A oferta de cargos aos partidos do Centrão pelo presidente Jair Bolsonaro surtiu efeito no Congresso. O sinal mais visível é a mudança de postura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos alvos da estratégia do Planalto. O deputado, até poucos dias um crítico ferrenho da atuação do governo frente à crise do novo coronavírus, passou a medir as palavras e a evitar confrontos, ante o risco de ser isolado por um bloco parlamentar com cerca de 200 votos na Câmara.
No meio político, o recuo do deputado é visto como uma tentativa de se livrar da imagem de principal desafeto de Bolsonaro no Congresso. Seria, primeiro, uma forma de não desagradar o Centrão, que passou a nutrir uma simpatia pelo presidente da República ante a possibilidade de ocupar postos importantes na administração federal. Além disso, Maia também precisa demonstrar isenção frente aos mais de 30 pedidos de impeachment contra Bolsonaro que repousam na Câmara à espera de seu posicionamento.
A mudança de postura de Maia ficou bem clara na quarta-feira, em meio às repercussões do “E daí?”, comentário de Bolsonaro para o aumento exponencial de mortes por Covid-19 no país. Em coletiva de imprensa, o deputado frustrou os que esperavam dele uma crítica contundente à declaração do presidente da República. Além de afirmar que foi uma “frase mal colocada”, o parlamentar duvidou que Bolsonaro estivesse tratando as mortes como algo irrelevante. Na ocasião, disse que a prioridade do país é o combate ao novo coronavírus.
Para o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), o momento exige que o presidente da Câmara atue como um magistrado. “O presidente Rodrigo Maia tem adotado uma postura de equilíbrio, de prudência e serenidade. O país já enfrenta uma grave crise sanitária. Se alimentarmos mais uma crise política aí o cenário será de uma tempestade perfeita”, observa Efraim Filho.
Na avaliação de Renato Ribeiro de Almeida, integrante da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP , Maia tem tido a preocupação de poupar o país de um longo e desgastante processo de impeachment enquanto o desafio do novo coronavírus não for vencido. “Rodrigo Maia, na condição de presidente da Câmara dos Deputados e como o único árbitro para dar início a um eventual processo de impeachment, está sendo prudente em tempos de pandemia. Penso que ele não irá mudar a forma de atuação a menos que o apoio do presidente diminua para níveis dramáticos e não conte mais com o apoio mínimo para barrar um processo de impeachment. Diante da certeza da aprovação de eventual impeachment, Rodrigo Maia adotaria posições mais incisivas. Do contrário, não agravará ainda mais a polarização e crise política”, conclui o docente.