Jair Bolsonaro, ao contrário, havia acabado de vencer Fernando Haddad em 2018 quando o funcionalismo fantasma de sua família veio à tona, o que levou o então presidente a trair o discurso de campanha, sancionando medidas desejadas pelo PT, como a criação do juiz de garantias – ou “emenda Freixo” – e outros jabutis inseridos no pacote anticrime, como restrições à prisão preventiva e à delação premiada.
No poder, Bolsonaro sabotou a CPI da Lava Toga, diz Felipe Moura Brasil, interferiu na PF e escolheu autoridades anti-Lava Jato para PGR (Augusto Aras) e tribunais superiores, como Kassio Nunes Marques. Graças ao voto dele, Gilmar conseguiu arquivar o inquérito sobre repasses da Odebrecht a Aécio e, graças ao voto de Gilmar, Nunes Marques conseguiu blindar Flávio Bolsonaro com foro privilegiado retroativo. Ambos também arquivaram casos de Arthur Lira e Ciro Nogueira, que chamava seu conterrâneo de “nosso Kassio”. O ministro ainda foi um dos três indicados por Bolsonaro que votaram no TSE pela cassação de Deltan Dallagnol, contornando a alínea “q” do inciso 1.º do artigo 1.º da lei complementar 64, a mesma LC usada para declarar o ex-presidente inelegível, dessa vez com previsão expressa no inciso 16 do artigo 22, quando seus outros indicados, Sérgio Banhos e Carlos Horbach, já haviam deixado a Corte.
Bolsonaristas votaram com petistas pela blindagem coletiva, como no afrouxamento da Lei de Improbidade, evocado pela defesa de Bolsonaro no processo sobre Wal do Açaí, sua caseira fluminense registrada por 15 anos como assessora parlamentar em Brasília.
Lula se beneficiou da sujeira tucana e bolsonarista, porque ela neutralizou o ponto mais sensível do PT: a corrupção. Ao sabotar a vacinação na pandemia e trocar o combate à cleptocracia por fantasias sobre as urnas, sempre amparado por seus “influenciadores” diversionistas, Bolsonaro foi além, como o maior cabo eleitoral de Lula.
Sua inelegibilidade abre espaço para uma oposição de verdade.
Por Felipe Moura Brasil / Estadão