O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que o governo americano reavaliasse sua diplomacia na América Latina, incluindo na Venezuela e Cuba. A conversa ocorreu na sexta-feira (10), em Washington. Um encontro que era para ter durado apenas uma hora se estendeu por quase o dobro do tempo, na reunião que reinaugurou a relação entre Brasil e EUA, diz Jamil Chade , em sua coluna no Uol.
Para o governo brasileiro, as sanções e medidas adotadas pela Casa Branca contra a Venezuela estariam empurrando o governo de Nicolas Maduro para uma aproximação ainda maior com a China e Rússia e transformando a região em um campo de batalha entre as potências.
O que o governo espera é que Biden possa retomar o caminho adotado por Barack Obama. A política foi abandonada por Donald Trump e, desde então, se manteve intacta com Biden em muitos aspectos.
De fato, a questão venezuelana uniu Jair Bolsonaro e Trump, numa ofensiva contra Nicolás Maduro. O ex-presidente brasileiro reconheceu Juan Guaidó e fechou os postos diplomáticos do Brasil no país vizinho.
Lula reverteu as duas decisões e prega uma normalização das relações com os venezuelanos.
Do lado de Biden, a Casa Branca continua a denunciar o regime de Maduro. Mas com dificuldades em termos de acesso à energia por parte da Rússia e ciente do fracasso da pressão sobre Caracas, vozes em Washington não descartam uma flexibilização da posição dos EUA em relação aos venezuelanos.
Para o Brasil, o foco deve ser a eleição na Venezuela em 2024 e permitir que o governo de Maduro aceite condições adequadas para a participação de diferentes partidos e com regras justas. Para isso, portanto, o caminho não pode ser um aumento da pressão, e sim uma distensão nos mesmos moldes que Barack Obama fez com Cuba.
O Itamaraty também já sinalizou que, se convidado, está disposto a participar de um processo de diálogo entre Maduro e a oposição venezuelana.
Lula também tratou do embargo contra Cuba imposto pelos americanos e indicou no mesmo sentido: uma distensão poderia ampliar – e não reduzir – a influência americana na região.
Ameaça da extrema direita
No governo brasileiro, o esforço é o de mostrar aos americanos que a nova esquerda latino-americana quer uma boa relação com Washington.
Para o Brasil, é necessário proteger o restante da América Latina da ameaça da extrema direita, apontando para novos atores que surgem em Chile, Colômbia ou Argentina.
O recado é de que Washington e os novos movimentos de centro esquerda contam com os mesmos adversários: as forças autoritárias, antidemocráticas e negacionistas da extrema direita.