O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou mais dois ministros de Estado em conselhos de administração de empresas. Anielle Franco, da Igualdade Racial, e Carlos Lupi, da Previdência Social, ganharam cargos na Tupy, metalúrgica multinacional da qual o governo tem participação de cerca de 28%, diz Vinícius Valfré, do Estadão.
A entrada de ambos os ministros no conselho foi formalizada nesta sexta-feira, 25. Eles vão substituir Carla Gaspar Primavera e Fabio Rego Pinheiro, dois técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Designados em março, eles renunciaram no mesmo dia em que os ministros foram indicados. O presidente do BNDES é Aloizio Mercadante, ex-ministro de Dilma Rousseff (PT).
A atual composição do conselho da Tupy tem nove membros. Conforme documentos da assembleia geral de abril, a empresa reservou R$ 3.900.486,68 para salários dos conselheiros de administração no período de um ano. Portanto, por mês, cada um deles pode receber até R$ 36,1 mil. O valor se soma integralmente aos R$ 41.650,92 que Anielle e Lupi recebem como ministros.
A remuneração no conselho da empresa pode ser ainda maior caso haja participação em comitês, atividade para a qual a empresa reservou mais R$ 1.652.000,40 no ano. O presidente do conselho recebe mais do que os demais membros e não há informações sobre como os R$ 5,7 milhões, ao todo, são repartidos nem sobre o volume de reuniões mensais. A empresa foi procurada pela reportagem para esclarecer esses pontos e limitou-se a informar que “não compartilha publicamente a remuneração de seus conselheiros de forma individual”.
Embora a indicação de integrantes de conselho dependa de uma decisão política da cúpula do Palácio do Planalto, a indicação dos ministros para a Tupy, formalmente, compete à BNDESPar, empresa de participações do BNDES que tem 28,2% da companhia. Em seguida, os nomes são submetidos a uma votação no conselho da empresa.
Sete conselheiros participaram da reunião que validou a participação de Anielle e Lupi na sexta. Quatro foram favoráveis à entrada dos ministros e três se abstiveram de votar. Com a maioria, os nomes de Anielle Franco e Carlos Lupi foram aprovados.
Carlos Lupi é o principal dirigente do PDT, partido que preside desde 2004. Ele deixou formalmente a presidência da sigla porque a função de ministro de Estado exige o afastamento. Como qualificação acadêmica, declarou ser formado em Administração com licenciatura plena em Administração, Economia e Contabilidade pela Faculdade do Centro Educacional de Niterói.
Anielle Franco informou ser bacharel em Jornalismo e Inglês pela Universidade Central da Carolina do Norte e licenciada em Inglês pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A ministra é irmã da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio de Janeiro em 2018. Embora pretendida pelo PT, a ministra não é filiada a partido político.
O Palácio do Planalto e o BNDES foram procurado pelo Estadão para esclarecer o motivo de os dois ministros terem sido indicados para a função, mas ainda não responderam. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
Lula loteia conselhos de empresas com participação estatal
Em 14 das principais empresas públicas ou com participação estatal, como Banco do Brasil, Itaipu e Embraer, o governo Lula já mudou 52 conselheiros, como mostrou o Estadão. Entre os contemplados, até a secretária do PT, Gleide Andrade, com uma remuneração mensal de R$ 34 mil em Itaipu.
A alocação de aliados nos conselhos é usada para garantir o controle dos rumos das companhias pelos governos de ocasião, mas para inflar salários de ministros. Embora a remuneração de um membro do primeiro escalão do governo seja 30 vezes o salário mínimo, o valor é menor do que eles poderiam ganhar na iniciativa privada e frequentemente alvo de queixas na cúpula do poder.
Ao menos oito dos 37 ministros foram colocados em conselhos. Além de Lupi e Anielle, Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Esther Dweck (Gestão), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Juscelino Filho (Comunicações).
O titular da pasta das Comunicações é do Conselho Deliberativo da Fundação Sistel de Seguridade Social (Sistel), o fundo de pensão complementar dos trabalhadores das empresas de telecomunicações. Os demais, de Itaipu. O valor pago pela Sistel, por ser entidade de natureza privada, não é divulgado.