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segunda-feira 25 de abril de 2022 às 08:45h

Mais velhos são mais conservadores em relação aos jovens, revela pesquisa

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Realizada com 240 pretos e pardos, divididos em 24 grupos focais, uma pesquisa nacional qualitativa, intitulada Raça e Eleições 2022, aponta segundo o jornal Valor, as semelhanças e diferenças de opiniões e preferências políticas que buscam mapear as percepções e sentimentos das duas categorias que, somadas, representam os negros e 56% dos brasileiros. Um dos principais achados da pesquisa é o maior conservadorismo das pessoas pardas mais velhas, acima de 30 anos, em relação aos pardos mais jovens, cuja tendência mais progressista, por sua vez, se aproxima à dos pretos.

A diferença é observada numa série de temas que foram lançados ou suscitados nas discussões, feitas on-line, como a sub-representação dos negros na política e a avaliação sobre as cotas raciais. Sobre a política de ação afirmativa, os pardos maduros mostraram-se mais de duas vezes mais contrários às cotas do que os jovens pardos – o que confirmaria a importância da idade nesse tipo de posicionamento – e mais que os pretos maduros, o que evidenciaria a presença de um efeito racial no conservadorismo, conclui a pesquisa.

“Os pardos mais velhos tendem a aderir, ainda, ao que podemos chamar da ideologia da democracia racial. São mais resistentes à ideia de que para combater a desigualdade racial você tem que de alguma maneira criar políticas que favoreçam os negros. O que explicaria isso é que os mais velhos, de fato, estão presos a um discurso e à narrativa que fala que o racismo no Brasil não é tão importante assim, e que o problema deles é só de classe social”, afirma o cientista político João Feres Júnior, coordenador-geral da pesquisa e do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (Lemep), ligado ao Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj).

Feres Júnior destaca que o efeito maior é o da idade, embora se possa inferir, por meio de dados de outras pesquisas já realizadas, que os pardos tendem a ser menos progressistas dos que os pretos e mais do que os brancos. “Os brancos apoiam mais a direita no Brasil, sendo o Bolsonaro um símbolo da direita no país. Ser branco aumenta a possibilidade de apoiar o presidente em mais de dez pontos em relação aos pretos, que tendem a votar mais à esquerda. E os pardos ficam no meio do caminho. Então, sim, os pardos são mais conservadores [que os pretos]”, afirma o pesquisador, ressaltando que, no agregado, a política de cotas teve mais apoio do que rejeição.

Para ele, a maioria dos que se manifestaram contrariamente foi por interpretar a cota como uma violação do princípio da igualdade. “O princípio da igualdade é o mais forte de todos e apareceu na pesquisa inteira, em todos os grupos. Eu diria que todos defendem a igualdade; só que os que defendem as cotas acham que elas são instrumentos para produzir igualdade, enquanto que os que são críticos acham que ao aplicá-las você estaria cancelando a possibilidade de igualdade”, diz.

Em sua primeira fase, o trabalho realizou entrevistas com 16 grupos de pardos, que representam por volta de 47% da população do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e oito grupos de pretos, que são cerca de 9% dos brasileiros. Além do recorte etário, a pesquisa aferiu o aspecto regional, que apresentou menos variação.

A amostra abarcou oito capitais, de todas as regiões. Em cada capital (São Paulo, Rio, Salvador, Fortaleza, Curitiba, Belém, Cuiabá e Distrito Federal), três grupos homogêneos de dez pessoas cada foram entrevistados, sendo dois de pardos e um de pretos, combinados com dois acima de 30 anos e um até esse limite de idade. Um dado, contudo, sobressaiu. “O Rio é o único lugar em que surge com força a percepção de que a questão de segurança não é um problema de ameaça à propriedade, mas de que a polícia é uma ameaça às comunidades”, afirma.

Nas entrevistas, cuja duração em média foi de 60 a 80 minutos, os participantes apontaram também problemas da vida atual, hábitos de consumo de mídia e se manifestaram sobre o que pensam sobre a representação política. A saúde é o tema que gera maior preocupação entre pardos e pretos, e a principal fonte de informação, sobretudo entre os jovens, são as redes sociais.

Uma das coisas que mais surpreendeu, diz João Feres Júnior, foi a maneira consensual como o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira é visto como algo necessário e que seria uma maneira muito eficaz de combater o racismo e o preconceito racial.

Criada há quase 20 anos, a Lei 10.639/2003 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e tornou obrigatória a inclusão da temática no currículo oficial da rede de ensino. Boa parte dos entrevistados não sabia da existência ou de que a lei não tem sido cumprida. Mas a aceitação à ideia foi praticamente unânime.

“Eu esperava que nessa questão do reconhecimento cultural houvesse mais rejeição, mas foi o contrário. As pessoas têm uma ideia de que a educação, de fato, é uma chave não só para promover, acima de tudo, igualdade de oportunidade, mas para combater o racismo também”, afirma o pesquisador.

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