. A preocupação do PT em ter um fiel aliado no cargo já foi levada a Gleisi e ao próprio Lula. Eles temem que o posto possa servir de ferramenta para “oligarquias e coronéis” e prejudicar a esquerda no Nordeste. Ressaltam que nomeações em governos anteriores do PT, como a de Geddel Vieira Lima e Fernando Bezerra Coelho, ambos emedebistas, acabaram por atrapalhar a expansão da esquerda em vários estados. O União Brasil também se coloca no páreo como interessado na pasta para manter controle de estatais irrigadas pelo orçamento secreto.
Além de contemplar as bancadas partidárias, definir o destino de Tebet virou outro problema. Apesar da pressão do PT, o Desenvolvimento Social não foi descartado, dizem integrantes do partido. Fontes disseram ao GLOBO que a senadora não foi convencida de aceitar outras pastas, mas tem se mostrado aberta a discutir possibilidades como o Meio Ambiente. Ontem, ela fez sua despedida do Senado, onde está encerrando o mandato:
— Despeço-me do Senado, mas não da vida pública. Não sei aonde a vida vai me levar, mas farei política enquanto viver — discursou.