O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta última quarta-feira (6) que o Brasil “não pode achar que não tem dinheiro”. Lula defendia uma participação crescente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no mercado de crédito nacional.
“Não podemos achar que (o Brasil) não tem dinheiro. Se não tiver salário, emprego e consumo, o Brasil vai ficar na bancarrota. O BNDES é peça importante nisso. O Tesouro não pode ter R$ 1 trilhão e sei lá quanto, R$ 2 trilhões guardados, e o BNDES comendo pão seco sem mortadela”, disse Lula a favor da política expansionista do banco.
As afirmações foram feitas na própria sede do BNDES, no Rio de Janeiro, durante cerimônia de assinatura de contratos de captação da ordem de US$ 1,7 bilhão (R$ 8,5 bilhões) do BNDES junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o Banco dos Brics. Os valores servirão a financiamentos de infraestrutura sustentável e de mitigação e adaptação às mudanças do clima.
Lula defendeu que o Brasil tem reservas internacionais robustas e fez um superávit comercial na casa dos US$ 100 bilhões, o que dá segurança aos planos do governo.
Em tom bem-humorado, o presidente disse ter conversado com a presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, no início do ano, a quem tranquilizou e disse que o Brasil cresceria muito acima de 0,8%. Segundo ele, o crescimento na casa dos 3% “ainda é pouco”, mas 2,2 pontos percentuais acima do projetado, o que surpreendeu positivamente o mundo. Ele disse que, agora, mandaria o resultado a Georgieva.
Outras moedas
O presidente voltou a defender a realização de operações financeiras e comerciais pelo Brasil em outras moedas para além do dólar.
“Vamos aprender a negociar sem ter o dólar como moeda padrão. Por que eu preciso negociar com outro país com dólar? Só com os Estados Unidos, que tem a casa da moeda do dólar”, disse.
Ele defendeu mecanismos multilaterais como o Banco dos Brics e disse que, em recente visita à Arábia Saudita, pediu às lideranças do País para aportar capital na instituição do Bloco no qual acaba de ingressar. “O Banco dos Brics tem que ser mais rico que o FMI”, afirmou Lula, arrancando risadas da plateia.
Antes do presidente, sua antecessora e atual presidente do Banco dos Brics informou que o Brasil já tem US$ 2,8 bilhões em empréstimos assinados com a instituição em 2023, valores ainda a serem desembolsados.
‘Praga de gafanhoto’
Lula afirmou estar conseguindo cumprir a estratégia de recuperar a imagem do Brasil no exterior e voltou a criticar seu antecessor, Jair Bolsonaro.
“O Brasil estava efetivamente esquecido no cenário internacional porque quem governava não tinha noção do que é política internacional, geopolítica, do porquê é importante a relação diplomática dos países, e por que o mundo lá fora não queria dar trela a alguém que não gostava de democracia”, disse.
Depois, Lula voltou a se referir a Bolsonaro por duas vezes. Ele disse que a “praga de gafanhoto” que passou pelo País foi didática com relação à importância da democracia e que, para o adversário, que “está na espera”, os três próximos anos de mandato vão demorar a passar, mas, para si, Lula, vão passar rápido. Ele defendeu aceleração do ritmo de crescimento da economia, impulsionada por instrumentos de crédito como os do BNDES.
Segundo Lula, o País tem condições de expandir o crédito porque tem reservas internacionais e vai fazer um superávit comercial de US$ 100 bilhões em 2023, enquanto este seria o total do fluxo comercial em 2005, no seu primeiro mandato.
“A praga de gafanhoto que passou pelo País fez pessoas descobrirem o quão importante é ter governo democrático, civilizado”, reiterou o presidente.
Viagem ao exterior
Lula disse ainda que sua mais recente viagem ao exterior, com passagens por Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes, é símbolo da retomada da imagem do País no exterior, a segunda de suas prioridades de campanha. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse, por sua vez, que o Brasil é um “porto seguro” para investimentos globais e lembrou que, em uma única viagem, o governo fechou acordos envolvendo bilhões de dólares.
A principal prioridade, disse Lula, segue sendo o restabelecimento de políticas públicas cortadas nos governos anteriores. Segundo o presidente, 52 programas foram reconstituídos, mas nem todos voltaram à operação, o que deve acontecer mais à frente.