Uma nova etapa na política começa a ser desenhada com o julgamento dos ex-candidatos Jair Bolsonar (PL)o e Walter Braga Netto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a partir de quinta-feira (22).
Eles são acusados de crimes de abuso de poder político. Em agosto do ano passado, mobilizaram a estrutura de governo, a televisão estatal e usaram dinheiro público num evento de campanha para difundir informações falsas sobre a votação eletrônica diante de uma plateia de embaixadores estrangeiros.
A condenação é senso comum no Congresso e no Partido Liberal, onde eles estão abrigados. Se confirmada, ambos ficariam inelegíveis por oito anos, ou seja, estariam fora do jogo de todas as eleições previstas até o dia 2 de outubro de 2030.
Sem Bolsonaro no páreo, a tendência é uma redefinição do mapa eleitoral. A começar pelo Rio. Em dezembro, o Partido Liberal planejava levar Bolsonaro à disputa com o prefeito Eduardo Paes (PSD), candidato à reeleição. Havia razão objetiva: o Rio é a base bolsonarista. Ele venceu com 52,6% dos votos nas urnas cariocas em 2022 (Lula teve 47,3%) e em 2018 (Fernando Haddad ficou com 33,65%). Agora, o PL procura alternativa para a disputa com Paes, que segue favorito.
A perspectiva de ausência de Bolsonaro deixa aliados e adversários com novo cenário para as eleições à frente.
O governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, já percebe uma grande reacomodação de forças: “O PL está ocupando uma posição estratégica na centro-direita”. Ele acredita que isso “vai ser decisivo para a eleição de 2024 e um sinalizador para a eleição de 2026”.
Lula perde seu inimigo predileto, a quem dedica uma ácida crítica diária há cinco meses e vinte dias. E vê aumentar a pressão no PT, nos partidos aliados e até de neoaliados do Centrão para se definir sobre a reeleição em 2026.
Sobram candidatos na Esplanada dos Ministérios. O PSB, por exemplo, tem dois: o vice Geraldo Alckmin e o ministro da Justiça Flavio Dino. O MDB preserva Simone Tebet (Planejamento), terceira colocada na eleição passada.
No PT já cresce Fernando Haddad (Economia). Ele está sob fogo cruzado dentro do partido, que tenta interditar a discussão sobre alternativas para 2026 — na hipótese de Lula achar inconveniente completar 37 anos no ofício de candidato à Presidência.
Dias atrás, Lula recebeu Arthur Lira (PP), presidente da Câmara e líder do Centrão, que serviu de esteio parlamentar do governo Bolsonaro. Lira saiu da reunião sugerindo, em público, que Lula anuncie logo se é ou não candidato à reeleição.
A indefinição de Lula, ele argumentou com uma dose de ironia, “gera muitos pré-candidatos dentro do PT e isso não ajuda na administração do governo, porque há uma aparente dificuldade de relacionamento [entre os pré-candidatos a candidato]”.
No governo, alguns viram certo atrevimento numa atitude inusitada de quem está listado como adversário no Palácio do Planalto. Outros, no Congresso, interpretaram como jogo combinado.
A sentença da Justiça Eleitoral está prevista para o final do mês. Confirmada a expectativa, no dia seguinte muda o rumo do governo, dos partidos e de pré-candidatos. E começa a campanha eleitoral de 2024.