O presidente Lula da Silva (PT) perguntou a opinião de aliados, nos últimos dias, sobre a possibilidade de nomear a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pasta responsável pela articulação política do governo com o Congresso. Segundo relatos ouvidos por Caio Spechoto (Broadcast), Lula ouviu avaliações negativas sobre a ideia.
Como publicou o Estadão, Gleisi foi convidada, em janeiro, para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, dirigida por Márcio Macêdo. A pasta cuida da interlocução com movimentos sociais, segmentos nos quais o presidente tem perdido popularidade. Recentemente, no entanto, a deputada teria se movimentado para comandar Relações Institucionais e seu nome passou a ser citado para o ministério. A ida de Gleisi para a Secretaria-Geral, porém, não está descartada.
O fato de Lula ter perguntado a aliados o que achavam de Gleisi para comandar a articulação política no lugar de Alexandre Padilha – transferido para o Ministério da Saúde – foi entendido por governistas não como um sinal de que ele vá colocá-la nesse ministério, mas, sim, como um “balão de ensaio” para testar a receptividade do nome da presidente do PT.
Na avaliação desses políticos, que confirmaram a sondagem sob reserva, Lula só executará a ideia se não julgar o custo político alto demais. Tanto a SRI como a Secretaria-Geral da Presidência ficam no Palácio do Planalto. Em conversas reservadas, ministros do PT dizem que o nome favorito para o lugar de Padilha é o do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
O Centrão, por sua vez, quer que o próximo articulador político do governo seja alguém de fora do PT. Os nomes mais mencionados são os do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), e do ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, deputado licenciado pelo Republicanos de Pernambuco.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tenta emplacar Isnaldo na SRI. O cargo ficará vago porque, no próximo dia 10, Padilha ocupará a cadeira antes reservada para Nísia Trindade na Saúde.
Ex-ministra da Casa Civil no governo Dilma Rousseff, Gleisi é tida em Brasília como uma política de perfil mais combativo do que de articulação. Ela preside o PT desde 2017 e esteve à frente do partido em alguns dos momentos mais difíceis da história da sigla. Por um lado, isso a fez ganhar o respeito de correligionários e, principalmente, da base petista. Por outro, fez a dirigente passar anos em conflito com outras forças políticas. Seus aliados afirmam que ela demonstrou capacidade de articulação, por exemplo, ao conduzir conversas com os partidos que formaram uma frente ampla para apoiar a candidatura de Lula na eleição de 2022.
A ideia de pôr um político do Centrão na Secretaria de Relações Institucionais tem perdido força porque cresce no Planalto a avaliação de que Lula não vai conseguir amarrar, desde já, apoios desse grupo para a eleição de 2026, quando disputará novo mandato ou tentará fazer o sucessor. Partidos de centro e centro-direita preferem esperar para avaliar o tabuleiro mais perto do pleito. Tudo fica mais difícil com a popularidade do presidente em baixa, como mostraram as pesquisa de opinião mais recentes.
Nesse cenário, não valeria a pena entregar para outro partido um ministério no coração do governo, como o de Relações Institucionais, já que seria difícil tirar os espaços que esses siglas já ocupam na Esplanada.
A provável nomeação de Gleisi para um ministério no Palácio do Planalto – seja a Secretaria-Geral da Presidência ou a SRI – abrirá um novo polo de poder na cúpula do governo. Hoje, a dobradinha entre Rui Costa (Casa Civil) e Sidônio Palmeira (Secom) é a mais poderosa no entorno de Lula. A dirigente petista, porém, teria influência suficiente para se contrapor a ambos, quando achar necessário.
Gleisi teve uma série de divergências públicas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desde 2023. Aliados da deputada dizem que as desavenças ocorrem por ela ser presidente do partido e, nessa condição, vocalizar os pensamentos da base petista, tentando puxar o governo para a esquerda.
Por esse raciocínio, Gleisi moderaria o tom como ministra porque passaria a ter mais obrigações institucionais com o governo. A deputada terá de deixar a presidência do PT antes do fim do seu mandato, que termina em junho, para assumir um posto no Executivo.
Lula foi questionado por jornalistas tanto nesta quinta-feira, 27, quando na quarta, 26, sobre quem assumiria a articulação política. “Já tenho a pessoa escolhida, mas não posso avisar porque não conversei com a pessoa ainda, então não quero que a pessoa saiba que ela vai ser ministra ou ele vai ser ministro pela Record. Quero que saiba pela minha boca. Tenho que fazer alguma reforma, vou ter que mexer no governo, mas tenho que fazer com muito cuidado”, disse ele.
Desde o fim do ano passado, o presidente estuda uma reforma ministerial. Antes de anunciar a troca de Nísia por Padilha e deixar a SRI vaga, Lula havia mudado o chefe da comunicação do governo. O publicitário Sidônio Palmeira assumiu a Secretaria de Comunicação Social (Secom) no lugar do deputado Paulo Pimenta (PT-RS) em 14 de janeiro. Na mesma entrevista em que disse já ter escolhido o próximo articulador político do Planalto com o Congresso, o presidente também afirmou que quer terminar a reforma depois do carnaval.