Marinha do Brasil recebeu para operação nesta quinta (1º) o S-40 Riachuelo, primeiro submarino da nova série de embarcações do tipo fruto do acordo militar que o país assinou com a França em 2009.
Segundo o cronograma original, o Riachuelo deveria ter entrado em operação em 2017. O atraso, que afeta os outros três submarinos de propulsão convencional do programa, se deve a inconsistências orçamentárias ao longo dos anos e também a desafios inerentes a esse tipo de construção.
A construção dos quatro submarinos de desenho francês baseado no modelo Scorpène, estaleiro, base naval e o desenvolvimento de uma embarcação com propulsão nuclear foi orçada em € 6,5 bilhões, € 7,3 bilhões em valores corrigidos (R$ 37,7 bilhões se fossem desembolsados hoje).
O plano previa o Riachuelo em operação em 2017, seguido pelo Humaitá (2019), o Tonelero (2020) e o Angostura (2022). O segundo submarino foi lançado ao mar em 2020 e está em testes, enquanto os outros estão em produção. Questionada, a Marinha não quis comentar o cronograma, mas especula-se que o último modelo estará em ação talvez em 2025.
Já o submarino de propulsão nuclear, que faz parte de uma novela que começa com o início do programa da Força para dominar o ciclo do combustível radioativo em 1979, tem uma data fantasia de entrada em operação, 2034. Militares acreditam que o fim da próxima década é mais provável.
Não é algo inusual, dada a complexidade do programa e os óbices políticos: está em curso uma negociação com a Agência Internacional de Energia Atômica para normatizar o uso do combustível nuclear no reator.
Nos EUA, que com a Rússia têm a maior frota de modelos nucleares do mundo, a construção de um novo submarino do tipo consome 12 milhões de horas de trabalho e envolve 950 mil componentes. Um Boeing-777, para comparar, demanda 50 mil horas de trabalho e 100 mil componentes.
Isso dito, todo o Prosub (Programa de Submarinos da Marinha) é uma empreitada cara, que custou quase R$ 30 bilhões até o ano passado, em valores corrigidos. De 2020 até 30 de agosto deste ano, segundo dados do sistema de acompanhamento orçamentário do Senado, R$ 3,97 bilhões foram gastos com os modelos convencionais, o nuclear e a infraestrutura associada.
Desse total, o maior dispêndio ocorreu com os modelos de propulsão diesel-elétrica, mais adiantados apesar dos atrasos: R$ 1,5 bilhão. Há preocupações de outra ordem, acerca do custo operacional dos novos submarinos. Na Malásia, que comprou dois Scorpène semelhantes ao brasileiro, o governo desistiu de ampliar sua frota.
O Riachuelo foi lançado ao mar no fim de 2018, e passou por uma longa campanha de testes. Com sua incorporação à frota, o Brasil caminha para ter a mais poderosa força submarina da América do Sul. Com a chegada do novo navio, tem agora seis submarinos -mesmo número do Peru, que opera modelos mais antigos contudo.
Com 70,6 m e deslocando 1.900 toneladas, as embarcações da classe Riachuelo são maiores e mais pesadas que original francês. É uma tradição de incorporação tecnológica da Marinha: a partir de 1982, ela recebeu um modelo alemão IKL-209/1.400 e construiu três outros no Rio, chamados no Brasil de classe Tupi. Depois, conseguiu entregar uma versão mais avançada do tipo, o Tikuna, em 2005.
Em relação ao dispendioso objeto de desejo dos almirantes, o modelo de propulsão nuclear, há uma crítica corrente acerca de seu custo: usando a métrica americana, um modelo convencional sai a 1/3 do preço do nuclear para construir e operar.
A vantagem do modelo nuclear é que ele é uma arma de ataque dissuasória: podendo ficar no mar praticamente o tempo em que tiver suprimentos para a tripulação, ele pode atingir inimigos muito distante de suas bases.
Já os convencionais são mais silenciosos, logo mais difíceis de detectar, embora tenham tempo limitado de submersão: cinco dias, no caso do Riachuelo. Para atacar ameaças mais próximas do litoral, é possível argumentar que uma frota mais ampla com motores diesel-elétricos possa ser mais eficaz do que um único modelo nuclear.