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segunda-feira 19 de junho de 2023 às 11:47h

Lula resolve crise com União Brasil e embarca para a Europa com a ‘casa arrumada’

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Após críticas de que mantinha o foco nas relações exteriores, alheio às turbulências internas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a casa arrumada desta vez antes de embarcar, na noite desta segunda-feira (19), para um novo périplo internacional segundo Andrea Jubé, do jornal Valor, que contemplará França, Itália e Vaticano. Antes de viajar, Lula conseguiu pacificar o União Brasil, melhorou a relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), engatilhou conversas com Republicanos, PL e Progressistas (PP), e conseguiu turbinar o discurso econômico com a mudança da nota de crédito do Brasil.

Durante sua passagem por Belém, Lula deixou acordado com o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), que o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) será nomeado para o Ministério do Turismo assim que retornar da viagem à Europa – a previsão de desembarque no Brasil é 24 de junho. Além da bancada do União Brasil, que não se sente representada pela ministra Daniela Carneiro (RJ) – que fez um pedido judicial para se desfiliar da legenda –, Sabino também assumirá o ministério com o apoio do grupo político de Hélder, um dos principais aliados nacionais de Lula, e de Arthur Lira.

“Se o Pará tiver mais um ministro, nós não vamos achar ruim porque fortalece o nosso Estado”, disse o governador neste sábado (18) no palanque, em evento no Estado ao lado de Lula e Sabino. “Portanto, caso a sua decisão seja essa, o Celso representará todos nós junto com o ministro Jader [Filho, ministro das Cidades e irmão do governador] para que o Pará possa estar fortalecido”, complementou, na solenidade que oficializou a cidade de Belém como sede da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), em 2025.

Em paralelo ao desfecho da crise com o União Brasil, enquanto cruza o Atlântico, Lula deixou emissários para intensificar as articulações a fim de trazer Lira, e alas do PP, PL e Republicanos para a base governista. A ideia é fidelizar cerca de 90 votos dessas três legendas que já se alinharam ao governo em votações como a das medidas provisórias de reestruturação dos ministérios, do programa Minha Casa, Minha Vida, e do novo arcabouço fiscal. A proposta é que os partidos não terão de declarar apoio ao governo, mas, apenas, um alinhamento pontual nos temas econômicos e na pauta social.

A se confirmar esse movimento, somando os cerca de 130 votos dos aliados da esquerda, e mais cerca de 100 votos de MDB, PSD, Podemos e Avante, o governo alcançará o quórum para aprovar, se necessário, propostas de emenda constitucionais (PEC). “São votos que já existem nos temas pontuais, e a ideia é fidelizá-los”, disse ao Valor uma fonte do entorno do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

A cúpula do União Brasil aceitou o acordo de que a nomeação de Sabino para o Turismo ocorrerá na volta de Lula da Europa. Até lá, avançarão as composições para compensar os aliados fluminenses – a ministra Daniela Carneiro e o marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner (Waguinho) Carneiro, dirigente local do Republicanos.

Waguinho disse aos prepostos do presidente que deseja se fortalecer como liderança da Baixada Fluminense, e conta com a destinação generosa de verbas federais para o município, principalmente na área de saúde. Outro desejo é que Belford Roxo seja escolhido como sede da futura obra de um instituto federal de ensino técnico, que será destinado pelo Ministério da Educação (MEC) à região.

O casal fluminense também se recusou a entregar o ministério às pressas, como se Daniela estivesse sendo “escorraçada” do governo, segundo uma fonte credenciada do Palácio do Planalto.

“Política é nuvem, e, sem dúvida, o ambiente não está mais nublado”, disse ao Valor a mesma fonte palaciana, que acompanhou de perto as articulações dos últimos dias. A percepção interna no palácio é de que o governo conseguiu reagir ao cerco da última semana de maio, quando uma rebelião dos deputados, capitaneada por Lira, quase derrubou a medida provisória de reestruturação da Esplanada, o coração do governo.

De lá pra cá, Lula tomou as rédeas da articulação política. Após o episódio, reuniu-se duas vezes com Arthur Lira a sós, nos dias 5 e 16 de junho. Também conversou pessoalmente com o líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), na crise da medida provisória, e por telefone com lideranças do MDB, Republicanos, PSD, entre outros quadros influentes do Congresso. Orientou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a também se aproximar de Elmar e de outras lideranças parlamentares.

Desde então, na Câmara dos Deputados, e as medidas provisórias foram votadas sem sobressaltos. A pauta do governo na Casa foi esvaziada. Resta a reforma tributária, que dependerá de muita conversa e articulação para ser aprovada, e garantir a continuidade da reação econômica.

A economia mostrou sinais de vitalidade com o resultado expressivo de 1,9% do PIB [Produto Interno Bruto] no primeiro trimestre, e a revisão da nota de crédito pelo S&P Global Ratings para “positiva”. O preço da gasolina continua caindo, os programas sociais recriados estão avançando, e aliados do presidente acreditam que esse conjunto de boas notícias influenciará a percepção da população sobre o governo. “Se tem melhora na percepção da população em relação à economia, não tem como não se reverter em popularidade para o presidente”, avaliou um auxiliar de Lula.

Nesse cenário, com o pano de fundo econômico favorável, e a popularidade de Lula com perspectivas de melhora ainda segundo Andrea Jubé, da Valor, , acredita-se que o governo terá mais instrumentos para, no limite, estabelecer uma convivência pacífica com Arthur Lira. Internamente, a avaliação é de que o principal desafio de Lula será compor com o chefe do Legislativo. E o petista não está disposto a ceder o controle do Ministério da Saúde para o grupo político comandado pelo alagoano, como se articula nos bastidores.

Para arrematar as conversas com o União Brasil, Lula ainda pretende se reunir com o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), e com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (AP), quando regressar ao Brasil.

A boa relação de Lula com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com Alcolumbre permitem que o governo trafegue sem solavancos na Casa. Lula viajará seguro de que não haverá contratempos com a sabatina do advogado Cristiano Zanin, indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 21, na CCJ comandada por Alcolumbre.

O Valor apurou que Lula convidou Alcolumbre para acompanhá-lo na viagem ao Pará, na sexta-feira, para a solenidade que oficializou Belém como sede da COP-30 em 2025. Nos bastidores, entretanto, Lula também queria ouvir o aliado sobre a crise no União Brasil, e as articulações no Senado para a sabatina de Zanin. Mas segundo um interlocutor do senador do Amapá, ele teve de viajar para o Rio Grande do Norte, para comparecer a um evento sobre energia eólica.

De acordo com o mesmo interlocutor, a relação de Lula e Alcolumbre está “cada vez mais sólida”. Há reclamações da bancada do União Brasil na Câmara de que o espaço do senador no governo estaria desproporcional em relação aos deputados. Ele indicou os titulares dos ministérios das Comunicações e do Desenvolvimento e Integração Regional. Mas, segundo um auxiliar presidencial, Lula não vai alterar espaços de influência de Alcolumbre. Se isso tiver de ocorrer, o movimento terá de partir de uma ala do União Brasil que se revelar mais forte do que o senador.

O presidente também se comprometeu com aliados a viajar menos para o exterior. Ele pretende ficar mais tempo no país, acompanhar de perto a articulação política, concluir o trabalho de consolidação da base parlamentar, fiscalizar o cumprimento de acordos com aliados, percorrer os Estados e tentar alavancar sua popularidade. (Colaborou Rafael Bitencourt)

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