O ex-presidente Lula está em campanha para tentar se reaproximar da elite econômica. Segundo a coluna de Bernardo Mello Franco, no O Globo, ele quer reconstruir pontes com os donos do dinheiro, que dão sinais de cansaço com as presepadas de Jair Bolsonaro.
Nesta última terça-feira (9) o petista foi recebido na sede da Fiesp, quartel-general do empresariado paulista. Seu discurso de uma hora e meia pode ser resumido numa frase: “O Brasil precisa voltar à normalidade”.
Em tom conciliador, Lula prometeu restaurar a calmaria depois de quatro anos de tormenta bolsonarista. “Vou repetir três palavras que fazem parte do meu dicionário: credibilidade, estabilidade e previsibilidade”, recitou.
O ex-presidente evitou detalhar seus planos, mas disse que ouvirá empresários e trabalhadores antes de tomar decisões na economia. E garantiu que seu governo não baixará pacotes da noite para o dia. “Nada será feito de surpresa”, resumiu.
No dia em que o governo começou a pagar o Auxílio Brasil turbinado, Lula acusou Bolsonaro de promover a “maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu”. Ele ainda prometeu fazer uma reforma administrativa, antiga reivindicação do patronato.
Apesar do empenho para agradar a plateia endinheirada, o petista reclamou do tratamento que julga receber da elite. Disse se sentir “ofendido” com as cobranças para que fale mais em responsabilidade fiscal. E se queixou de setores do agronegócio que insistiriam em pintá-lo como um “monstro”. “Nós queremos apenas a chance de conversar”, afirmou. “Aqueles mais raivosos, só precisa ver se não estão armados…”
Em outro momento, Lula admitiu que “muita gente ficou assustada” com sua promessa de revogar a reforma trabalhista. E se irritou ao lembrar o apoio empresarial à Lava-Jato. “Um fedelho chamado Dallagnol encheu a cabeça de vocês de mentiras”, esbravejou.
No auge da operação, a Fiesp abraçou o antipetismo e se engajou na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff. Seis anos depois, a entidade é comandada pelo herdeiro de José Alencar, vice-presidente nos mandatos lulistas.
Ontem o líder das pesquisas elogiou o pai para amolecer o coração do filho. E ainda piscou para os industriais que desistiram de Bolsonaro, mas flertam com a candidatura claudicante de Simone Tebet. “Na história da humanidade não existe terceira via. Deus e o diabo polarizam há quantos anos?”, ironizou.