Depois de alguma resistência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concordou em lançar uma carta aos evangélicos, que será apresentada na quarta-feira em um encontro do candidato ao Palácio do Planalto com representantes de igrejas pentecostais.
O texto foi trabalhado pelos núcleos evangélicos do PT e negociado com políticos ligados à religião, como as ex-ministras Marina Silva e Benedita da Silva e a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). A carta, de acordo com uma fonte, deve lembrar que o petista assinou, quando presidente, a lei da liberdade religiosa e garantir que Lula jamais fechará igrejas se eleito.
Também deve deixar claro que temas com o aborto são de alçada do Congresso, e que ele não tem intenção de propor modificações.
Os dois assuntos têm sido os principais pontos de ataque da campanha do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) contra Lula. O atual presidente repete com frequência, sem evidências, que o petista irá autorizar o aborto caso seja eleito.
Em relação ao fechamento de igrejas, a notícia falsa surgiu de vídeos feitos pelo pastor e deputado Marco Feliciano (PL-SP), que afirmava que Lula o faria, mesmo admitindo depois que não tinha informações nesse sentido.
É no segmento evangélico que Bolsonaro tem a maior vantagem nas intenções de voto em relação ao petista, segundo as pesquisas. De acordo com levantamento Ipec desta semana, Bolsonaro tem 60% das intenções de voto neste grupo, contra 32% de Lula. Já entre católicos, o petista lidera com 56%, contra 38% de Bolsonaro.
Apesar da diferença nas pesquisas, e do efeito das notícias falsas nas igrejas, Lula vinha resistindo a fazer uma carta aos evangélicos, de acordo com a fonte ouvida pela Reuters. O próprio ex-presidente chegou a dizer que se fizesse carta para um setor, teria que fazer para vários.
Depois de anunciada por aliados e adiada por duas vezes, a carta será apresentada na quarta-feira em uma reunião com cerca de 200 pastores de diferentes denominações pentecostais e neopentecostais.
A maior resistência vem do fato de Lula querer evitar uma disputa religiosa dentro da eleição. O ex-presidente fez alguns eventos com religiosos, incluindo um encontro com evangélicos no primeiro turno e um com padres católicos nesta semana, mas resiste a entrar na disputa. Recusou-se a ir a Aparecida, no feriado do último dia 12, e não aceitou o convite do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para ir ao Círio de Nazaré.
Bolsonaro foi aos dois, mas o resultado não foi positivo para o presidente, que é mais vinculado aos evangélicos. No Círio, sua presença foi rechaçada pela igreja, que reclamou do uso político, e ele ficou isolado. Em Aparecida, uma confusão feita por seus apoiadores –que puxaram vaias durante as missas, perseguiram fiéis classificados como petistas e atacaram jornalistas– prejudicou sua imagem.