O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou (PL), neste sábado (24), que o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta dificuldades para convencer o parlamento francês a apoiar o acordo entre Mercosul e União Europeia. Lula disse que vai se empenhar em convencer partidos de esquerda franceses a endossar a parceria.
O acordo que criaria a maior área de livre comércio do mundo é discutido há 24 anos e já foi finalizado, mas precisa ser ratificado e assinado pelos países de ambos os blocos para valer na prática.
“O presidente Macron tem dificuldade no Congresso e se a gente puder conversar com os nossos amigos mais à esquerda para ajudar a ser aprovado o acordo com o Mercosul nós vamos fazer. Não tenha dúvida de que vamos conversar com todos os amigos que estiverem aqui na França para ver se a gente consegue convencer da importância, porque não é protecionismo que vai ajudar”, disse em entrevista coletiva a jornalistas na manhã deste sábado.
A França tem uma resistência histórica ao acordo devido ao temor dos produtores rurais de que as matérias-primas sul-americanas prejudiquem seus negócios. Os franceses contam historicamente com muitos subsídios ao setor agrícola e têm a maior produção agrícola da União Europeia.
Lula almoçou com Macron nesta sexta-feira (23), após a participação na cúpula sobre o Novo Pacto Financeiro Global. Ao comentar o almoço na conversa com jornalistas neste sábado, o presidente afirmou que há “um início de contrariedade da França com relação ao acordo”.
O presidente brasileiro disse que o homólogo francês está aberto a debater pontos do acordo e “não tem tema proibido para discutir”. “Nós sabemos qual é o tema dele, ele sabe qual é o nosso tema. Da mesma forma que ele precisa resguardar os interesses agrícolas dele, nós temos que resguardar os interesses das nossas pequenas e médias empresas com a não aceitação das compras governamentais”.
O capítulo do acordo Mercosul-União Europeia que trata de compras governamentais é alvo frequente de Lula. O trecho prevê que empresas estrangeiras participem de licitações públicas, ao garantir “tratamento nacional” aos fornecedores estrangeiros de bens e serviços contratados pela administração pública.
Para o presidente, a abertura das compras do governo a estrangeiros poderia afetar o projeto de reindustrialização que é bandeira de sua gestão.
Lula já tinha admitido em Roma que Brasil e França precisam abrir mão de seus “perfeccionismos e protecionismos” para que o acordo entre União Europeia e Mercosul avance. Ele também afirmou na Itália que as exigências ambientais feitas pelos europeus para destravar a parceria são inaceitáveis. Na cúpula em Paris, na sexta-feira (23), o presidente disse que as exigências ambientais feitas pelos europeus para destravar a parceria soam como ameaça.
Lula afirmou que o Brasil se comprometeu a responder à carta adicional que a União Europeia enviou em março, que traz exigências ambientais para que o acordo avance, e acrescentou: “Penso que até o final do ano a gente tem uma decisão sobre o assunto”.
O presidente afirmou que os impasses do acordo devem ser discutidos na cúpula entre a União Europeia e a Celac, que acontece nos dias 17 e 18 de julho será realizada em Bruxelas. A Celac é um bloco regional de 33 países da América Latina e do Caribe, que exclui Estados Unidos e Canadá.
“Eu espero que tenhamos capacidade e sabedoria de fazer esse assunto, porque é importante para a União Europeia, é importante para o Mercosul. E é importante para o encontro que vai ter agora em julho, da Celac, que são todos os países da América Latina, com todos os países da União Europeia, para a gente estabelecer uma nova rodada de conversação para ver se a gente se aproxima de um acordo também na Celac.”
Esforços também com o agronegócio
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e seu homólogo francês, Bruno Le Maire, se reuniram nesta sexta-feira (23), em Paris, e falaram sobre a necessidade de aproximar atores do agronegócio de ambos os países para avançar com o acordo entre Mercosul e União Europeia.
Fontes que acompanharam a conversa relataram à CNN que os ministros falaram sobre os desafios para concretização do acordo. A ideia dos ministros é mobilizar sindicatos, empresários do setor e atores ligados ao agronegócio de forma geral para aprofundar o diálogo.