Mais de 60 pessoas morreram, incluindo 12 crianças, quando um veleiro de madeira que transportava imigrantes se chocou contra rochas na costa Sul da Itália no início deste domingo (26), disseram autoridades.
O navio partiu da Turquia há vários dias com imigrantes do Afeganistão, Irã e vários outros países, e caiu durante uma tempestade perto de Steccato di Cutro, um balneário na costa Leste da Calábria.
O número provisório de mortos foi de 59, disse Manuela Curra, uma autoridade do governo provincial, à Reuters. Oitenta e uma pessoas sobreviveram, com 20 hospitalizadas, incluindo uma pessoa em terapia intensiva, disse ela mas mais de 60 teriam morrido.
Um sobrevivente foi preso por acusações de tráfico de migrantes, disse a polícia alfandegária da Guardia di Finanza.
O prefeito de Cutro, Antonio Ceraso, disse que mulheres e crianças estavam entre os mortos. Os números exatos de quantas crianças morreram ainda não estavam disponíveis.
Com a voz embargada, Ceraso disse ao canal de notícias SkyTG24 que tinha visto “um cenário que você nunca gostaria de ver em sua vida … uma visão horrível … que fica com você por toda a sua vida”.
Os destroços do gulet de madeira, um veleiro turco, estavam espalhados por uma grande extensão da costa.
Curra disse que o navio deixou Izmir, no Leste da Turquia, três ou quatro dias atrás, acrescentando que os sobreviventes disseram que cerca de 140 a 150 pessoas estavam a bordo.
A maioria dos sobreviventes era do Afeganistão, alguns do Paquistão e um casal da Somália, disse ela, acrescentando que identificar a nacionalidade dos mortos foi mais difícil.
“Muitos desses migrantes vieram do Afeganistão e do Irã, fugindo de condições de grande sofrimento”, disse o presidente italiano, Sergio Mattarella.
Relatórios iniciais da ANSA e de outras agências de notícias italianas falavam de 27 corpos encontrados na praia e mais encontrados na água.
Ignazio Mangione, um oficial da Cruz Vermelha Italiana, disse ao SkyTG24 que poucas das crianças que se acredita estarem no barco sobreviveram.
Desembarque de migrantes
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, expressou “profunda tristeza” pelas mortes. Culpando os traficantes de seres humanos, ela prometeu bloquear as saídas marítimas de migrantes para evitar tais desastres.
Seu governo de direita adotou uma linha dura em relação à migração desde que assumiu o cargo em outubro de 2022, principalmente restringindo as atividades de instituições de caridade de resgate de migrantes com novas leis duras que obtiveram a aprovação parlamentar final na quinta-feira (23).
Meloni acusa as instituições de caridade de encorajar os migrantes a fazerem a perigosa viagem marítima para a Itália, agindo como os chamados “fatores de atração”.
As instituições de caridade rejeitam isso, dizendo que os migrantes partem independentemente de haver barcos de resgate nas proximidades.
“Parar, bloquear e dificultar o trabalho de ONGs (organizações não governamentais) terá apenas um efeito: a morte de pessoas vulneráveis deixadas sem ajuda”, publicou no Twitter a organização de resgate de migrantes espanhola Open Arms em reação ao naufrágio deste domingo.
Em comunicado separado, o ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, disse que é essencial interromper as travessias marítimas que, segundo ele, oferecem aos migrantes a “miragem ilusória de uma vida melhor” na Europa, enriquecem os traficantes e causam tais tragédias.
O papa Francisco, filho de imigrantes italianos na Argentina e há muito tempo um defensor dos direitos dos migrantes, disse que está orando por todos os que foram apanhados no naufrágio.
A Itália é um dos principais pontos de desembarque de migrantes que tentam entrar na Europa por mar, com muitos buscando viajar para nações mais ricas do Norte da Europa. A chamada rota do Mediterrâneo Central é conhecida como uma das mais perigosas do mundo.
O Projeto de Migrantes Desaparecidos das Nações Unidas (ONU) registrou mais de 17.000 mortes e desaparecimentos no Mediterrâneo Central desde 2014. Mais de 220 morreram ou desapareceram este ano, estima.