Em busca de consolidar uma base aliada no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou a dois partidos de centro o controle de mais da metade do Orçamento previsto como investimento neste ano. Segundo levantamento publicado por Dimitrius Dantas e Jeniffer Gularte, do O Globo, somados, os ministérios dos Transportes, das Cidades, ambos sob comando do MDB, e o da Integração Nacional, que ficou com o União Brasil, terão R$ 34 bilhões, o que corresponde a 54% da verba disponível na Esplanada. O caixa robusto tem motivado uma intensa disputa de políticos por cargos de segundo e terceiro escalões na estrutura dessas pastas.
As cifras se referem apenas aos valores reservados para investimentos, que, além de obras, incluem aquisição de imóveis, equipamentos e o desenvolvimento de políticas públicas. Não são considerados, por exemplo, dinheiro para o pagamento de salários ou despesas correntes, pois nestes casos o recurso já chega “carimbado”, ou seja, o ministro não pode decidir o destino.
No momento, a maior disputa política ocorre no Ministério da Integração. A pasta é comandada por Waldez Góes, que embora não seja filiado ao União, foi indicado na cota do senador Davi Alcolumbre (União-AP). Com um orçamento de R$ 9 bilhões neste ano, o ministério abriga órgãos cobiçados por políticos por sua capilaridade, como a Codevasf (orçamento de R$ 1,1 bilhão), o Dnocs (R$ 176 milhões) e a Sudeco (R$ 141 milhões).
Na última semana, o jornal O Globo revelou que o governo decidiu manter o comando da Codevasf nas mãos do Centrão, sob influência do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA). Já o Dnocs deverá ficar com o Avante, que, embora nanico (tem 7 deputados), apoiou Lula durante a campanha e tem dirigentes próximos ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
Lira, por sua vez, também trava uma queda de braço com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu adversário político, para emplacar indicações em cinco órgãos federais estratégicos para Alagoas, entre os quais Porto de Maceió, Dnocs, CBTU, Codevasf e INSS. Caberá a Lula escolher entre atender a Calheiros, aliado de longa data, ou ao presidente da Câmara, de quem o Planalto tenta se aproximar para conseguir levar adiante projetos de seu interesse no Legislativo.
Renan foi contemplado com a nomeação do filho, o ex-governador de Alagoas Renan Filho (MDB), como ministro dos Transportes. Além do maior orçamento de investimentos na Esplanada, com R$ 16,9 bilhões, a pasta também abriga o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec, estatal que cuida de ferrovias.
O ministro afirmou ao jornal que, até o momento, teve autonomia para escolher quem ocupará postos-chave da pasta, inclusive o Dnit, cujas obras em rodovias em todo o país concentram praticamente todo o orçamento do ministério. Ele, porém, evita dizer o nome até que a nomeação seja oficializada, numa precaução para evitar “fogo amigo”. No início do governo, Lula havia barrado o preenchimento desses cargos, para que pudessem ser usados na barganha política com outras legendas que ainda tenta atrair para a base.
— Essas trocas (em postos-chave da pasta) ocorreram sem pressa, dialogando com o governo, os estados e levando em conta aptidão técnica — disse o ministro.
De olho nas secretarias
A principal disputa no MDB, porém, está em outra pasta, a das Cidades. O ministro Jader Filho (MDB-PA) trabalha para emplacar Hailton Madureira de Almeida na Secretaria da Habitação, considerada a joia da coroa por ser responsável pelo programa Minha Casa, Minha Vida. A bancada do partido na Câmara, contudo, quer que o cargo seja do ex-deputado Maurício Quintella (MDB-AL).
Além da Secretaria de Habitação, a bancada do MDB na Câmara quer as secretarias de Mobilidade Urbana e Saneamento Ambiental — nesta, o mais cotado é o ex-deputado Leonardo Picciani (MDB-RJ). Reservadamente, deputados afirmam que a escolha dessas três secretarias definirá se a bancada, de 42 parlamentares, estará ou não no governo.