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segunda-feira 30 de maio de 2022 às 09:48h

Marketing do ‘mulher vota em mulher’ tem limitações

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Em uum país com ligeira maioria de mulheres e alta rejeição das eleitoras ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a estratégia da senadora Simone Tebet (MDB) de jogar o foco principal de sua pré-campanha na conquista do voto feminino parece conforme Ricardo Mendonça, do Valor, ter alguma congruência. Mas, conforme consultores e analistas do jornal, tem suas limitações.

Na semana passada, após ser confirmada como pré-candidata pelo MDB, Tebet exaltou o papel das mulheres na política e concluiu seu discurso com o bordão “mulher vota em mulher”, sinalização do mote de sua campanha.

“Não vamos menosprezar a força das mulheres eleitoras que não estão satisfeitas com o Brasil que tem”, disse ela. “O Brasil que tem é o Brasil de quem não acolhe. O Brasil que tem é o Brasil que não protege. É o Brasil que tira o sono das mães porque não sabem onde vão estar seus filhos, se chegam de volta de madrugada, se terão oportunidade de ter uma vaga na creche, na escola, se terão médico no posto de saúde, se terão médicos e exames.”

Na sequência, a senadora afirmou que no passado, no início de sua carreira, tinha dificuldade para convencer mulher a votar em mulher. “Hoje é o processo inverso. Nos últimos oito anos, nós temos visto uma geração de meninas e de jovens mulheres que estão, inclusive, ensinando nós mulheres que temos um pouquinho mais de idade que mulher vota em mulher.”

“Porque mulher que tem sucesso, mulher que se empodera, mulher que tem protagonismo, ela empodera outra mulher. Mulher vota em mulher”, repetiu.

Para o consultor Alessandro Janone, ex-diretor do Datafolha, Simone Tebet, por ser mulher, naturalmente tem representatividade para fazer esse tipo de apelo. Mas a estratégia só vai funcionar se, de fato, o eleitorado feminino reconhecer nela uma defensora efetiva de seus interesses.

“É importante não confundir representatividade com representação”, diz ele. “Se quiser ser bem sucedida nisso, Tebet precisa entender que não basta a representatividade por espelho, ou seja, só ressaltar que é mulher e achar que isso atrairá votos de mulheres. O discurso precisa ser coerente com a prática. Então o que será avaliado é como ela votou como parlamentar, como se posicionou e como irá construir sua comunicação na campanha.”

Janone lembra que as mulheres formam um dos segmentos que mais sofreram com a pandemia, com perda do emprego, queda da renda e necessidade de ampliação da chamada economia do cuidado – a carga extra de trabalho associado à família.

Nesse aspecto, diz, a atuação destacada de Tebet na CPI da Covid pode ser um ativo. “Por outro lado, ter votado pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016, num processo em que uma das marcas foi o machismo explícito, não deve ajudá-la.”

Para o cientista político Andrei Roman, diretor da consultoria Atlas, a estratégia de Tebet é válida para quem oscila entre 1% e 2% nas pesquisas. Mas os marqueteiros da campanha não podem esperar que só isso traga crescimento expressivo, opina.

“O voto identitário é mais comum no campo da esquerda. O público feminino mais aberto para ouvir e se sensibilizar com esse tipo de apelo é o público de esquerda. Mas esse não é bem o campo político dela, uma senadora do Centro-Oeste, filha de político famoso [Ramez Tebet, ex-presidente do Senado], e do MDB. Só isso já mostra a limitação dessa estratégia”, afirma.

Roman concorda com Janone a respeito da necessidade de ir além da representatividade: “Mais do que dizer que é mulher, Simone Tebet precisa demonstrar conteúdo político consistente para poder crescer”.

O cientista político Felipe Nunes, da Quaest, vai na mesma linha. “Voto não é descritivo. É preditivo. Eleitor ou eleitora não vota na demografia do candidato; vota naquilo que o candidato pensa. A síntese é: ‘Quem é o melhor para resolver o meu problema?’”

Tebet deveria trabalhar seus atributos para resolver os problemas das pessoas, diz. “A ideia ‘mulher vota em mulher’, por si só, não vai dar em nada. A maioria do eleitorado é feminino, mas a maioria do Congresso é masculino”.

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