Todas as mais recentes pesquisas eleitorais apontam Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno na disputa pela Presidência da República. A pouco mais de seis meses para as eleições, em outubro, analistas no Correio Braziliense, não cravam uma “decisão” entre Lula versus Bolsonaro, mas avaliam que o cenário dificilmente sofrerá grandes alterações.
Desde a nova República, as eleições brasileiras costumam ter um formato triangular, que é quando três candidatos atingem dois dígitos na disputa eleitoral. Em 2018, além de Jair Bolsonaro (46,03%) e o petista Fernando Haddad (29,28%), Ciro Gomes (PDT) atingiu 12,47% dos votos.
Devido à polarização, as eleições de 2022 podem ter os dois líderes nas pesquisas disparados na frente dos candidatos da chamada “terceira via”. Um dos principais indicadores deste favoritismo está na chamada “intenção de votos espontânea”, quando o eleitor responde o candidato que quer votar sem que o entrevistador apresente as opções.
Na última pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) divulgada semana passada, apenas cinco nomes foram lembrados espontaneamente: Lula atingiu 36% das intenções espontâneas de voto, enquanto Bolsonaro chegou a 26%; Sergio Moro alcançou 5%; Ciro Gomes marcou 4%; e João Doria, 1%.
“Esses números sugerem uma razoável consistência na preferência pelos dois primeiros nomes, mas todas essas observações não podem ser concluídas com a ideia de que o quadro é definitivo e inalterável. Obviamente nós estamos a seis meses da eleição e qualquer raciocínio de que o cenário é inalterável é precipitado e enviesado, mas o que podemos dizer e analisar é que você tem dois candidatos a competição ainda se dá num formato bipolar que você tem dois candidatos com uma larga dianteira sobre os demais”, explicou o presidente do Conselho Científico do Ipespe e diretor-presidente da MCI-Estratégia, Antonio Lavareda.
Na avaliação do professor e mestre em ciência política Valdir Pucci, por mais que Lula e Bolsonaro sejam os nomes mais conhecidos pelo eleitor e estejam polarizando a disputa, ainda não dá para descartar outra possibilidade.
Pucci lembra que já aconteceu de candidatos com baixos índices de intenção de voto conseguirem viabilizar candidaturas presidenciais e principalmente estaduais — como o próprio governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que venceu a disputa pelo Buriti em 2018 —, mas caso isso ocorra, será durante o período de campanha, pois os candidatos da chamada terceira via estão perdendo o “timing”. “Enquanto Lula e Bolsonaro falam sozinhos para a população, a terceira via faz um diálogo para dentro, tentando achar um nome de consenso, além do Ciro Gomes correndo por fora. Isso acaba atrasando o início de fato de outro nome que não seja Lula e Bolsonaro, como os números de hoje nas intenções de voto indicam”, disse.
Congresso
Se entre os especialistas há consenso de que ainda é cedo para cravar Lula e Bolsonaro, entre políticos a discussão teve diferentes caminhos, influenciados em alguma medida por sua posição ideológica ou política. Crítico de Bolsonaro, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PSD-AM), avalia que um cenário diferente no segundo turno como “muito difícil”, mas, caso ocorra, o presidente é quem tem mais chances de sair da disputa. “Eu acho muito difícil uma mudança de cenário que viabilize uma terceira via. A única possibilidade de isso acontecer é uma piora cada vez maior da situação econômica e social do país. E isso pode fazer Bolsonaro desidratar tanto ao ponto de um candidato de direita mais moderado parecer viável, mas não acho que isso esteja no horizonte de hoje”, comentou.
O deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), que se define como um político de direita, faz fortes críticas tanto a Lula e ao PT quanto ao governo Bolsonaro. De acordo com o parlamentar, a população quer fugir da polarização, mas para isso é preciso que a terceira via se estruture. “Se escolher uma terceira via que tenha um projeto Brasil linear, com credibilidade, com tempo de TV e encorpamento político e partidos que possam ter capilaridade para manter campanha do norte ao sul e este político escolhido for preparado e tenha um projeto de Brasil, ele pode conseguir tirar um dos dois”, afirmou.