O rascunho do programa de governo do PT divulgado no início da semana formaliza a linha que o partido vai trabalhar para rebater as acusações de corrupção que ainda vão atormentar a campanha de Lula. Há meses a cúpula da legenda se prepara segundo Letícia Casado, da Veja, para os ataques que o petista vai sofrer de Jair Bolsonaro (PL) e também em debates, sabatinas ou quando estiver nas ruas fazendo corpo a corpo. Mas o PT aposta no desgaste das acusações contra Lula.
“Lula já está vacinado. O que vão inventar sobre ele agora, que tem um filho?”, resume um aliado do ex-presidente. E acrescenta que “todos os ataques possíveis já foram feitos ao longo dos últimos anos” e, portanto, Lula está preparado para responder sobre corrupção, tema que deve ocupar bastante espaço na internet.
A retórica da defesa está pronta. Lula vai argumentar que as gestões petistas nunca interferiram em investigações sobre corrupção — pelo contrário, estimularam a estruturação de instituições que permitiram abertura e avanço de inquéritos.
“Os governos do PT e partidos aliados instituíram, de forma inédita no Brasil, uma política de Estado de prevenção e combate à corrupção e de promoção da transparência e da integridade pública”, diz o texto. “Criamos a Controladoria-Geral da União, a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) e fortalecemos a Polícia Federal, o COAF, a Receita Federal e diversos órgãos e carreiras de auditoria e fiscalização.”
O partido vai bater na tecla da comparação: enquanto o PT montou uma estrutura que permitiu aos investigadores descobrir casos de desvio, Bolsonaro desmontou equipes. Próceres da legenda destacam que o Procurador-Geral da República indicado por governos petistas foi sempre o mais votado na lista tríplice eleita pela categoria, enquanto Bolsonaro escolheu Augusto Aras, que sequer concorreu contra outros colegas.
Outro material no radar do partido são as declarações do ex-ministro Sergio Moro ao deixar o governo Bolsonaro acusando o presidente de interferir no trabalho da Polícia Federal. Em entrevista coletiva após pedir demissão, Moro disse que os governos do PT garantiram a autonomia da PF durante os trabalhos de investigação da Lava Jato.
Na outra ponta, Bolsonaro vai repetir o discurso de que Lula é corrupto. Ele e os filhos costumam chamar publicamente o petista de “ex-presidiário”. Os ataques são frequentes nas redes sociais, comandadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
O problema para a equipe do presidente é que o eleitor está menos interessado no tema corrupção em 2022 do que em 2018, mostram as pesquisas de intenção de votos: agora, a economia da vida real encabeça a lista de problemas e Bolsonaro tem sido cobrado pela inflação em alta.