Na busca pela virada no segundo turno, a candidata a governadora de Pernambuco Marília Arraes (Solidariedade) busca reforçar a vinculação com a esquerda e ao ex-presidente e candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para superar a adversária, Raquel Lyra (PSDB).
Pesquisas de intenção de voto apontam a ex-prefeita de Caruaru na liderança, com Marília em segundo. No primeiro turno, Marília recebeu 23,97% dos votos válidos, enquanto Raquel obteve 20,58%.
Duas mulheres disputam o governo estadual de forma inédita no segundo turno.
Marília Arraes tem o apoio oficial de Lula, após fazer campanha para o petista no primeiro turno mesmo sem a reciprocidade em âmbito local. O ex-presidente apoiou Danilo Cabral (PSB), que acabou em quarto lugar.
A aliança formal com o ex-presidente é explorada pela campanha de Marília Arraes nas propagandas eleitorais de rádio e televisão. No dia 14, Lula e a candidata fizeram uma caminhada pelas ruas do centro do Recife.
Antes do ato, Lula disse que não conhece Raquel Lyra, mas afirmou que pessoas ligadas a Jair Bolsonaro (PL) apoiam a tucana. O PL não tomou posicionamento no segundo turno. A alegação é que, como Raquel Lyra não apoia Bolsonaro, não há motivo para se aliar à candidata.
“Eu não conheço a adversária da Marília. Não posso falar mal dela uma vírgula porque não a conheço. O que eu sei é que todas as pessoas ligadas ao Bolsonaro foram apoiar ela e não a Marília. É isso que tenho acompanhado”, disse Lula.
No palanque, o ex-presidente conseguiu reunir Marília e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), o que era visto como impossível no meio político local.
Os dois são primos de segundo grau e fizeram disputa acirrada pela Prefeitura do Recife no segundo turno de 2020. À época, Marília estava no PT e João usou o antipetismo como estratégia para vencer o pleito.
O governador Paulo Câmara (PSB), que tem alta rejeição, não declarou oficialmente apoio a Marília Arraes. O partido dele, o PSB, divulgou uma nota sinalizando apoio à candidatura alinhada a Lula no segundo turno em Pernambuco, mas não mencionou Marília, apesar das referências nítidas.
Além de se associar a Lula, Marília atua em outra frente contra a concorrente. Busca associar Raquel Lyra ao presidente, que tem elevada rejeição no estado.
“Só existem dois lados nesta eleição. Ou a pessoa está com Lula ou com Bolsonaro. Não tem isso de ficar em cima do muro não. Não ter lado é oportunismo político”, disse Marília durante comício no domingo (23).
Raquel Lyra adotou postura de neutralidade e diz que não vai declarar o seu voto para presidente. Na primeira rodada, a candidata do PSDB apoiou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
A estratégia de Raquel Lyra é não perder os votos que as pesquisas sinalizam em torno dela dos dois espectros, tanto de eleitores lulistas quanto bolsonaristas.
Ao mesmo tempo, o palanque de Raquel tem se defendido das insinuações de Marília reforçando fotos e eventos com políticos que apoiam Lula, como a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado (PT), coordenadora da campanha do petista no Sertão.
Mesmo com dissidentes, a ala majoritária do PT está com Marília Arraes, incluindo os deputados federais e estaduais eleitos e a senadora eleita Teresa Leitão. O partido apoiou Danilo Cabral no primeiro turno.
“Eleger Marília significa dar uma vitória ao palanque de Lula. Ela é uma candidata que votou num projeto nacional alinhado ao nosso [no primeiro turno]. Divergências a gente trata em outro momento, porque o momento atual é de vencer Bolsonaro”, diz Teresa.
Também pró-Marília no segundo turno, o senador Humberto Costa adotou a linha de vincular Raquel Lyra a adversários de Lula em Pernambuco que estão no entorno da candidata do PSDB.
“Se ela [Raquel] ganhar, quem vai mandar em Pernambuco serão os Krause, os Coelho de Petrolina e Daniel Coelho, pessoas que afundaram o nosso estado no atraso e na pobreza”, afirmou Humberto.
Raquel Lyra já foi filiada ao PSB e declarou, em sabatina à Folha e ao UOL, que já votou em Lula e em Dilma Rousseff. Em 2014, o pai dela, o ex-governador João Lyra Neto, acompanhou o movimento do PSB no segundo turno de apoiar Aécio Neves (PSDB) contra Dilma.
Em 2016, Raquel Lyra e o pai se filiaram ao PSDB com a ficha abonada pelo deputado federal e então senador Aécio Neves (MG).
Um dos focos da campanha de Marília na reta final é reforçar o número 77 vinculado ao Solidariedade, como tem acontecido em debates e entrevistas. O entorno da candidata acredita que ela perdeu votos no primeiro turno por ser associada ao PT, partido ao qual foi filiada por seis anos.
Na primeira etapa da votação, mais de 258 mil pessoas apertaram o número 13 nas urnas no estado, segundo dados da Justiça Eleitoral. A campanha de Marília diz acreditar que poderia ter cinco pontos percentuais a mais, caso esses votos fossem no número do Solidariedade.
Marília Arraes também deseja uma nova agenda com Lula em Pernambuco até sábado, porém, as chances são remotas. O ex-presidente tem concentrado as agendas no Sudeste, diante da disputa acirrada contra Jair Bolsonaro.