A uma semana do segundo turno das eleições, as campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) cantam vitória em um terreno considerado crucial na definição do resultado, o estado de Minas Gerais.
Enquanto aliados do presidente dizem que o apoio do governador Romeu Zema (Novo) e a pressão sobre prefeitos do interior já surtiram efeito, petistas dizem que todas essas ações não têm potencial para mover votos de forma significativa e que a distância obtida por Lula no primeiro turno, de cinco pontos percentuais, se mantém.
A Folha conversou nos últimos dias com vários integrantes das duas campanhas no estado, que foi palco simultâneo de atos de Lula e de Michelle Bolsonaro, que lidera uma caravana pelo país na tentativa de diminuir a resistência ao marido por parte do eleitorado feminino.
As afirmações feitas pelos dois lados são amparadas pelo argumento de que o cenário reflete a impressão colhida pelos políticos em suas bases, além das pesquisas internas que todas as campanhas contratam no período de eleição.
“Em todas as regiões nós estamos conseguindo o avanço que a gente precisava. Temos convicção hoje de que o estado já virou”, afirma o vice-governador eleito de Minas Mateus Simões (Novo).
Ele diz que essa é a avaliação de deputados, vereadores e prefeitos aliados. “A nossa impressão clara é que o interior reagiu muito bem, que no norte caiu a vantagem do PT. Nas grandes cidades, em todas estamos trabalhando com perspectiva de virada efetiva. Na região metropolitana, essa perspectiva é real.”
Desde o final do primeiro turno, Zema declarou apoio a Bolsonaro, o que foi tratado como importante ativo pela campanha do presidente. O governador reeleito tem participado de eventos, gravado depoimentos e feito reuniões com prefeitos para que eles tentem virar votos em suas cidades a favor da reeleição do presidente.
Nos eventos político-religiosos que comandou em Minas, Michelle e parlamentares bolsonaristas que a acompanham na caravana também afirmaram que “Minas virou”, o que se tornou um bordão nesses eventos.
Michelle foi a estrela nesta sexta (21) e no sábado de atos em Almenara, Governador Valadares, Ribeirão das Neves, Belo Horizonte, Ubá e Uberaba.
Na capital mineira, algumas milhares de apoiadores acompanharam o comício às margens da Lagoa da Pampulha, na manhã deste sábado (22), o que havia sido anunciado previamente como o “dia da virada”.
Zema subiu com Michelle no carro de som, mas não discursou.
Em sua fala, a primeira-dama tomou as dores do aliado, que foi atacado por petistas, puxando um coro “mexeu com Zema, mexeu comigo”, voltou a misturar religião e campanha, atribuindo características divinas ao governo do marido e à sua candidatura, além de repetir afirmações falsas de que o Brasil estaria sob ameaça comunista caso o PT vença a disputa.
Candidato a deputado federal mais votado no país, o vereador Nikolas Ferreira (PL) não foi ao evento, mas fez uma participação por meio de uma ligação de vídeo. O senador eleito Cleitinho (PSC) tinha confirmado presença, mas também não foi afirmando ter tido um problema de saúde.
A batalha por votos em Minas se tornou prioridade das duas campanhas nessa reta final. Além de o estado reunir o segundo maior eleitorado do país, desde a redemocratização todos os eleitos também triunfaram nas urnas mineiras.
“Acho que Minas está consolidado, a gente está trabalhando e tem notado que provavelmente o que vai acontecer é que o Lula deve abrir uma vantagem maior em Minas, como abriu na Bahia e abriu no Pará”, diz o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), derrotado por Zema na disputa ao governo.
“Esse zum-zum-zum (de virada pró-Bolsonaro) a gente não sente na rua, no dia a dia e nem na pesquisa interna. Está muito consolidada a vitória do Lula em Minas Gerais.”
Kalil, que tem recebido aliados da região metropolitana de Belo Horizonte diariamente em seu escritório, afirma que continua engajado na campanha de Lula e que agora está dando uma atenção especial à capital e à região metropolitana, o que não teria feito no primeiro turno em razão da tentativa de elevar suas intenções de voto no interior.
O deputado federal Paulo Guedes (PT), cujo reduto eleitoral é no norte de Minas, que proporcionalmente mais deu voto a Lula, também afirma que as ações de Zema na região não têm surtido efeito.
A passagem de Bolsonaro por Montes Claros na terça-feira (18) foi marcada por sua participação num evento lotado, um ato no Parque de Exposições com milhares de pessoas, e um esvaziado, uma reunião com prefeitos da região convidados por Zema.
“Em uma região que tem mais de cem prefeitos, só vieram 22, e a maioria veio só para agradá-lo [a Zema], mas não vai fazer campanha de fato nas suas cidades. Os poucos que de fato gravaram vídeo e estão pedindo voto para o Bolsonaro estão sendo escrachados pela comunidade local”, diz Paulo Guedes.