No deserto perto da fronteira com o Paquistão, Gautam Adani, o magnata mais polêmico da Índia, está construindo o maior parque de energias renováveis do mundo, uma aposta com a qual o homem mais rico da Ásia busca consolidar sua fortuna.
Sob o sol escaldante, milhares de trabalhadores instalam painéis solares, escavam a área que abrigará as estações eólicas e desenrolam cabos que alimentarão o sistema.
O parque de energias renováveis terá uma área colossal de 726 km2, equivalente ao tamanho de Nova York.
Segundo os planos, quando o projeto for concluído em 2027, irá gerar 30 gigawatts de energia solar e elétrica: 17 GW para Adani e o restante para outras empresas, o suficiente para abastecer 18 milhões de pessoas.
O parque quer triplicar a capacidade de produção da hidrelétrica das Três Gargantas, a maior do mundo, localizada na China.
Segundo Adani, sua empreitada será “visível do espaço”, diz ele, que por um breve período foi o segundo homem mais rico do mundo em 2022, com uma fortuna de 154 bilhões de dólares (795,3 bilhões de reais na cotação da época).
Entretanto, seus críticos garantem que seu sucesso se deve, em grande parte, ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
A empresa de investimentos americana Hindenburg Research indica que seu conglomerado foi acusado de “manipulação flagrante” de suas ações e de ter sustentado uma fraude contábil por “décadas”. Adani rejeita todas as acusações.
Os valores de seu império caíram mais de 150 bilhões de dólares (738 bilhões de reais), mas o magnata conseguiu recuperar a maior parte. Desde então, o empresário de 61 anos tem investido incansavelmente em projetos de transição energética.
A Índia é o terceiro maior emissor de CO2 do planeta e o governo Modi se posicionou contra o abandono progressivo do carvão.
Um “indiano orgulhoso”
O parque de energia renovável de Khavda é o destaque da Adani Green Energy Limited, na qual a empresa francesa TotalEnergies adquiriu uma participação de 19,7% por 2,5 bilhões de dólares (13,4 bilhões de reais na cotação da época) em 2021.
No porto comercial de Mundra, um dos maiores da Índia gerido pelo império de Adani, é fabricado o material essencial para sua investida no setor das energias renováveis.
“Estamos criando um dos maiores e mais integrados ecossistemas de geração de energia renovável do mundo para a energia solar e eólica”, escreveu o magnata na rede social X, onde se descreve como um “indiano orgulhoso”.
A ambição da Índia é criar 500 gigawatts de capacidade de produção de energia renovável até 2030 para satisfazer metade das suas necessidades.
Para isso, o bilionário afirmou que injetaria cerca de 100 bilhões de dólares (492 bilhões de reais na cotação atual) nesta transição energética.
No entanto, a Índia também planeja aumentar sua capacidade de produção de energia a partir do carvão e não pretende ser neutra em carbono até 2070.
Segundo Ashok Malik, da consultoria Asia Group, o Adani Group possui “ativos muito fortes” e “reflete as ambições, esperanças e estratégia da Índia”.
“Faz muito sentido que uma empresa que está envolvida apenas no setor energético indiano comece a procurar energia limpa e renovável para se afastar do carvão, mesmo que o carvão não desapareça completamente”, disse o especialista à AFP.