domingo 9 de março de 2025
Sidônio Palmeira - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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domingo 9 de março de 2025 às 09:26h

Lula multiplica por dez as menções à inflação após troca na Secom e passa a acenar a novos segmentos

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Diante do seu patamar mais baixo de popularidade em três mandatos e enfrentando crises como a inflação dos alimentos, o presidente Lula da Silva (PT) vem fazendo inflexões no discurso na tentativa de reduzir os efeitos negativos da alta de preços e alcançar outras parcelas do eleitorado. Levantamento feito pela reportagem de Sérgio Roxo e Dimitrius Dantas, do O Globo, com base em 81 pronunciamentos e entrevistas do petista mostra que ele passou a tratar com mais ênfase do aumento no custo de vida e a direcionar afagos a trabalhadores de aplicativo e empreendedores.

O movimento coincide com a chegada de Sidônio Palmeira à chefia da Secretaria de Comunicação Social (Secom). Marqueteiro da campanha de Lula em 2022, ele foi escalado com o objetivo de divulgar melhor as ações da gestão, passo visto como necessário no Palácio do Planalto para a eleição de 2026, seja com a tentativa de reeleição ou o apoio a outro candidato governista. De acordo com o Datafolha, a aprovação de Lula está em 24%, menor índice de todas suas passagens pela Presidência.

Entre as palavras que ganharam destaque no vocabulário de Lula depois da chegada de Sidônio se destacam, por exemplo, “reajuste” e “preços”. O levantamento comparou as falas do presidente nos três meses anteriores à posse do marqueteiro na Secom, em 14 de janeiro, com o período posterior à chegada. A base temporal foi escolhida para que houvesse um número semelhante de falas em cada momento, evitando distorções.

‘Problema imediato’

Outras expressões também cresceram. No período anterior à presença do publicitário, Lula citou a inflação apenas três vezes nos seus pronunciamentos, número que saltou para 32 em seguida. A alta dos preços, sobretudo dos alimentos, é considerada no Planalto um dos motivos da queda de popularidade, o que é exemplificado pelos números: pesquisa Quaest divulgada no fim de fevereiro, feita em oito estados, mostrou que 90% da população identificou a elevação no preço da comida. Na semana passada, o governo anunciou o fim das taxas de importação para nove itens, como carne e café. Lula também afirmou que precisará tomar “atitudes mais drásticas” caso as medidas já definidas não surtam efeito, sem especificar que ações serão essas.

O mesmo fenômeno de aumento das aparições nas falas se repetiu em relação a palavras relacionadas ao trabalho, como “profissão”, “trabalhador” e “salário”. Na abertura da reunião ministerial realizada no dia 20 de janeiro, o presidente tratou do tema ao destacar que o governo precisa entender essa mudança na sociedade brasileira

— O povo com o qual nós estamos trabalhando hoje não é o povo dos anos 1980. Não é o povo que queria apenas ter um emprego em uma fábrica com carteira profissional assinada. É um povo que está virando empreendedor. Nós precisamos aprender a trabalhar com essa nova característica.

Lula repetiu a mesma lógica em outros momentos desde então: no dia 14 de fevereiro, em entrevista para uma rádio do Amapá, voltou a destacar que os jovens não têm mais “o sonho de assinar uma carteira profissional e trabalhar em uma fábrica”, mas de serem “empreendedores”. Uma semana depois, disse no Rio que o PT tem que mudar e voltar a conversar com a “classe trabalhadora e a periferia”.

A nova fase vem na sequência de demonstrações claras de insatisfação com a forma como as ações do governo eram divulgadas. No fim do ano passado, Lula disse que havia um “erro na comunicação” e que faria as “correções necessárias”. Um mês depois, bateu o martelo sobre a troca do deputado petista Paulo Pimenta (RS) por Sidônio na Secom. Desde o começo do governo, porém, o marqueteiro já exercia influência sobre a comunicação com visitas rotineiras a Lula em Brasília.

Empossado, o novo chefe da Secom ganhou carta branca para promover mudanças na equipe, o que o seu antecessor não tinha. Demitiu o secretário de Imprensa, José Chrispiniano, que assessorava Lula há 14 anos, e a secretária de Estratégia Digital e Redes, Brunna Rosa, próxima da primeira-dama Janja da Silva. Sidônio ainda conseguiu um lugar cativo na agenda de Lula. De segunda à sexta, às 9h, o ministro da Secom e o novo secretário de Imprensa, Laércio Portela, despacham com o presidente em seu primeiro compromisso diário.

A nova equipe defende que o petista dê mais entrevistas, o que tem acontecido especialmente para veículos do interior, em interações com tom menos crítico. Além disso, o publicitário adotou um modelo mais dinâmico e informal nas redes sociais do presidente. No dia 26 de janeiro, por exemplo, Lula gravou um vídeo na horta da Granja do Torto e abordou a inflação dos alimentos.

— O presidente vai ser sempre o motor do conteúdo do governo junto com os seus ministros — afirmou Sidônio ao jornal.

Um dos episódios mais simbólicos da mudança na comunicação de Lula foi o pronunciamento em rede aberta de televisão no dia 24 de fevereiro, com tom bastante informal. No início, o presidente disse que falaria de “uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”. Sem outro programa que tenha ganhado tração, o governo vê o Pé-de-Meia como sua principal marca.

Esse enfoque na educação também se reflete nos números dos discursos: Lula dobrou a quantidade de vezes em que citou o termo “escola” e “crianças”, por exemplo. A palavra “professor”, que tinha sido dita apenas quatro vezes, foi reproduzida em 49 oportunidades.

Não por acaso, um dos nomes que mais cresceu nas palavras do presidente foi o do ministro da Educação, Camilo Santana. Nos três meses antes da posse de Sidônio, Lula citou o titular da pasta 23 vezes. Desde então, já foram 39 citações, uma vez mais do que mencionou o ministro Fernando Haddad (Fazenda) — entretanto, em pelo menos duas ocasiões nos últimos meses, o nome de Haddad surgiu exatamente para fazer referência ao seu período no Ministério da Educação, nos dois primeiros mandatos de Lula.

Deslizes seguem

O clima de disputa eleitoral que já tomou conta do governo também teve efeito no discurso. O presidente aumentou o número de menções ao seu principal adversário político, Jair Bolsonaro (PL) — já foram dez citações diretas ao ex-presidente. Em outros momentos do governo, Lula preferia fazer referências de forma indireta, com expressões como “meu antecessor”. Nas últimas semanas, além da denúncia contra o ex-presidente pela suposta trama golpista, Lula fez comparações entre os resultados de seu governo e os de Bolsonaro.

— Nós temos uma inflação. Mas se você comparar a inflação desses dois anos do meu governo, de 7,6%, com os dois primeiros anos do Bolsonaro, vai ver (que no governo anterior) foi de 27,4%. Se você ver a inflação dos últimos dois anos do Bolsonaro, foram 22% — disse Lula em entrevista na primeira semana de fevereiro a rádios da Bahia.

O contato mais intenso com a equipe de comunicação não impediu, porém, que o presidente cometesse novos deslizes em suas falas. Na mesma entrevista a rádios, o presidente disse que o povo não deveria comprar itens com preços elevados:

— Uma das coisas mais importantes para controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e desconfia que tal produto está caro, você não compra.

Integrantes do governo reconheceram que a declaração do presidente foi equivocada e deu margem a ataques da oposição. A avaliação é que ele passou a impressão de que o governo lavou as mãos e transferiu a responsabilidade para a população.

O episódio ocorreu quando o governo ainda se recuperava da principal crise de comunicação deste terceiro mandado, provocada em janeiro pelas novas normas da Receita Federal de monitoramento do Pix, o que gerou a multiplicação de informações falsas sobre uma suposta taxação de operações. A oposição conseguiu se sobressair e gerar mais engajamento nas redes.

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