O presidente Lula da Silva (PT) usou o pronunciamento em rede nacional de TV e rádio convocado neste domingo (28) para fazer críticas ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sem mencioná-lo nominalmente, e pedir a volta da “paz” e do “humanismo”.
Na fala, o petista reafirmou também o compromisso em manter a responsabilidade fiscal, exaltou dados positivos da economia e disse que pegou um país destruído, com juros altos e inflação.
“Não abrirei mão da responsabilidade fiscal. Entre as muitas lições de vida que recebi de minha mãe, Dona Lindu, aprendi a não gastar mais do que ganho. É essa responsabilidade que está nos permitindo ajudar a população do Rio Grande do Sul com recursos federais”, disse Lula.
No início do pronunciamento, Lula agradeceu a população pela confiança em “derrotar a tentativa de golpe de 8 de janeiro”. “A democracia venceu”, disse o presidente.
O presidente citou os números da economia no final de seu segundo mandato, em 2010, e disse que seus sucessores promoveram uma “enorme destruição do país”.
” [Depois dos meus governos] Programas importantes para o povo, como a Farmácia Popular e o Minha Casa Minha Vida, foram abandonados […]. Espalharam armas ao invés de empregos. Trouxeram a fome de volta. Deixaram a maior taxa de juros do planeta. O Brasil era um país em ruínas”, disse Lula.
O discurso de Lula se baseou no slogan de sua atual gestão, “união e reconstrução”, em que busca fazer referência a dificuldades de seu governo após heranças sociais e econômicas que teriam sido deixadas pela gestão Bolsonaro.
Nesse sentido, Lula citou uma série de medidas econômicas, como o aumento do salário mínimo, e de políticas sociais, como a lei da igualdade salarial entre homens e mulheres, para sinalizar que o “Brasil se reencontrou com a civilização”.
O presidente também disse que o Brasil tem “uma das matrizes de energia mais limpas do mundo”. “Seremos uma potência mundial em geração de energia renovável e no enfrentamento à crise climática”, afirmou.
Ao longo do pronunciamento, Lula afirmou ainda que o país recuperou “protagonismo no cenário mundial”, com participação em fóruns internacionais e na expectativa para sediar as reuniões da cúpula do G-20, do BRICS e da COP-30.
“Este é o resultado de uma diplomacia ativa e altiva: o mundo voltou a acreditar no Brasil, na capacidade do nosso povo e em nosso compromisso com a democracia”, disse.
Este foi o quarto pronunciamento feito por Lula em rede nacional desde que assumiu a Presidência da República em 2023. A gravação teve sete minutos e foi feita na sexta-feira (26), em Brasília.
No mesmo período da gestão anterior, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) havia feito oito discursos em cadeia nacional de rádio e TV, boa parte em razão da pandemia de Covid-19.
O pronunciamento de Lula ocorre em momento delicado para a economia do país e para o equilíbrio das contas públicas. O governo será obrigado a congelar R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano.
O bloqueio é necessário para que o governo cumpra as regras do arcabouço fiscal e, ao menos parte do dinheiro congelado pode voltar à Esplanada dos Ministérios, a depender do resultado das contas públicas no próximo bimestre.
A tesourada preocupa os ministérios, que procuram formas para ficar de fora do bloqueio. O ministro da Defesa, José Múcio, foi diretamente ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para pedir para ser deixado de lado.
Outros ministros correm para empenhar despesas e blindar seus investimentos. O empenho é o estágio em que o governo se compromete com o pagamento de determinado gasto, o que impede o bloqueio.
Os detalhes do corte serão divulgados na terça-feira (30). A decisão final sobre quanto cada ministério perderá é de Lula.
O pronunciamento de Lula também é o primeiro desde que o governo virou foco de piadas nas redes sociais por decisões impopulares, como a sanção à lei que deu fim à isenção de imposto sobre compras internacionais de até US$ 50.
A chamada “taxa das blusinhas” rendeu memes em que Fernando Haddad aparece com o apelido de Taxadd. A onda de publicações negativas para o ministro foi debatida pela cúpula do governo, que patina para responder às piadas no meio digital.
Mesmo que a inflação tenha desacelerado em junho, o preço dos combustíveis teve nova alta na última semana. A gasolina passou de R$ 6 pela primeira vez em dez meses.
Soma-se ao cenário as críticas públicas de Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela manutenção da Selic (taxa básica de juros) em patamares elevados.
Em evento na sexta (26), Lula perguntou se Campos Neto não teria “respeito” à população por ter defendido uma eventual flexibilização dos pisos salariais de Saúde e Educação como forma de reduzir a inflação.
“Esses dias o presidente do Banco Central deu uma declaração para imprensa que não quis acreditar. O cidadão, jovem, bem sucedido na vida diz o seguinte: esse negócio de aumento do salário mínimo e massa salarial crescendo pode gerar inflação. Significa que, para não ter inflação, o povo precisa ganhar pouco? Será que essa pessoa não tem respeito?”, disse Lula.
“Será que as pessoas pensam que alguém ganha salário mínimo porque quer ganhar salário mínimo? Será que pensa que Brasil é pobre porque quer ser pobre? Não. Dê oportunidade ao pobre que ele vai fazer como fez esse pernambucano aqui, virar presidente da República”, afirmou.