Líderes nas pesquisas de intenção de votos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) correm risco segundo Matheus Teixeira, Marianna e Holanda Julia Chaib, da Folha, de ficarem sem palanque em ao menos dez estados cada um em eventual segundo turno.
Os eleitores vão às urnas daqui a duas semanas. Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (15), Lula tem 45% contra 33% de Bolsonaro.
Caso o cenário de segundo turno se confirme, os presidenciáveis trabalham para ter o máximo de palanques estaduais possível para dar base de sustentação no enfrentamento que definirá o próximo chefe do Executivo.
Levantamento feito pela Folha com base em pesquisas de intenção de votos e na expectativa dos partidos em cada unidade da federação mostra que o ex-presidente, apesar de estar à frente, deverá ter dificuldade em mais estados do que Bolsonaro: o petista corre risco de ficar sem palanque em 12 estados, contra 10 do atual presidente.
O movimento ocorre em todas as regiões, com exceção do Nordeste, em que apenas no Piauí, hoje governado por um petista, Lula pode ficar sem palanque. Lá, as pesquisas apontam que o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (União Brasil), ligado ao chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), tem chance de ganhar já no primeiro turno.
Embora Rafael Fonteles (PT) tenha um bom patamar de votação, não há outros candidatos competitivos na disputa, o que facilita um cenário em que o pleito termina já na primeira etapa.
No Sul, região em que o mandatário tem voto mais consolidado, Lula pode ficar sem apoio de postulantes ao governo na segunda etapa da eleição nos três estados. Seja porque pode acabar no primeiro turno com uma vitória bolsonarista, como no Paraná, seja porque nenhum candidato competitivo pode permanecer na disputa.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, Eduardo Leite (PSDB) lidera as pesquisas de intenção de voto e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) aparece em segundo. Caso o cenário siga assim, Onyx tentará usar Bolsonaro para crescer, enquanto Leite não deve entrar na campanha do petista.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, quem corre risco é Bolsonaro. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) está em primeiro. O ex-ministro Tarcísio de Freitas, candidato de Bolsonaro, está em segundo lugar, mas, de acordo com as pesquisas, empatado tecnicamente com o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB). Ou seja, resta indefinido quem protagonizará o segundo turno.
Caso Garcia tenha sucesso, aliados acreditam que ele se manterá independente, o que deixará Bolsonaro sem palanque no estado mais populoso do país.
Em Minas Gerais, onde os dois deram início oficial à campanha eleitoral em agosto, o cenário é mais preocupante para Lula.
O primeiro colocado é Romeu Zema (Novo), o segundo é Alexandre Kalil (PSD), apoiado pelo petista, e o terceiro é o nome de Bolsonaro, o senador Carlos Viana (PL).
No entanto, há chance de Zema se reeleger já no primeiro turno. Neutro até o momento, ele é próximo ao Planalto e, segundo aliados do presidente, poderia apoiá-lo num eventual segundo turno contra Lula.
Até em estados em que Bolsonaro tem aliados relevantes ele corre risco de ficar sem palanque. Esse é o caso do Rio Grande do Norte, terra natal de dois nomes que já integraram o primeiro escalão do Executivo federal, Fábio Faria (Comunicações), que prossegue no governo, e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que se afastou para disputar uma vaga ao Senado.
Lá, quem está na frente e pode ser reeleita no primeiro turno é a governadora petista Fátima Bezerra.
Na corrida pela cadeira de senador, Marinho está atrás em pesquisas de intenção de voto do candidato do PDT, Carlos Eduardo.
A mesma expectativa de apoio nacional no segundo turno que existe em Minas Gerais, após eventual vitória do governador em reeleição, ocorre no Pará, mas com Lula.
Helder Barbalho (MDB) desponta como favorito para conseguir um segundo mandato. Sua candidata é a correligionária Simone Tebet, mas, diante de uma disputa entre Bolsonaro e Lula, ele deve ajudar a campanha do petista.
Historicamente reduto petista, Pernambuco tem maioria de candidatos mais próximos a Lula. O mandatário consegue ter palanque apenas caso Anderson Ferreira (PL) continue disputando a segunda vaga contra Marília Arraes (Solidariedade), apoiadora do petista. No entanto, a vaga de Ferreira no segundo turno está longe de estar garantida.
Petistas dizem que ainda não foi feita uma avaliação precisa sobre o mapa eleitoral do segundo turno e que se debruçar sobre esses dados agora seria trabalhar em cima de situação muito hipotética.
Aliados de Bolsonaro também minimizaram a necessidade de palanque nos estados. A avaliação deles é a de que, com a popularidade em alta e um eleitor fiel, o presidente puxa mais eleitores do que candidatos locais.
A Bahia, no entanto, é um caso em que correligionários reconhecem que o chefe do Executivo precisava de alguém que pudesse defender seu governo no estado. Por isso, Bolsonaro insistiu no lançamento do seu ex-ministro da Cidadania João Roma.
No jargão bolsonarista, Roma foi cumprir uma missão no estado. A Bahia é a única unidade da federação em que os dois principais presidenciáveis têm candidatos e eles devem perder. Desponta nas pesquisas de intenção de voto o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil).
Apesar de o estado ser historicamente petista, ACM conseguiu deixar o cargo com alta aprovação, congregando votos dos dois lados da polarização, e se beneficia do histórico político da família, que governou o estado por muitos anos com Antônio Carlos Magalhães.
O candidato petista, Jerônimo Rodrigues, porém, cresceu 12 pontos percentuais e reduziu a diferença entre os dois, segundo a última pesquisa Datafolha, e isso levou aliados a acreditarem que ele vai para o segundo turno. Nesse cenário, Lula teria palanque contra Bolsonaro.
Já no Acre o atual governador Gladson Cameli (PP) teve mais de 50% de intenções de voto em pesquisas, o que pode desbancar o segundo colocado da corrida, Jorge Viana (PT). Dessa forma, Bolsonaro teria palanque ainda mais forte, se seu candidato já estiver eleito.
O Nordeste, região em que o chefe do Executivo tem maior dificuldade eleitoral, é também onde ele pode ficar sem palanques em outubro. Sergipe, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco e Paraíba têm candidatos pouco ou nada competitivos do campo bolsonarista.
Como a Folha mostrou, o último levantamento do Datafolha reforçou entre as campanhas o desejo de intensificar esforços na região Sudeste. Lula e Bolsonaro podem se ver em situação arriscada em dois dos maiores colégios eleitorais.
O ex-presidente viu sua vantagem aumentar em terras paulistas e fluminenses. Bolsonaro, por sua vez, ganhou terreno entre os mineiros.