O presidente Lula da Silva (PT) terá de desarmar “uma bomba relógio prestes a explodir na Polícia Federal (PF)”, nas palavras de delegados da própria instituição. Os policiais estão insatisfeitos com a maneira como o governo conduz as negociações de reestruturação dos cargos e salários da categoria.
Às queixas, somam-se fatores políticos. Interlocutores com acesso aos andares mais altos da Polícia Federal ressaltam que a corporação foi a “menos contaminada pelo bolsonarismo” na área da segurança pública, mesmo assim seus profissionais figurariam “entre os menos prestigiados”.
Com isso, a categoria reacendeu discussões sobre uma “rebelião”. Na prática, mais uma dor de cabeça para o governo que já enfrenta uma crise na segurança pública. Greve ou operação padrão dos policiais federais podem atrapalhar diretamente o Plano Nacional de Segurança Pública, lançado às pressas pelo governo para enfrentamento ao crime organizado, que conta com papel de destaque da PF.
O Ministério da Justiça divulgou a iniciativa após a coluna Estadão revelar a crise interna no governo que mira Flávio Dino por causa da piora dos indicadores de violência no País. A pasta escalou policiais federais para auxiliar as operações especiais de combate ao crime na Bahia, o que também foi entendido como um gesto de reconhecimento da importância do trabalho desses profissionais.
“O governo demanda cada vez mais a instituição sem retribuir ou compensar os policiais federais pela dedicação. A gente não tem medo de trabalho, pelo contrário. Mas a gente também quer reconhecimento”, disse à Coluna um delegado com acesso à cúpula da PF.
Delegados e agentes reclamam de “traição”
Como publicou a coluna Estadão, a PF ensaiou se rebelar pela primeira vez quando Lula decidiu devolver a área de segurança presidencial para os militares do Gabinete de Segurança Institucional. Os policiais se sentiram traídos por terem sido demovidos da função para que o governo pudesse acomodar os interesses daqueles que teriam “tramado o golpe” de 8 de Janeiro, enquanto a PF atuou ao lado de outros órgão para desarmar a crise.
A Coluna também mostrou que os policiais se cansaram de esperar o governo e decidiram emparedar os ministros Flávio Dino e Esther Dweck, da Gestão e Inovação, que conduzem as negociações para reestruturar os cargos e salários da categoria. Cinco entidades de classe da PF lançaram nota conjunta nesta semana e marcaram 26 de outubro como o “Dia D” de mobilização nacional por uma “sinalização concreta” à demanda dos policiais.
Em nota, o Ministério da Gestão em Inovação informou ter aberto no dia 11 de setembro mesas de debate “específicas para as demandas dos cargos das carreiras policiais”, quando foi apresentado pela categoria a proposta de reajuste. A pasta informou que a demandas está sob análise da Secretaria de Relações de Trabalho e que, em breve, “será agendada nova reunião para dar continuidade ao debate”.