domingo 22 de dezembro de 2024
Lula, Tarcísio Freitas, Bolsonaro e André Janones — Foto: AFP e Agência O Globo
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domingo 31 de dezembro de 2023 às 16:55h

Lula, Tarcísio e Haddad x Bolsonaro, Janones e Moro: o sobe e desce na política em 2023

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


O ano de 2023 na política foi marcada pela volta de Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto pela 3ª vez. Seu principal adversário na corrida definida em outubro de 2022, Jair Bolsonaro, termina seu primeiro ano como ex-presidente inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além das duas figuras centrais conforme Bruno Góes, do O Globo, que ditaram o ano eleitoral anterior, outros personagens ascenderam, alguns se mantiveram estáveis, e outros perderam a relevância.

Veja quem sobe, fica estável ou desce no balanço de 2023.

Sobe

O presidente Lula durante sessão do Congresso para promulgar a Reforma Tributária — Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
O presidente Lula durante sessão do Congresso para promulgar a Reforma Tributária — Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o principal nome do PT para o Palácio do Planalto em 2026. No primeiro ano de governo, conseguiu aprovar medidas econômicas importantes no Congresso, como a Reforma tributária, além de pacificar a relação com Legislativo e Judiciário. Embora a idade seja um fator desfavorável para a reeleição, é visto como a única alternativa para preservar a frente ampla que o elegeu. Aliados não escondem que o PT, porém, terá dificuldades nas eleições municipais, em 2024 . O próprio Lula, em encontro partidário, pediu autocrítica e aproximação com o eleitorado ainda ligado a Jair Bolsonaro.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad — Foto: EVARISTO SA / AFP
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad — Foto: EVARISTO SA / AFP

Em um cenário hoje remoto, no qual Lula decida abdicar da reeleição em 2026, Fernando Haddad surge como a principal alternativa do PT à sucessão. Em 2023, o ministro da Fazenda comandou a agenda econômica no Congresso Nacional e conseguiu aprovar a Reforma tributária. Saiu na frente de Flávio Dino, fora do jogo por ter sido indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), e Rui Costa (Casa Civil), com atuação apagada à frente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que ainda não decolou. Para se manter como nome viável, terá que continuar a demonstrar bons resultados.

Arthur Lira (PP)

Arthur Lira na Câmara dos Deputados: presidente da Casa — Foto: Zeca ribeiro/Câmara dos Deputados
Arthur Lira na Câmara dos Deputados: presidente da Casa — Foto: Zeca ribeiro/Câmara dos Deputados

Em seu segundo período como presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) acumulou poder sobre o gasto público e elevou a fatia reservada a emendas parlamentares. Embora tenha sido prejudicado pelo fim do orçamento secreto, conseguiu manter o direcionamento da verba herdada pelas chamadas emendas de relator, o que deve favorecer seu grupo político, o Centrão, nas eleições municipais de 2024. Durante o ano, conseguiu impor sua vontade em plenário e ainda conquistou uma indicação para a presidência da Caixa, importante banco público para o financiamento de políticas regionais. Contra o seu projeto eleitoral desponta a aliança entre Lula e seu maior adversário em Alagoas, o senador Renan Calheiros.

Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Foto: Isadora de Leão Moreira / Governo do Estado de SP

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas se afastou do bolsonarismo e fortaleceu seu nome para a reeleição em 2026 ao atrair prefeitos para seu grupo político. Com Bolsonaro inelegível, também é um nome viável da oposição para disputar a Presidência. Enfrentou protestos e demonstrou força política com a privatização da Sabesp, companhia de saneamento. Em momento mais delicado, enfrentou crises na área da educação e greves no transporte público. O governador sempre fez questão de exaltar a amizade e gratidão que tem pelo ex-presidente, mas não se furtou a ter uma boa relação com Lula.

Governador do Paraná, Ratinho Júnior — Foto: Rodrigo Felix Leal/AEN
Governador do Paraná, Ratinho Júnior — Foto: Rodrigo Felix Leal/AEN

Em seu segundo mandato como governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD) está entre os cotados para corrida presidencial de 2026, após a inelegibilidade de Bolsonaro. Neste ano, em evento do PSD, o presidente da sigla, Gilberto Kassab, o lançou como pré-candidato ao Planalto. Para conseguir a indicação, tenta imprimir a marca de ser um gestor com valores de direita e favorável a privatizações. Apesar da expectativa sobre 2026, neste ano teve que lidar com uma crise local, a partir da confissão de recebimento de propina do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Ademar Traiano (PSD), aliado do governador.

Kassab, presidente do PSD — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo/01-01-2023
Kassab, presidente do PSD — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo/01-01-2023

O domínio do PSDB sobre as prefeituras de São Paulo foi tomado pelo PSD de Gilberto Kassab. De olho nas eleições municipais de 2024, a sigla do secretário de Governo e homem forte de Tarcísio de Freitas (Republicanos) quintuplicou o número de prefeituras desde o início do ano. O movimento deve render frutos no pleito do próximo ano. Ao mesmo tempo em que faz parte da base de Lula, o PSD mantém laços com bolsonaristas e possui a maior bancada do Senado, o que torna a sigla um importante ator político a ser cortejado em 2026.

Estável

Rodrigo Pacheco — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Rodrigo Pacheco — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), iniciou o ano com um movimento de aproximação em direção ao governo Lula, mas terminou 2023 com gestos de conciliação à oposição e de enfrentamento ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com cenário ainda desfavorável em Minas Gerais, onde é cotado para disputar o governo do estado em 2026, não conseguiu adotar o tom adequado para conquistar o eleitor. Levou adiante a proposta que limitou decisões individuais de ministros do STF e foi aplaudido por bolsonaristas, mas não conseguiu liderar a bancada do PSD no Senado, onde esteve dividida em votações importantes.

Simone Tebet (MDB)

A ministra do Planejamento, Simone Tebet — Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
A ministra do Planejamento, Simone Tebet — Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Considerada uma das revelações nas eleições passadas, quando ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, Tebet assumiu uma pasta de menor destaque, o Planejamento, e acabou eclipsada por Fernando Haddad, que liderou a agenda de reformas. Simone Tebet ainda é vista no MDB como um nome para disputar a Presidência no futuro, mas a aliança com o PT diminui suas chances de se desgarrar da máquina. Neste momento, é pouco provável que a ex-senadora tente enfrentar Lula em 2026. A aliança com a esquerda também não é fácil de ser tolerada em seu estado, o Mato Grosso do Sul, onde Bolsonaro teve 52% dos votos no primeiro turno de 2022. Na esplanada, começou a tocar o orçamento participativo, uma das iniciativas prometidas durante a campanha por Lula.

Marina Silva (Rede)

Ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva — Foto: Cristiano Mariz / Agência O GLOBO

Ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva — Foto: Cristiano Mariz / Agência O GLOBO

Com início de ano difícil e mantendo relação conturbada com o Congresso, Marina Silva foi, aos poucos, conseguindo impor sua agenda ambiental ao governo, com foco na redução do desmatamento e políticas sustentáveis. Com os vetos de Lula ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas e ao projeto que flexibiliza a liberação de agrotóxicos, obteve sinais importantes de respaldo. Se decidir voltar ao terreno eleitoral, terá, em 2025, a COP-30 de Belém, o mais importante fórum ambiental do mundo, como palco para divulgar a implementação de políticas da sua área.

Desce

Ex-presidente Jair Bolsonaro acena para apoiadores de Javier Milei na cerimônia de posse, na Argentina — Foto: Luis ROBAYO / AFP
Ex-presidente Jair Bolsonaro acena para apoiadores de Javier Milei na cerimônia de posse, na Argentina — Foto: Luis ROBAYO / AFP

Embora seja o principal nome da oposição em pesquisas de opinião, Jair Bolsonaro (PL) teve um ano difícil, acumulando duas condenações que o tornaram inelegível até o pleito de 2030. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aplicou, em duas ações, a punição em razão dos ataques ao sistema eleitoral e às instituições Há ainda a possibilidade de revés em mais oito processos no TSE e sete casos na esfera criminal. Algumas dessas investigações tratam de casos que geraram repercussão em 2023, como a acusação de apropriação de joias que pertencem ao Estado e o incentivo a atos golpistas. No campo político, foi alvejado pela delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e derrotado em sua ofensiva contra a Reforma tributária.

Romeu Zema (Novo)

O governo de Minas Gerais, Romeu Zema, durante entrevista — Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil/24-05-2023
O governo de Minas Gerais, Romeu Zema, durante entrevista — Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil/24-05-2023

Reeleito em primeiro turno com 56% dos votos em 2022, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ainda não conseguiu se articular para ser um nome viável da direita em 2026. Embora seja um nome forte para herdar o eleitorado de Jair Bolsonaro, tornado inelegível, sofre para ascender no cenário nacional. Nas rodas de políticos de Brasília passou a ser chamado de “Ciro Gomes da direita”, por só cultivar inúmeras desavenças.

Eduardo Leite (PSDB)

Eduardo Leite — Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini/17-11-2023
Eduardo Leite — Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini/17-11-2023

Governador do Rio Grande do Sul, Leite falhou na tentativa de recolocar o PSDB com peça relevante no xadrez político e foi substituído no comando da sigla. No entanto, o novo presidente da sigla, ex-governador Marconi Perillo (GO), afirmou que o gaúcho é o “candidato natural” à presidência da República” pelo partido. Os tucanos tiveram um ano ruim. Na Câmara, a federação com o Cidadania conta apenas com 18 deputados, sem perspectiva de liderar a oposição ou retomar a força política de outrora nas eleições municipais.

André Janones (Avante)

André Janones — Foto: Reprodução/Redes sociais
André Janones — Foto: Reprodução/Redes sociais

Líder da estratégia digital do PT em 2022, André Janones (Avante-MG) foi relegado ao segundo plano durante o primeiro ano do terceiro mandato de Lula. No fim do ano, passou a ser investigado em suposta rachadinha em seu gabinete e teve processo aberto non Conselho de Ética na Câmara pelo mesmo motivo. É improvável que Janones tenha papel relevante nas eleições de 2024 para ajudar os aliados do PT a conquistar prefeituras pelo país.

Sergio Moro (União Brasil)

Sergio Moro — Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil
Sergio Moro — Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil

Eleito senador, Sérgio Moro (União Brasil-PR) passou a ser figura isolada da oposição na Casa. Sem uma boa relação com bolsonaristas ou com o governo, corre o risco de perder o mandato em processo aberto pela Justiça Eleitoral. Em dezembro, o Ministério Público defendeu o acolhimento parcial de uma ação, que reúne denúncias de abuso de poder econômico feitas por PL e PT. O caso pode resultar em sua inelegibilidade, o que aconteceu com o ex-deputado Deltan Dallagnol (Novo-PR), ex-integrante da força-tarefa da Lava-Jato, cassado neste ano.

Ciro Gomes (PDT)

Ciro Gomes em entrevista para Mario Sergio Conti — Foto: Reprodução/Globonews
Ciro Gomes em entrevista para Mario Sergio Conti — Foto: Reprodução/Globonews

Em quarto lugar nas eleições de 2022, com apenas 3% dos votos, Ciro Gomes foi protagonismo de uma disputa interna e familiar no PDT. Após se desentender com o seu irmão, o senador Cid Gomes, a sigla deve sofrer uma debandada no seu estado, o Ceará. Cid já comunicou a aliados o destino da maior parte de seu grupo: até o início de janeiro, anunciará a filiação em massa ao PSB. Até o momento, sete aliados do senador migraram para o PT. A briga enfraquece as negociações de Ciro para os pleitos de 2024 e 2026.

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