Em café recente com jornalistas, o presidente Lula da Silva (PT) tentou negar a crise na articulação política do governo. “Sinceramente, não acho que a gente tenha problema no Congresso”, desconversou. “A gente tem as situações que são as coisas normais da política”, prosseguiu, conforme lembra Bernardo Mello Franco, do O Globo.
Parlamentares ameaçavam o Planalto em voz alta, mas o presidente insistiu que tudo estava sob controle. “Nós estamos numa situação, eu diria, de muita tranquilidade com o Congresso”, afiançou.
Nesta terça, a realidade voltou a se impor. Em sessão conjunta, deputados e senadores impuseram novas derrotas ao governo. Derrubaram vetos de Lula e ressuscitaram agrados de Jair Bolsonaro à sua tropa.
O Planalto apanhou sem dó. Os congressistas invalidaram a tentativa de manter a saída temporária de presos e recolocaram obsessões da ultradireita, como o combate ao aborto e à transição de gênero, na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
De quebra, mantiveram vetos de Bolsonaro que beneficiaram a extrema direita. Barraram punições a quem espalha fake news e impediram a ampliação das penas de militares condenados por tentativa de golpe.
O placar das votações mostra que o Centrão voltou a se unir à oposição bolsonarista para nocautear o governo. Na lona, o Planalto tenta atribuir as derrotas ao crescimento do populismo de direita. O Congresso nunca foi tão reacionário, mas isso não explica tantos reveses simultâneos.
A surra expôs uma articulação ineficiente, que não consegue garantir a fidelidade de partidos da base. Siglas que controlam ministérios valiosos, como PSD e União Brasil, votaram em massa contra o governo. A farra das emendas impositivas, que reduziu o poder de barganha do Executivo, torna a tarefa ainda mais complicada.
Aliados de Lula batem cabeça sobre o que fazer. Alguns cobram uma reforma ministerial já. Outros defendem uma agenda de redução de danos, votando apenas projetos de consenso. Ninguém sabe o melhor caminho para garantir a chamada governabilidade. Mas negar o problema, como fez o presidente, não parece uma forma de resolvê-lo.