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Lula visitou o centro de desenvolvimento de tecnologias da Huawei, onde foi recebido ao som de “Garota de Ipanema”. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência
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quinta-feira 13 de abril de 2023 às 07:39h

Lula visita sede da Huawei na China com Jerônimo e comitiva

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O primeiro dia da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China foi marcado por críticas veladas aos Estados Unidos. Em Xangai, o brasileiro discursou contra o uso do dólar como moeda global e visitou a Huawei, empresa considerada inimiga pelos americanos e acusada por Washington de permitir espionagem chinesa em seus aparelhos e sistemas de telecomunicações.

Assim, a viagem ao maior parceiro comercial do Brasil foi até o momento como música de Lula a Pequim: o presidente falou de dois pontos caros aos chineses e não entrou em rota de colisão com a China. Lula evitou até agora temas como democracia, direitos humanos, a tensão global ou o mais delicado dos assuntos para a China, a situação de Taiwan.

O posicionamento de Lula difere do tom adotado em Washington: ao visitar Joe Biden em fevereiro, o presidente brasileiro usou sua rápida estadia na capital americana para defender a democracia — ainda em sinalização às invasões golpistas de 8 de janeiro e com críticas fortes ao seu antecessor, Jair Bolsonaro. Em uma agenda quase sem componente econômico e nenhum acordo relevante firmado, Lula cobrou os EUA por mais investimentos no Brasil e na região.

Agora, em Xangai, Lula mostrou um alinhamento maior a Pequim, o que pode gerar ainda mais descontentamento dos americanos. Vale lembrar que os EUA já haviam criticado duramente o governo Lula por permitir que dois navios de guerra iranianos atracassem no Rio no fim de fevereiro.

Deve gerar particular desconforto em Washington a incisão do presidente ao defender o adeus à dolarização nas trocas comerciais entre os países-membros dos Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ao sair do roteiro previamente redigido para seu discurso, o petista disse.

“Toda noite me pergunto porque todos os países precisam fazer seu comércio lastreado no dólar. Por que não podemos fazer comércio lastreado na nossa moeda? Por que não podemos ter o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que o ouro desapareceu como paridade? Por que não foi o yen? Por que não foi o real, o peso? Porque as nossas moedas eram fracas, não tinham valor em outros países”, disse Lula.

O petista em seguida fez conforme O Globo mais uma indireta. Disse que é necessário cautela — “se tem uma coisa que chinês sabe é ter paciência”, brincou o presidente — mas que a hesitação diante do assunto tem outro plano de fundo.

“Por que um banco como o dos Brics não pode ter uma moeda para financiar relações comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países? É difícil porque tem gente mal acostumada. Todo mundo depende de uma só moeda”, afirmou ele, dizendo não ser justo “terminarmos o século XXI como começamos o século XX: quem era rico ficou mais rico, quem era pobre ficou mais pobre”.

No banco multilateral, Lula voltou a defender a reforma do sistema global de governança, mais um ponto que compartilha com Pequim, e fez críticas ao Fundo Monetário Internacional, que “asfixia” os países em desenvolvimento com suas condições. De lá, foi visitar o centro de desenvolvimento de tecnologias da gigante tecnológica Huawei, onde foi recebido ao som de “Garota de Ipanema” e vestiu óculos de realidade virtual.

“Visitei o centro de desenvolvimento de tecnologias da Huawei. A empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. Um investimento muito forte em pesquisa e inovação”, escreveu Lula.

A Huawei está no Brasil há mais de duas décadas, mas sua presença tornou-se um tópico sensível nos últimos anos frente ao acirramento das tensões sino-americanas na frente tecnológica. Em 2021, assim que os EUA incluíram a companhia em uma lista de empresas de tecnologia consideradas de “risco inaceitável” à segurança nacional, a gigante chinesa venceu um leilão para fornecer equipamentos para implantação da tecnologia 5G em todo o Brasil. Lula estava acompanhado do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) que está na China antes do presidente tratando da fabrica da BYD em Camaçari, além de outros diversos projetos, como energia renovável e tecnologias para o governo do Estado.

O governo Lula tem defendido uma posição de independente do Brasil no cenário global, sem alinhamento automático aos EUA ou à China na disputa cada vez mais explícita entre os dois países na geopolítica, economia e tecnologia. Entretanto, em discursos e posicionamentos da viagem, pode estar adotando posicionamentos mais próximos a Pequim em questões práticas, enquanto mantém laços com os EUA apenas em questões políticas, como a defesa da democracia.

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