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domingo 13 de janeiro de 2019 às 07:33h

Marinha faz ‘intervenção irregular’ ao pintar Farol da Barra, diz Iphan

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A Marinha brasileira trata o farol da Barra, em Salvador, como se fosse o diamante mais valioso da coroa. Inaugurado em 1698, é o segundo farol mais antigo das Américas -antes dele só havia o farol do antigo Palácio de Friburgo de Recife, de 1642.

É tão importante que está numa lista pré-aprovada pela Unesco, o braço cultural das Nações Unidas, de candidatos a patrimônio da humanidade. Na última semana, porém, a força militar anunciou que havia finalizado uma intervenção no farol. Pintou a inscrição “Marinha do Brasil” no teto do prédio que fica abaixo da torre.

A novidade foi anunciada no perfil da Marinha no Instagram: “Finalizamos a primeira sexta-feira do ano com um dos mais belos cartões postais do Brasil, o farol de Santo Antônio, mais conhecido como farol da Barra”, dizia o texto. “A foto aérea mostra a recente alteração realizada no telhado, que agora sinaliza o nome ‘Marinha do Brasil’.”

Trata-se de uma intervenção irregular, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, porque não foi autorizada pelo órgão federal. Qualquer intervenção em bem tombado precisa ser aprovada após análise de especialistas para avaliar se ela interfere nas características originais da edificação.

Após questionamentos da Folha de S.Paulo ao Iphan, a superintendência do órgão em Salvador enviou na última sexta-feira (11) uma nota técnica à Marinha na qual diz que a pintura terá de ser removida e lembra que qualquer alteração no conjunto arquitetônico precisa ter o aval do órgão.

“O prédio foi tombado sem a inscrição. A pintura no telhado interfere porque altera as características originais da obra. Isso não pode. É simples assim”, diz Luciano Gomes Machado, arquiteto especializado em patrimônio histórico e professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

O farol da Barra foi um dos primeiros bens tombados no Brasil, em 1938, junto com o conjunto arquitetônico de Ouro Preto, em Minas Gerais, e as Missões Jesuíticas Guaranis, no Rio Grande do Sul. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) havia sido criado um ano antes, a partir de uma ideia do escritor modernista Mario de Andrade (1893-1945).

A inscrição no telhado do forte parece um probleminha, mas pode virar um problemaço, diz Victor Hugo Mori, arquiteto do Iphan em São Paulo e um dos maiores especialistas na história dos fortes brasileiros, autor do livro “Arquitetura Militar”, de 2003.

O farol da Barra faz parte de uma estrutura maior, o forte de Santo Antônio da Barra, e ambos estão numa lista de 19 fortificações militares que o governo brasileiro vem tentando transformar em patrimônio da humanidade. No ano passado, a Unesco aceitou discutir a reivindicação brasileira, segundo Mori. Esse processo é uma espécie de pré-tombamento.

O país tem até o ano que vem para enviar novos dossiês sobre as 19 fortificações, um conjunto que vai da fortaleza de Macapá à de Anhatomirim, em Florianópolis (SC). Caso a documentação convença a Unesco, a entidade envia um grupo para analisar as condições dos fortes.

Se a Unesco não aceita pequenos vazamentos de água, imagine o que o órgão diria de uma inscrição no telhado do farol, afirma Mori. Comando diz que vai tomar as medidas que julgar cabíveis

Palavra da Marinha

O comando do 2º Distrito Naval disse em nota que “a Marinha do Brasil está tomando as providências julgadas cabíveis junto aos órgãos competentes” para regularizar a situação do farol.

A força militar diz que não considera a intervenção ilegal: “A Marinha entende que a pintura foi feita em material recentemente instalado, não danificando ou mesmo alterando o patrimônio cultural”.

Ainda segundo a nota, a Marinha administra o forte desde 1939 e “continua imbuída em manter o farol da Barra no mais alto grau de conservação, como tem feito desde então”.

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