O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao Canal Rural exibida nesta última quarta-feira (21), que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia será fechado em seis meses caso ele seja eleito em outubro para retornar ao Palácio do Planalto.
“Seu eu ganhar as eleições eu vou tomar posse e nos primeiros seis meses nós vamos concluir o acordo com a União Europeia. Um acordo que leve em consideração a necessidade do Brasil voltar a se industrializar”, disse Lula. “É preciso esse acordo.”
O acordo foi fechado em 2019 após 20 anos de negociações, mas sua entrada em vigor depende do aval dos Parlamentos dos países europeus, ponto que não avançou diante da pressão dos europeus alegando piora de indicadores ambientais do Brasil durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), que é candidato à reeleição.
No mês passado, representantes da União Europeia buscaram o governo brasileiro, por meio do Itamaraty e do Ministério da Economia, com o objetivo de avançar nas negociações sobre o acordo com o Mercosul, após longo período de tratativas paralisadas.
Na entrevista ao Canal Rural, Lula afirmou ainda que o Brasil não precisa desmatar mais nada para aumentar sua produção agropecuária, e chamou de “gente grotesca” aqueles que ainda derrubaram árvores.
“Esse negócio do desmatamento é gente grotesca que não tem respeito pela própria produção que ele faz, porque ele pode se prejudicar. O mundo está muito exigente, o mundo cada vez querendo exigir e nós também aqui dentro queremos comida mais saudável”, disse Lula, que voltou a defender também o uso de terras degradadas para aumentar a produção.
O ex-presidente defendeu que não é uma questão de o governo proibir o desmatamento, mas também de mostrar como é possível fazer. “As pessoas precisam entender que não é preciso desmatar tanto, que a gente pode produzir em terras menores.”
Lula foi questionado ainda sobre os rumores de que sua equipe estaria analisando a possibilidade de intervenção em exportações, como fez a Argentina, que controlou a saída de carne do país, e garantiu que qualquer país que quiser adotar medidas desse tipo irá “quebrar a cara”.
“O que está faltando no Brasil é o povo ter o poder aquisitivo para poder comprar carne. Na hora que o povo tiver o poder aquisitivo, quem produz a carne vai vender no mercado interno. Se você tentar fazer uma intervenção e bloquear vai quebrar a cara mesmo. Quebra a cara do Brasil, quebra a cara do negócio e quebra a cara da sua respeitabilidade no mundo”, afirmou.
Depois de dizer, em entrevista ao Jornal Nacional, que parte do agronegócio tem comportamento fascista, Lula explicou que não estava se referindo a todo o agronegócio, mas reafirmou que parte dos produtores têm essa postura.
“Dentro do agro tem dezenas de pensamentos políticos e ideológicos. O agro não é uma coisa só, como o PT não é uma coisa só, como o centrão não é uma coisa só. Você tem gente mais democrática, mais a esquerda, mais ao centro, mais à direita, você tem gente ultra-direita, tem gente com comportamento fascista e tem gente com comportamento democrático”, afirmou.
Lula ressaltou que, em seus oito anos de Presidência, sempre teve uma relação muito civilizada com o setor, mas disse que recentemente surgiram pessoas com um discurso de ódio.
“Tem gente que tem discurso fascista e tem gente que tem discurso altamente democrático. Tem empresário que quer desmatar de qualquer jeito e tem empresário que tem responsabilidade, gente que tem vocação de negócio de verdade”, afirmou, defendendo que jamais faria uma generalização.