Em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, o deputado federal Marcelo Nilo (PSB) demonstra ainda manter esperança para se candidatar ao Senado nas eleições de 2022. O parlamentar disse que espera um convite formal para integrar a chapa majoritária.
O deputado também deixou aberta a possibilidade até mesmo de mudar de lado para disputar uma vaga na Câmara Alta pelo grupo liderado por ACM Neto (DEM). Na semana passada, Nilo se encontrou com Elmar Nascimento (DEM), que deve assumir a presidência do PSL no estado.
Confira trechos do jornal:
Tribuna – Falando sobre a política baiana, o senhor acha que o PSB tem sido prestigiado no governo de Rui Costa?
Marcelo Nilo – O partido tem duas secretarias, que não têm muita capilaridade. São duas secretarias importantes, mas têm capilaridade política: a Secretaria de Ressocialização e a Secretaria de Agricultura. Não é a Secretaria de Infraestrutura, a Secretaria de Recursos Hídricos, a Secretaria de Desenvolvimento Regional, mas quem define o espaço de cada partido é o governador. É ele quem tinta na caneta. Se ele achou que o PSB merece essas duas secretarias, a gente tem que respeitar, não é? Afinal, quem tem tinta na caneta é ele.
Tribuna – Por que outros partidos, como PP e PSD, conseguiram crescer muito? Por que outros partidos da base não tiveram este mesmo êxito?
Marcelo Nilo – O PP e o PSD foram competentes. Tiveram espaço no governo, força no governo. O PSD tem a melhor secretaria do Estado que é a de Infraestrutura, o PP tem três secretarias. Eles receberam muita força do governador, e cresceram muito. No primeiro governo de Wagner, quem teve força política foi Geddel Vieira Lima e Marcelo Nilo. No segundo governo de Wagner, foi Marcelo Nilo e Otto Alencar. Com Rui Costa, foi João Leão e Otto Alencar no primeiro governo, e foi João Leão e Otto Alencar no segundo governo. É uma realidade. Os dois cresceram muito governo Rui Costa porque tiveram espaços. Foram competentes. Tiveram espaços e consequentemente criaram as condições de crescimento. Estão de parabéns os dois partidos.
Tribuna – O governo Rui Costa acertou ao romper com PDT e PL?
Marcelo Nilo – O PL e o PDT que saíram do governo. Não foi o governo que expulsou. O PL e PDT aderiram às forças carlistas da Bahia, passaram para o lado de ACM Neto. Então, não foi o governador que expulsou o PL e PDT. Foi o PL e PDT que tomaram a decisão política de apoiarem Bruno Reis. Então, o fato é o contrário.
Tribuna – O senhor ainda mantém vivo o desejo de integrar a chapa governista na eleição do próximo ano?
Marcelo Nilo – Gostaria muito de estar na chapa majoritária, mas depende muito das circunstâncias. Primeiro, ser convidado. Segundo, o partido escolher. Se nós formos convidados para a chapa de Jaques Wagner, o partido que vai escolher entre Lídice da Mata e Marcelo Nilo. Se for Lídice, eu apoiarei com o maior prazer. Se for Marcelo Nilo, eu tenho certeza de que Lídice apoia. Nós temos uma relação muito fraternal. Mas a decisão é do governador Rui Costa, e do senador Jaques Wagner. Se for convidado, o partido decide. Acho que o partido merece estar na chapa majoritária.
Tribuna – O senhor acredita na possibilidade de ter uma terceira via na Bahia, com o apoio do presidente Jair Bolsonaro? Tem se falado muito na hipótese de o ministro da Cidadania, João Roma, ser postulante ao governo da Bahia.
Marcelo Nilo – Não creio em terceira via no país. Acho que a polarização vai ser entre Lula e Bolsonaro. E, na Bahia, vai ser entre Jaques Wagner e ACM Neto. Eu não acredito em terceira via. Na Bahia dificilmente teremos terceira via. Eu me lembro de Geddel saiu (como postulante de terceira via) e teve uma votação pequena. Lídice da Mata saiu e teve votação pequena. Polarizou entre Wagner e Paulo Souto, e Rui Costa e Paulo Souto. Não creio em terceira via nem no Brasil nem na Bahia.
Tribuna – O senhor acha que o ex-prefeito soteropolitano ACM Neto daria palanque para Jair Bolsonaro na Bahia?
Marcelo Nilo – Olha, o ACM Neto deve ter pesquisas. O apoio de Bolsonaro significa puxá-lo para baixo. O Bolsonaro tem 15% na Bahia. O ACM Neto tem entre 35% e 40%. Quem tem 40% não vai dar palanque a quem tem 14%, porque o que ACM Neto precisa é de alguém que não puxe ele para baixo. Bolsonaro, com certeza, puxará. Eu não creio que ACM Neto aceite participar de palanque com Bolsonaro.
Tribuna – Tem se comentado que o rompimento entre ACM Neto e João Roma foi ensaiado, e que João Roma pode ser vice de ACM Neto. O senhor acredita nesta especulação?
Marcelo Nilo – Política é muito dinâmica. Mas a informação que nós temos é de que ACM Neto está muito magoado com João Roma. Não quero entrar no mérito do problema dos dois. Eu não conheço a relação, o problema. Mas as informações que nós temos é de que ACM Neto está muito magoado. Então, para a próxima eleição, eu não creio que os dois se juntarão.
Tribuna – Ao conversar com o deputado federal Elmar Nascimento, que assumirá a presidência do PSL na Bahia, o senhor abriu uma porta para entrar no grupo de ACM Neto?
Marcelo Nilo – Veja bem. Jaques Wagner me convidou para ser candidato a senador em 2010, eu não quis. Eu preferi ser deputado estadual para ser presidente da Assembleia. Em 2014, quem me convidou foi o ACM Neto para ser senador de Paulo Souto. Ainda me disse assim: “se você tiver dificuldade de apoiar Paulo Souto, o candidato é Geddel”. E eu não quis, agradeci, fiquei feliz de ter sido convidado por um adversário. O que eu disse foi o seguinte. Se o ACM Neto me convidar para ser senador em 2022, eu vou pensar, ouvir a família, ouvir os amigos, ouvir os prefeitos, o partido e tomar a decisão. Fruto dessas palavras minhas surgiram vários boatos. Mas a realidade é que não surgiu convite, não houve conversa. Só não serei indelicado com uma pessoa que me convidar para ser parte da chapa. Quando ele me convidou em 2014, ele me disse “eu vou na sua casa ou você vem na minha”. Eu fui à casa dele, ele me convidou. Se ele me convidar de novo, eu vou pensar. Eu vou tomar a decisão política que for melhor para mim e para a Bahia. Eu tenho que ouvir os meus amigos, os meus eleitores, os meus parceiros, o meu grupo político.
Tribuna – O eleitorado, os prefeitos que apoiam o senhor aceitariam o seu rompimento com o grupo de Rui?
Marcelo Nilo – Eu, graças a Deus, tenho um grupo político que segue minha liderança. São 32 anos aliado dos meus parceiros. A decisão que eu tomar, a maioria esmagadora seguirá. Eu jantei que Jaques Wagner, conversei muito com Jaques Wagner. Uma pessoa que tenho respeito e admiração. E foi uma conversa de dois amigos. Jantamos, conversamos, dialogamos sobre os projetos da Bahia e do Brasil. Política é muito dinâmica. Na realidade, no nosso lado tem mais carlistas do que do lado de lá. O lado de Rui Costa e Wagner hoje tem mais ex-carlistas do que lado do ACM Neto. Se você olhar, são carlistas fortes, poderosos e influentes. Então, esse negócio de carlistas e anticarlista acabou. Porque, do nosso lado, tem mais carlistas do que do lado de lá. Se você olhar, o presidente da Assembleia (Adolfo Menezes), vice-governador (João Leão), senador (Otto Alencar e Angelo Coronel). Não estou fazendo críticas. Estou relatando um fato. A gente tem mais carlistas do que do lado de ACM Neto.
Tribuna – O que foi conversando neste jantar entre o senhor e o senador Jaques Wagner
Marcelo Nilo – Todo político tem um líder. O meu líder é Jaques Wagner. Tenho respeito e admiração profunda por Jaques Wagner. Ele é sedutor, carismático. É uma pessoa que tenho grande admiração. Conversamos por mais de duas horas sobre os problemas da Bahia e do Brasil. E fiquei muito feliz com a conversa com Jaques Wagner.
Tribuna – O senhor acredita que o senador Jaques Wagner chegará forte para disputar o governo da Bahia no próximo ano?
Marcelo Nilo – Se fosse uma eleição separada, como é prefeito e vereador, na minha opinião, o ACM Neto seria favorito. Mas, com a eleição de Lula, acho que inverte e o favorito é Jaques Wagner. O Lula é muito forte na Bahia. Quem ajudou muito o Wagner a ganhar de Paulo Souto em 2006 foi Lula. Quem ajudou Rui Costa a ganhar de Paulo Souto foi Lula. Lula é muito forte. Com a candidatura de Lula, e o ACM Neto não tem um candidato a presidente competitivo, eu acho que o Jaques Wagner é favorito.