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Jerônimo: “[Lula] Não vai gastar energia com nenhum comportamento que não seja o de unificar o país, de combater a fome” — Foto: Divulgação
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segunda-feira 21 de novembro de 2022 às 06:31h

‘Lula está dialogando com o Congresso e fará o mesmo com os governadores’, diz Jerônimo

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O governador eleito da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), ironizou a reação do mercado financeiro aos questionamentos feitos pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobre a adoção de medidas para garantir estabilidade fiscal mesmo quando, em sua avaliação, essas ações levam pessoas a sofrer. Jerônimo destacou em entrevista a Marcelo Ribeiro, do jornal Valor, que não houve nenhuma mudança de postura do petista e lembrou que os investidores nunca reagiram dessa maneira a declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mas em outubro de 2021, por exemplo, a disposição de Bolsonaro elevar gastos antes das eleições e manobras para driblar a regra constitucional do teto de gastos derrubaram a Bolsa, fizeram disparar dólar e juros e causaram uma debandada no time do ministro, da Economia, Paulo Guedes.

“O mercado nunca ficou assustado com o atual presidente como ficou com a fala do presidente eleito. Não havia nenhuma novidade na fala de Lula. Todo mundo sabe que Lula não defende esse teto como está. Logo o mercado vai compreender a mensagem de Lula, de unidade, de estabilidade econômica, de emprego, de investimento. Essa é a mensagem que que ele está passando”, disse Jerônimo em entrevista ao Valor.

Na semana passada, o próprio Lula reagiu e afirmou que “o mercado financeiro ficou nervoso à toa”.

O governador eleito da Bahia defendeu que o futuro presidente dialogue com o Congresso para alcançar a aprovação de uma reforma tributária, a qual ele mesmo classificou como necessária, e disse esperar que Lula busque uma forma de compensar os Estados pela redução do ICMS sobre combustíveis.

“Queríamos que Bolsonaro tivesse pactuado com governadores, mas ele não fez isso. Jogou a culpa no colo dos governadores. Lula é diferente. Ele está dialogando com o Congresso e vai fazer o mesmo com os governadores”, comparou Jerônimo.

O sucessor de Rui Costa à frente do Palácio de Ondina destacou o sumiço de Bolsonaro após a derrota nas urnas e disse acreditar que o bolsonarismo continuará, mas não terá forças para retomar o comando do Palácio do Planalto. A seguir, os principais pontos da entrevista ao Valor:

Valor: Depois do segundo turno, como foram suas conversas com Lula?

Jerônimo Rodrigues: Eu senti muita firmeza. A lucidez dele está cada vez maior em relação ao cenário político. Ele sabe do tempo curto que tem, de quatro anos de mandato. Por isso, não vai gastar energia com nenhum comportamento que não seja o de unificar o país, de combater a fome, de promover o desenvolvimento, o crescimento econômico. Firmou sua disposição em governar o Brasil com esse olhar de unidade. Vou fazer de tudo para cumprir junto com ele as promessas de inclusão e de tirar o país da fome.

Valor: O senhor esteve em Brasília na semana passada. Avançou em alguma articulação?

Jerônimo: Fui com três missões. Fui dialogar com a bancada de deputados federais e conversamos sobre o orçamento para o Estado. Foi uma boa conversa, colocamos nosso interesse em manter a interlocução durante todo o nosso governo. Também encontrei com o coordenador-geral da transição, [o vice-presidente eleito] Geraldo Alckmin, com [Aloizio] Mercad

Mercadante], com Wellington [Dias]. Pactuamos o interesse em ter sintonia entre o que o governo federal quer e o que queremos para fazer um espelhamento das políticas públicas. Fiz ainda uma visita de cortesia ao presidente da Câmara [Arthur Lira]. Foi uma agenda bastante produtiva. Indicamos que queremos manter o diálogo com o Poder Legislativo.

Valor: O senhor avalia que Lula deve alterar o teto de gastos?

Jerônimo: O teto de gastos estabeleceu um regramento injusto, foi concebido para criar um Estado mínimo e não priorizar ações de inclusão, educação, saúde pública, inclusive programas que estimulam a capacidade de investimento do país. Acho que esse é um debate que tem que ser feito com tranquilidade e será preciso um debate mais amplo com a sociedade.

Valor: Há uma preocupação em relação às contas dos Estados no próximo ano. O senhor projeta muitas dificuldades?

Jerônimo: Quero destacar o trabalho feito por Rui [Costa] com a qualidade do gasto. Vou pegar um Estado saneado, é uma vantagem. Estamos na etapa de transição. Fiz três encomendas para a minha equipe. Uma delas é a reforma administrativa. A segunda foi um diagnóstico de patrimônio, de obras e de orçamento para que possamos ver o que temos condições de fazer, o que devemos priorizar. E a terceira é um plano de trabalho apontando quais ações serão nossas apostas em 2023. Tenho certeza que será um ano difícil, mas cuidaremos para ter muita responsabilidade fiscal neste primeiro ano de gestão.

Valor: O senhor é favorável à proposta de Lula de ampliar a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil?

Jerônimo: Sou favorável. Lula já havia se comprometido em fazer essa correção justa em outros governos, mas não teve condições. Sou a favor dessa justiça tributária. Temos que ter a coragem de fazer. Quem ganha menos deve pagar menos impostos. Sabemos que isso vai ter impacto na Receita, mas também sabemos que isso aumentará a capacidade de consumo, o que movimentará a economia.

Valor: O senhor acredita que Lula vai sentar com governadores para estabelecer uma compensação aos Estados pela redução do ICMS sobre combustíveis?

Jerônimo: É claro que temos a expectativa da devolução daquilo que coube aos Estados. Foi uma ação eleitoreira de Bolsonaro para tentar jogar a população contra os governadores. Estamos cumprindo a lei, mas a expectativa de receber o combinado está posto. O Lula haverá de fazer os estudos e nós não vamos colocar no colo dele essa responsabilidade de imediato. Temos que conversar e ver qual o plano de Lula para os Estados terem uma compensação.

Valor: Os senhores já estão mais otimistas em relação a isso?

Jerônimo: A nossa expectativa é de melhora. Com Lula, estamos vendo o esforço dele para garantir o Bolsa Família. Vai melhorar o consumo, a arrecadação, vai dinamizar a economia, o que nós não víamos no presidente Bolsonaro. Queríamos que Bolsonaro tivesse pactuado com governadores, mas ele não fez isso. Lula é diferente. Ele está dialogando com o Congresso e vai fazer o mesmo com os governadores.

Valor: O senhor vê espaço para Lula fazer uma reforma tributária?

Jerônimo: Lula volta forte e dará bastante autonomia ao Congresso. Ele terá que tratar a necessidade de fazer uma reforma tributária, mas será preciso fazer isso em diálogo com o Congresso. É preciso ter paciência. Precisaremos ver o ambiente político para a aprovação de medidas importantes para o país.

Valor: Otto Alencar, Jaques Wagner e Rui Costa foram seus principais cabos eleitorais. Acha que eles terão espaço na Esplanada de Lula?

Jerônimo: Existe no nosso time um conceito de grupo político, não de cacique político. A escolha dos ministros é de Lula, mas os três têm capacidade de colaborar com Lula e de serem bons ministros. Se o Lula precisar dos três, contará com bons técnicos e bons políticos para ajudar a governar o país.

Valor: Em sua avaliação, qual será o papel político de Bolsonaro após a derrota na corrida presidencial?

Jerônimo: A ausência de Bolsonaro causa uma grande interrogação. Sabe aquelas crianças que, quando somem, podem estar aprontando alguma coisa? A gente fica com essa sensação. Nos corredores do Congresso, eu senti que há um certo alívio, porque não tem alguém articulando contra. Quando um líder fica sozinho, ele desaparece. Um líder sempre tem companheiros, parceiros. Bolsonaro é um homem sozinho, ele não tem time. A capacidade de liderança dele foi destruída pelo seu comportamento, por sua ausência em momentos que o país precisava dele, como ocorreu durante a pandemia. O Brasil foi vendo que ele não é um líder com a competência que precisamos.  Agora, com esses atos antidemocráticos, ele apareceu uma ou duas vezes, com a cabeça baixa. Um líder não pode ser assim. Minha expectativa é que ele não lidere o bolsonarismo ou nenhum movimento. Minha expectativa é que ele possa desaparecer enquanto figura que possa liderar. Não falo como torcedor, mas pelo que estou vendo. Lula é completamente diferente. Mesmo quando estava preso ele emanava energia de liderança.

Valor: Apesar da derrota de Bolsonaro, o senhor reconhece que o bolsonarismo saiu fortalecido das urnas? Isso preocupa para o futuro?

Jerônimo: Bolsonaro foi beneficiado por uma parte que não tinha concepção bolsonarista, mas, por não gostar do PT, apostou no bolsonarismo por ausência de uma terceira via. Não dá para negar que existam pessoas com a concepção bolsonarista. Existem essas pessoas protestando em frente aos quartéis pelo país, resistindo de forma irresponsável contra a democracia. Isso não me amedronta. Acho que o bolsonarismo teve quatro anos de vida e os conceitos continuarão por mais alguns anos. Mas não vejo força de voltar da mesma forma com que Bolsonaro chegou à Presidência. Vamos trabalhar para que a democracia saia fortalecida desses quatro anos de Lula na Presidência. Quero contribuir para a unidade do país.

Valor: O que o senhor achou da reação do mercado à fala de Lula na semana passada?

Jerônimo: O mercado deveria estar preocupado com Bolsonaro. O mercado nunca ficou assustado com o atual presidente como ficou com a fala do presidente eleito. Não havia nenhuma novidade na fala de Lula. Todo mundo sabe que Lula não defende esse teto como está. Logo o mercado vai compreender a mensagem de Lula, de unidade, de estabilidade econômica, de emprego, de investimento. Essa é a mensagem que ele está passando. Se o mercado reagiu assim, ainda é resquício de uma ala bolsonarista que não gosta do PT e do Lula. Já já essa fatia do mercado vai ser mínima, porque Lula tem palavra.

Valor: O que o senhor está achando da dobradinha de Lula e Alckmin?

Jerônimo: Os dois estão trabalhando para recuperar a imagem do Brasil. Ambos são maduros. Eles não são iguais. Essa união tem um motivo: melhorar o país.

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