O ataque a tiros que terminou com a morte do guarda municipal e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) em Foz do Iguaçu (PR), Marcelo Arruda, 50 anos, escancarou o grau de violência que poderá marcar o processo eleitoral de 2022. A três meses do pleito, o consultor em marketing político eleitoral Adriano Mariano Strazzi analisa com preocupação o cenário.
“A violência que culminou na morte em Foz do Iguaçu é o ponto extremo desta escalada, mas diversas formas de violência com viés político têm sido a tônica da pré-campanha presidencial de 2022. De vereador de BH divulgando vídeo de banheiro feminino com crianças, incitando o ódio contra crianças com disforia de gênero, passando por insultos verbais, ataque de drones com fezes e bombas caseiras”, destacou, referindo-se a Nikolas Ferreira (PL). O vereador foi procurado, mas não respondeu ao contato da reportagem de Franco Malheiro, do jornal O Tempo.
Na avaliação do cientista político e professor da Ufop e do IBMEC Adriano Cerqueira, o registro de episódios violentos não necessariamente é uma a exclusidade desta eleição.
“Os partidos e candidatos, de uma forma muito racional, utilizam estratégias de comunicação política que visam tirar o eleitor da zona de racionalização e mobilizá-lo para o lado emocional. Atraem o eleitor com discursos que divinizam a candidatura e demonizam a candidatura adversária. Claro que isso gera, para alguns indivíduos, uma reação mais violenta, e infelizmente esses atos de extrema violência acabam acontecendo”, analisou.
O professor exemplificou com o ataque a faca sofrido, em Juiz de Fora, pelo então candidato a presidente Jair Bolsonaro, em 2018, durante ato de campanha.
Responsabilidade e culpa
O analista político Adriano Strazzi pontua que a postura e os discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL) soam com uma “autorização extraoficial” para os atos.
“Tais discursos justificam a barbárie em nome de uma falsa cruzada pela moralidade, pela família e por Deus, que não existe nem nunca existiu. Pela primeira vez a liturgia do cargo presidencial brasileiro, não se utiliza da dissimulação para informar suas posições. Temos um presidente que diz que sua especialidade é matar e tem como símbolo pessoal fazer uma arma com as mãos. Este é o sinal dado a todos”, afirmou Strazzi.
O cientista político Adriano Cerqueira, por sua vez, critica o ex-presidente Lula que, em ato de pré-campanha, agradeceu a um correligionário que foi preso acusado de agredir um empresário que manifestava contra Lula.
“O ideal é que os candidatos atuem no sentido de impedir essa extrema mobilização violenta. Não dá para o candidato agradecer e elogiar correligionários que no passado atentaram violentamente contra alguém que manifestou contra sua candidatura. O ideal é que tomem cuidado com as falas e posturas para evitar essa extrema violência no período eleitoral”, pontuou Cerqueira.
Papel
Adriano Strazzi concorda que os candidatos possuem papel determinante para desmobilizar atos violentos no período eleitoral.
“O único papel aceitável para candidatos dentro de uma democracia é a recriminação veemente e pública de tais atos, em todos os canais de comunicação dos quais participem. Detentores, passados e presentes, de altos cargos têm o poder de transformar suas palavras em leis extraoficiais”, ressalta Adriano Strazzi.
Quanto a fala do ex-presidente Lula, o analista concorda que ela valida, de certa forma, atos violentos, mas pondera que não há semelhança na intensidade com as falas de Jair Bolsonaro.
“A hierarquia de informações e a intensidade da redundância são diferentes, mas o resultado é o mesmo: o sinal dado é o de que a violência é uma estratégia válida, de modo que os discursos terminam por se equivaler àqueles que estão dispostos à violência”, conclui.