A decisão da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva de ser candidata à Câmara dos Deputados agradou a membros de seu partido, a Rede Sustentabilidade, por reforçar a estratégia política para ampliar a bancada da sigla na Casa, atualmente com dois representantes.
Antes cotada para ser vice de Fernando Haddad (PT) na corrida pelo governo de São Paulo, Marina deve agora encabeçar o projeto de “puxadora de votos” para que o partido tenha mais deputados federais eleitos, além de ter uma “voz forte” na defesa das pautas ambientais, conforme apurou o UOL.
O lançamento da pré-candidatura de Marina Silva ocorrerá oficialmente no próximo sábado (2).
A decisão da ex-ministra ocorreu após semanas de negociações internas. Único senador da Rede no Senado Federal, Randolfe Rodrigues afirma que a resolução levou em conta tanto a estratégia política do partido como a vontade de Marina.
“Foi um conjunto das duas coisas. Era uma decisão pessoal e, também, um projeto de a Rede de ter uma bancada na Câmara. É coerente, e a Marina será uma voz importante”, disse o senador à reportagem.
Na semana passada, Randolfe deu uma declaração descartando a possibilidade de Marina assumir a chapa com Haddad. A ex-ministra respondeu de forma direta, em nota: “A forma como irei dar minha contribuição nas eleições de 2022 ainda está na fase de decisão a ser anunciada por mim em momento oportuno”. O senador nega que haja qualquer resquício de intriga com a colega de partido.
A deputada estadual Marina Helou (Rede) defendeu a candidatura de Marina à Câmara. “O Brasil passa por diversos retrocessos, inclusive na área ambiental; ter o nome de Marina Silva vai ser fundamental”, afirmou.
Helou disse que a decisão também dá sequência à estratégia política do partido. “O entendimento de cláusula de barreira se mantém independente da federação [com o PSOL]. A prioridade da Rede era eleger deputados federais, mas o nome de Marina é maior que estratégia política”.
O nome de Marina para a Câmara foi proposto antes da federação da Rede com o PSOL. O receio do partido era ter problemas com a cláusula de barreira, ficando sem acesso ao dinheiro do fundo partidário, mas a junção por quatro anos afastou essa possibilidade.
No entanto, membros do partido entendem que, mais importante do que não ter dor de cabeça com a cláusula de barreira, é a Rede garantir sua sobrevivência e ter representatividade na Câmara, elegendo deputados da própria sigla. É nisso que Marina pode ajudar.
Fim da novela
O anúncio encerrou a novela de Marina e Haddad, que desejava a ex-ministra como vice em sua chapa na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes neste ano. A ideia chegou a cativar Marina, e membros da Rede afirmaram que essa escolha seria pessoal.
Paralelamente, havia uma discussão em torno da disputa política por espaço na chapa com Haddad. A cadeira de vice do petista é cobiçada pelo PSB e PSOL. Apoiar Marina como vice de Haddad poderia causar problemas entre siglas.
O PSOL chegou a criticar publicamente a possibilidade de Marina ser vice de Haddad. Por estarem em uma federação partidária, políticos do partido teriam poder de barrar o nome da ex-ministra caso ela fosse indicada ao cargo pela Rede. O diretório estadual do PT, por sua vez, não deseja um nome do PSOL para vice na chapa com Haddad.
O ex-prefeito da capital dizia reservadamente que Marina é a “vice dos sonhos”, como noticiou o jornal O Estado de São Paulo. Os dois são amigos, segundo pessoas próximas, e semeiam boas relações desde que trabalharam no mesmo período dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Marina já foi filiada ao PT e ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, e Haddad, ministro da Educação entre 2005 e 2012.
Além da boa relação, pesava a favor de Marina sua projeção política nacional e o fato de ter potencial para cumprir um objetivo crucial da campanha: atrair eleitores de centro. A ideia era receber os votos de pessoas mais resistentes ao PT, principalmente no interior do estado.