A maior siderúrgica do Chile, Huachipato, anunciou, nesta quarta-feira (7), que voltará a suspender suas operações, devido à impossibilidade de se sustentar financeiramente, apesar das novas tarifas alfandegárias impostas ao aço chinês, que inunda o mercado local.
O governo chileno, que há quatro meses fixou novas tarifas alfandegárias ao aço procedente da China, após uma decisão similar da siderúrgica de suspender as operações, tachou de “irresponsável” a decisão da empresa, que afeta 2.700 trabalhadores de forma direta e até 20.000 se forem contabilizados os empregos indiretos vinculados às suas atividades.
“Nosso apelo como governo é que isso se reverta porque todo o país fez um esforço gigante para que eles tenham as condições para poder desenvolver seu negócio de forma positiva”, disse a jornalistas o ministro da Economia, Nicolás Grau.
A direção de Huachipato assegurou ter tomado a decisão de “suspender indefinidamente” suas operações após “a impossibilidade de transferir para os preços as sobretaxas recomendadas pela Comissão Antidistorções, a intensificação do dumping chinês e a situação financeia complexa que a empresa enfrenta há anos”.
A decisão chega depois que o Ministério da Fazenda fixou impostos provisórios às importações chinesas de barras e bolas de aço, de 24,9% e 33,5%, respectivamente, após reconhecer a existência de dumping (concorrência desleal que consiste em vender abaixo do custo).
Os dois produtos são insumos-chave para a moagem do cobre, cuja produção mundial o Chile lidera.
“Quase quatro meses após a implementação da medida, o comportamento do mercado tornou impossível corrigir os desequilíbrios e transferir aos preços estas tarifas alfandegárias”, explicou a empresa em um comunicado.
A direção de Huachipato concluiu que a aplicação de sobretaxas não será suficiente para gerar mudanças estruturais no mercado que permitam a viabilidade financeira do negócio siderúrgico em sua forma atual.
A suspensão das atividades da siderúrgica será paulatina, até concluir o processo em setembro, informou a empresa.
O aço chinês é negociado a um custo até 40% menor que o produto chileno, segundo estimativas do mercado.
Medida se repete
Fechar Huachipato, do grupo privado CAP, representará um duro golpe para o porto de Talcahuano, 500 km ao sul de Santiago, do qual é o principal sustento e onde cumpre um importante papel social.
“Por mais de 70 anos fomos o principal produtor de aço para a mineração (…) No entanto, neste cenário, a continuidade financeira e a sustentabilidade da nossa operação siderúrgica se torna inviável”, lamentou Julio Bertrand, presidente de Huachipato.
A companhia já tinha deixado em suspenso suas operações em março passado, exigindo a imposição de novas tarifas alfandegárias ao aço chinês, como fizeram vários países no mundo para proteger sua indústria local.
Nas últimas duas décadas, a China escalou sua participação no mercado mundial do aço de 15% para 54%, segundo a Associação Latino-americana do Aço (Alacero).
Na América Latina, as importações registraram em 2023 um crescimento recorde de 44%, superando 10 milhões de toneladas. Há duas décadas, a China exportava apenas 85.000 toneladas de aço. A indústria siderúrgica gera 1,4 milhão de empregos muito especializados e difíceis de reconverter.
A preocupação com o excesso de capacidade da siderurgia chinesa vem aumentando nos últimos anos, diante do menor dinamismo de seu setor de construção, o que libera o produto para a exportação.