quarta-feira 26 de junho de 2024
Foto: Reprodução
Home / DESTAQUE / Lula manda pagar R$ 9 bilhões em emendas do orçamento negociadas por Bolsonaro
quarta-feira 10 de maio de 2023 às 12:31h

Lula manda pagar R$ 9 bilhões em emendas do orçamento negociadas por Bolsonaro

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu pagar R$ 9 bilhões em emendas do orçamento secreto negociadas pelo antecessor, Jair Bolsonaro (PL), que estão segundo Daniel Weterman, do Estadão, “penduradas” e foram declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O Palácio do Planalto, porém, não colocou em prática nenhum procedimento para dar transparência à negociação. As verbas serão liberadas pelos ministérios das Cidades e da Integração Nacional e Desenvolvimento Regional – R$ 333,6 milhões já foram quitados.

A decisão é mais um movimento de Lula na tentativa de acalmar o Congresso e conseguir algum conforto nas votações, após as primeiras derrotas sofridas com o Projeto de Lei das Fake News e o Marco Legal do Saneamento Básico. As verbas poderão ser pagas a conta-gotas, conforme o resultado das votações e a fidelidade dos parlamentares. Conforme o Estadão revelou, o presidente mandou pagar R$ 10 bilhões em emendas do Orçamento de 2023, mas ele é pressionado também pela liberação do saldo deixado por Bolsonaro.

Líderes do Centrão agem para manter o controle do caixa federal, pressionando o governo a preservar o esquema criado por Bolsonaro em 2019. As ameaças do bloco que dominou o Orçamento nos últimos três anos incluem não aprovar nenhuma medida provisória de Lula e tirar o sossego do presidente nas comissões parlamentares de inquérito (CPIs). Enquanto um lado pede dinheiro para votar e outro espera os votos para pagar, a crise aumentou.

Em março, o Estadão revelou que o governo Lula decidiu usar um modelo sem transparência para repassar os recursos negociados com o Congresso. A articulação ficou concentrada na Secretaria de Relações Institucionais, sob comando do ministro Alexandre Padilha. O chefe da pasta começou a sofrer uma “fritura” no Legislativo, até receber uma ordem do presidente para começar a abrir o cofre.

Na campanha eleitoral, o orçamento secreto de Bolsonaro foi duramente criticado por Lula. O então candidato petista à Presidência chegou a dizer que o mecanismo era “a excrescência da política brasileira” e o “maior esquema de corrupção da história”. Em dezembro do ano passado, mais de um ano após o Estadão revelar o esquema, o Supremo declarou o orçamento secreto inconstitucional e determinou a devolução dos recursos para o controle total do governo.

Agora, pressionado pelos parlamentares, o governo Lula decidiu liberar o saldo do orçamento secreto de Bolsonaro. São verbas para asfalto, compra de tratores e outros projetos que bancaram obras superfaturadas e desviadas para prefeituras e empresas de parentes e aliados dos políticos. Os ministérios vão pagar os recursos atendendo as mesmas indicações dos parlamentares, mesmo que informalmente e de forma secreta, o que na prática descumpre a decisão do STF.

Outro favorecido é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que negociou o rateio interno das verbas apadrinhadas pelos parlamentares e é pressionado por colegas a exigir do governo o pagamento do dinheiro. Lira cobrou pessoalmente o presidente Lula pelo pagamento das verbas “penduradas”. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também tem emendas secretas que indicou e que agora poderão ser destravadas. Ele pretende enviar R$ 960 mil para pavimentação em Papagaios (MG).

Portarias

No dia 19 de abril, o Ministério da Integração Nacional e do Desenvolvimento Regional editou uma portaria para liberar os recursos do orçamento secreto negociados em 2020, 2021 e 2022 que ainda não foram pagos. A pasta possui R$ 9 bilhões em emendas dessa modalidade do período de Bolsonaro que ainda não foram quitadas. No dia 3 de maio, a pasta das Cidades assinou uma portaria com o mesmo conteúdo, destravando R$ R$ 53,5 milhões que estão sob guarda-chuva do órgão.

O Ministério da Integração, comandado pelo ministro Waldez Góes, confirmou à reportagem que vai liberar os recursos para as mesmas obras e municípios que os parlamentares indicaram no passado e que já tiveram dinheiro liberado (empenhado, no jargão técnico). A pasta defendeu o pagamento como forma de “cumprir os compromissos firmados pela União, especialmente em relação às obras em andamento e retomada das paralisadas”.

Waldez Góes é apadrinhado pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), um interessado na liberação dos recursos. Só com uma emenda, Alcolumbre destinou R$ 95,8 milhões do orçamento secreto para pavimentação no município de Santana (AP), seu reduto eleitoral, em 2020.

Questionado pelo Estadão, o ministério enviou dois links que supostamente dariam transparência para a execução dos recursos. Nenhuma das páginas da internet, porém, oferece informações com o nome dos parlamentares beneficiados. O Ministério das Cidades, por sua vez, não respondeu às perguntas da reportagem.

Bolsonarista e opositor ferrenho do PT, o senador Márcio Bittar (União Brasil-AC) é o autor da emenda do orçamento secreto de maior valor que ainda não foi paga. São R$ 126,4 milhões para pavimentação de rodovias no Acre. “Se fosse só eu, ele passava por cima, mas é o Congresso inteiro, é deputado e senador de tudo quanto é partido”, disse o parlamentar. “Ele tinha de fazer isso. Primeiro, porque é legal. Segundo, porque não tinha mais o que fazer.”

Se fosse só eu, ele passava por cima, mas é o Congresso inteiro, é deputado e senador de tudo quanto é partido. Ele tinha que fazer isso. Primeiro, porque é legal. Segundo, porque não tinha mais o que fazer

Márcio Bittar (União Brasil-AC), relator do Orçamento de 2021

A Secretaria de Relações Institucionais, de Alexandre Padilha, afirmou que o STF autorizou, ao declarar o orçamento secreto inconstitucional, a execução das verbas “conforme orientação dos ministros de Estado titulares das pastas contempladas pelos recursos, desde que de acordo com os critérios estabelecidos para as políticas públicas de cada órgão”. O ministério, no entanto, não divulgou nenhum instrumento para dar publicidade às negociações políticas, mesmo após ter prometido dar publicidade.

Veja também

Silvio Almeida propõe acordo para monitorar sistema prisional brasileiro

Um acordo de cooperação técnica que garanta o monitoramento do sistema prisional brasileiro, com atuação …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!