Petistas escalados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm usado os efeitos da radicalização das manifestações da direita e os desgastes gerados pelos atos golpistas para atrair partidos que davam sustentação ao governo de Jair Bolsonaro, como Republicanos e União Brasil. O Palácio do Planalto intensificou as negociações com as duas legendas desde os ataques às sedes do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Executivo, no último dia 8. Eventuais adesões à base, porém, não devem ocorrem antes do início da próxima legislatura, em fevereiro.
O entorno de Lula avalia que a intentona golpista manchou a imagem do bolsonarismo, o que contribui para que seus ex-aliados se distanciem dele. A concretização da migração, entretanto, dependerá diretamente dos gestos e espaços políticos com que o PT pretende acenar. A estratégia está sendo capitaneada pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Na semana passada, ele se reuniu com representantes dos dois partidos, que assumiram posturas distintas em relação ao Planalto.
O União indicou três ministros do governo: Daniela do Waguinho (Turismo), Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração). A presença no primeiro escalão, porém, não foi suficiente para unificar a legenda. A bancada do Câmara não se sentiu contemplada e defende que o partido declare independência em relação ao Planalto.
Já o Republicanos tem uma ligação umbilical com a Igreja Universal e é uma das agremiações mais conservadoras do país. Por isso, o plano dos petistas para atraí-la passa pelo apoio somente a pautas econômicas e sociais do governo, sem o compromisso de alinhamento nas propostas relacionadas a costumes. Parlamentares da sigla já sinalizaram a Padilha a disposição de votar com Lula em propostas importantes, como a reforma tributária e, a depender dos parâmetros, a nova âncora fiscal que o governo apresentar.
Indicação ao TCU
O principal quadro do Republicanos hoje, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também já emitiu sinais de que pretende manter uma boa relação com o Planalto, o que é visto como um trunfo para o processo de atração. Um dos gestos que os petistas estudam fazer para acelerar o flerte seria patrocinar a indicação do deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos) para o Tribunal de Contas da União (TCU). O partido também sonha com o apoio do PT ao plano do deputado federal Marcos Pereira de presidir a Câmara no biênio 2024-2026. Nesse caso, porém, a possibilidade de acordo é pequena.
Na outra mesa de negociações, o União Brasil apresenta divisões internas que dificultam o processo de pacificação com a legenda. Na noite de quarta-feira, Padilha recebeu no Planalto o deputado Elmar Nascimento (União), um dos descontentes. Cotado para assumir o Ministério da Integração Nacional, o nome dele acabou sendo vetado.
A reunião transcorreu bem, mas acabou inconclusiva. Dois dias depois, o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), disse a aliados que a conversa serviu para mostrar ao governo “o tamanho do União Brasil” e que não havia nada definido sobre apoio a Lula. Internamente, petistas dão como certo de que um eventual acordo com a legenda ainda deve demorar para sair.
Padilha minimizou a falta de um desfecho concreto:
— Eu converso com Elmar todos os dias. Já temos dez partidos que indicaram membros para o Ministério, outros estão indicando para outras posições do governo. Isso vai crescer ainda mais nos próximos dias.
Para além das fileiras do União Brasil, Lula aposta que será beneficiado por defecções de partidos do Centrão, espinha dorsal da base aliada de Bolsonaro no Congresso. O Planalto calcula que na Câmara poderá ter 20 dos 99 votos do PL, legenda do próprio ex-presidente. Avalia ainda ser capaz de atrair cerca de 25 dos 47 deputados do PP e aproximadamente 20 dos 41 representantes do Republicanos na Casa.
Discurso de persuasão
O governo também está disposto a oferecer postos de segundo e terceiro escalões dos ministérios para aumentar a sua tropa no Congresso. Nessa frente de ação, além de Padilha, está trabalhando a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Nas conversas com aliados em potencial, além do pragmatismo sobre cargos e espaços, os petistas têm batido na tese de que a má repercussão dos ataques violentos às instituições do último dia 8 vão cobrar um preço àqueles que não se posicionarem.
— Com a barbárie que fizeram, eles só conseguiram se isolar mais. Ninguém ficará à vontade de abraçar o vandalismo que foi feito aqui — disse o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), um dia depois dos ataques.