Depois de muito refletir, o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, decidiu não mais bater de frente com o presidente Jair Bolsonaro. É por isso que tem aparecido menos nas entrevistas coletivas de fim de tarde. É por isso também que passou a recusar convites para participar de lives de cantores famosos.
Foi aconselhado a proceder assim por ministros militares lotados em gabinetes do Palácio do Planalto que há muito ganhou ares de quartel. O recuo de Mandetta abriu espaço para que Bolsonaro recobrasse o protagonismo político que o cargo confere ao seu ocupante e do qual ele jamais admitiu abrir mão.
De acordo com o colunista Noblat da revista Veja, assim, sem que ninguém lhe faça sombra, Bolsonaro sente-se seguro para passear por onde quiser, dizer o que quiser, sem medo de ser confrontado por Mandetta. Levou-o, ontem, para a inauguração de um hospital de campanha em Goiás. Enquanto confraternizava com seus devotos, Mandetta só observava, calado.
À custa de muita provocação dos jornalistas, o ministro, sopesando as palavras, limitou-se a comentar: “Posso recomendar, não posso viver a vida das pessoas. Pessoas que fazem uma atitude dessas hoje daqui a pouco serão as mesmas que estarão lamentando”. Frisou que não se referia naturalmente ao presidente.
Coube, mais tarde, a Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde, repetir em entrevista o que Mandetta sempre disse desde que começou a falar sobre a ameaça do coronavírus: que o distanciamento social deve ser observado para impedir o colapso do sistema médico. Que a situação deverá agravar-se.
As embaixadas no Brasil da França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Estados Unidos emitiram comunicados onde pedem que seus cidadãos de passagem por aqui retornem imediatamente aos seus países. Por lá, o vírus mata e esfola, mas no Brasil as embaixadas temem que a pandemia possa causar maiores estragos.
Manaus, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo são as cidades que mais preocupam os técnicos do Ministério da Saúde. A contaminação por vírus nesses lugares tem sido maior, bem como o número de mortes. Em razão disso, os hospitais estão quase todos lotados e em breve começarão a recusar pacientes.
Bolsonaro segue se divertindo enquanto isso. Ao desembarcar do helicóptero para a inauguração do hospital de campanha em Goiás, levantou os braços em saudação à multidão que imaginava encontrar. Seu gesto foi filmado e apreciado nas redes sociais. Só que não havia multidão e quase ninguém ali. Era pura encenação.